3. Percepções

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Naquela mesma noite, Orlando foi surpreendido quando chegou em casa com a recepção calorosa de sua filha Clara.

— Oi pai, estava com saudades!

— Oi princesa, eu também. Como você está?

— Eu estou bem. Muito animada, estou amando as aulas na faculdade de enfermagem. Mas vejo que quem também está muito bem é você. O que houve?

Clara havia percebido logo de cara um ar de felicidade na feição de seu pai, coisa que não via desde quando sua mãe estava viva.

— Como assim, minha filha? Não houve nada.

Orlando sem perceber abriu um sorriso ao se lembrar de Hilda, mas ainda achava muito cedo para comentar sobre seus novos sentimentos com seus filhos, nem Hilda sabia ainda. Se algum dia eles viessem a ter um relacionamento, contaria.

— Tá bom, pai. Vou fingir que acredito, tá bem? — Clara sorriu e puxou o pai para a cozinha. — Vem, pai. Preparei uma jantinha especial pra nós.

— Hum, o cheiro está delicioso. Cadê seu irmão? Ele não vem jantar?

O sorriso de Clara logo murchou.

— Não, pai. Ele disse que ia jantar no restaurante da Liana.

— De novo? Ele só jantou com a gente uma vez desde quando nos mudamos. Tenho que conversar com ele.

— Pai, dá um tempo pro Lucas.

— Tudo bem, minha filha. Mas me dói o coração ver meu filho com raiva de mim. Já expliquei o porquê de ter feito o que fiz.

— Eu sei, pai. — Clara deu um abraço em Orlando. — Eu entendi o seus motivos, e os motivos da mamãe para te pedir aquilo. Acredito que tenha sido o melhor. Ela estava sofrendo muito.

Clara e Orlando se emocionaram ao se lembrar de Suzana.

— Bom, então vamos jantar pai. Preparei uma lasanha de frango.

— Princesa, você me conhece mesmo. Minha preferida.

— Eu sei.

Os dois jantaram, aproveitaram o momento para pôr o papo em dia. Afinal, não se viam todos os dias devido aos plantões de Orlando e a faculdade de Clara. Mesmo em meio a conversas e risos, ela não deixou de perceber que seu pai estava diferente, com um certo brilho no olhar. Mas resolveu deixar quieto, se fosse algo importante ele falaria.

***

Hilda colocou sua camisola branca de cetim e se deitou ao lado de Tinoco.

— Como foi o seu dia, meu bem? Chegou tarde hoje.

— O mesmo de sempre.

Tinoco foi curto e grosso. Ainda estava irritado por ter perdido a manhã de trabalho por causa de Hilda.

— Meu bem, eu já lhe pedi desculpas.

— Desculpas Hilda, não devolve as horas que perdi no trabalho por sua causa.

— Já disse que não fiz por mal.

— Tá, tá Hilda. Chega de blábláblá, eu quero dormir.

Ele se virou, ficando de costas para Hilda. Desligou seu abajur e dormiu.

Hilda ficou chateada, não gostava da forma grossa como Tinoco a tratava. Mas diferente das outras vezes, a chateação passou rápido quando ela se pegou pensando em Orlando.

***

Dois dias se passaram desde o último encontro de Hilda com Orlando.

Era uma manhã quente em Marimbá, Hilda estava na varanda de sua casa lendo um livro do Machado de Assis, quando o telefone tocou.

Coragem - Hilda & OrlandoOnde histórias criam vida. Descubra agora