Refúgio

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Depois de ficar a maior parte da tarde em meu quarto, decido descer e comer algo. Quando chego na cozinha, Mamãe está radiante, preparando cada detalhe do jantar especial que estava prestes a dar em casa. Ela havia convidado alguns amigos, pessoas que ela admirava e que queria compartilhar uns momentos. Ao ver  papai na sala, sentado calmamente lendo o jornal, ela se aproximou e fez o convite:
- Querido, convidei alguns amigos para jantar hoje à noite. Você se importa?
Ele sorri e concorda, feliz em receber novas companhias em casa. Ela então se aproxima de mim que estou sentada em uma cadeira do balcão com meus fones no ouvido e com carinho avisa sobre os convidados que estavam por vir.
Fico feliz por ela ter falado comigo e principalmente de um jeito tão amoroso, apenas eu digo que será ótimo e dou um sorriso animada. Ela sobe por alguns minutos e se arruma e em seguida desce para a sala, onde os convidados já se encontravam reunidos. Eu e papai trocamos olhares às vezes, sorrisos que só nós dois entendemos o significado. O jantar transcorreu de forma amigável, com risadas e conversas animadas. No entanto, durante a refeição, mamãe começou a fazer comentários ácidos e humilhantes em direção à mim, sem motivo aparente. Fico envergonhada e magoada, tentava disfarçar o desconforto, mas as palavras cortantes dela me atingiam em cheio. Em um momento de extrema humilhação, me levanto da mesa, deixando escapar algumas lágrimas, e corro para meu quarto. Papai, surpreso com a atitude dela, pediu desculpas aos convidados, explicando que algo havia saído do controle e pedindo que todos se retirassem. Enquanto os amigos se despediam, ele veio até meu quarto, onde me encontra soluçando baixinho. Ele me abraça, pedindo desculpas pela situação constrangedora e prometendo que aquilo não se repetiria.
Ainda abalada, consigo encontrar consolo nos braços dele, que me protege e cuida de mim nesta noite turbulenta.

_ Dormi comigo, papai?

_ tudo que eu mais queria era dormir e acordar do seu lado todos os dias, mas não posso, minha bonequinha. Ainda mais hoje que sua mãe está assim.

Me sinto mal, mas compreendo o
que ele diz, realmente seria muito perigoso. Ele me dá um beijo demorado, cheio de ternura e sai me deixando ali enrolada no meu cobertor.

Era uma noite escura e silenciosa, finalmente tinha conseguido conter minhas lágrimas, quando mamãe entrou em meu quarto, movida pela necessidade de despejar suas frustrações e buscar algum tipo de poder sobre sua própria criação.
Sem pestanejar, ela começa a proferir suas habituais críticas e palavras ásperas, mas desta vez algo havia mudado em mim. cansada de ser alvo de humilhações e degradações, me levanto da cama com uma postura firme e corajosa.

“Chega, mãe”, digo com a voz firme e com os olhos marejados. “Me deixa em paz.” Neste momento, papai entra e pergunta “o que está acontecendo?”, Quando papai finalmente consegue acalmar a situação  mamãe se retira furiosa para o quarto, eu permaneço no mesmo lugar, como se estivesse enraizada ao chão. O beijo afetuoso que ele deposita antes de sair em busca da mãe deixou um gosto agridoce em minha boca, uma mistura de carinho e tristeza que não consigo decifrar. Volto para a cama, mas parece que o sono simplesmente não vem. Meu coração está tão apertado,  ainda ouço cada palavra dura que mamãe me disse, e as lágrimas silenciosas escorrem, testemunhas mudas da tristeza profunda que me envolve. Sozinha novamente em meu quarto, me vejo enredada em um emaranhado de emoções confusas. Me sinto abandonada por minha mãe, magoada pelas palavras duras trocadas, e ainda assim um estranho sentimento de alívio me invade, como se a tensão acumulada tivesse encontrado uma válvula de escape em minha solidão. Perdida em meus próprios pensamentos, luto para entender minhas emoções, questionando-se se a raiva e a mágoa que sinto poderiam ser transformadas em algo mais, algo que me libertasse da sensação de vazio e abandono que me consumia. Em um momento de fraqueza, a ideia absurda de me vingar de minha própria mãe atravessa minha mente, trazendo consigo um turbilhão de sentimentos contraditórios e proibidos. Me sinto uma estranha em minha própria casa, uma viajante perdida em um terreno desconhecido, desejando ardentemente encontrar um porto seguro para acalmar a tempestade interna que me assola. O silêncio que ecoa em meu quarto é ensurdecedor, preenchido apenas pelos suspiros contidos de uma alma solitária em busca de compreensão e conforto.




(Na Manhã Seguinte…)

Estou sentada em minha carteira na sala de aula, observando a professora anunciar um trabalho em dupla. Respiro fundo sabendo que isso pode me colocar em uma situação desconfortável na hora de escolher um parceiro. Mas inesperadamente Erik se aproxima de minha mesa com um sorriso cativante no rosto. “Olá, Sabrina. Acho que seria legal trabalharmos juntos nesse projeto, o que você acha?” Diz ele, com um tom amigável.
Sinto um nó se formar em meu estômago diante da proposta. Não tenho ideia do que responder, me sinto totalmente perdida com essa situação. “Ah, eu não sei…” Digo, hesitante.  Erik não parece se importar com minha resposta negativa inicial e continua a conversa, contando algumas piadas e fazendo comentários engraçados que acabam me fazendo sorrir involuntariamente. Sinto as tensões se dissipando aos poucos e uma sensação de leveza se instalando em minha mente. Entre risadas, eu finalmente acabo cedendo. “Bem, acho que não seria uma má idéia trabalharmos juntos, afinal.” Digo, com um sorriso tímido no rosto. Os olhos dele se iluminam. “Ótimo! Podemos nos encontrar na sua casa depois da aula para começarmos o trabalho?”, ele sugere com entusiasmo. Por mais que eu estivesse com um receio inicial, acabo concordando. “Sim, claro. Seria legal!” respondo surpreendentemente animada com a ideia. Enquanto a aula prosseguia eu e Erik discutimos os detalhes do trabalho, trocando ideias e rindo juntos. Me pego admirando a sinceridade Erik e a forma como ele me fazia se sentir à vontade, algo que eu nunca havia experimentado com nenhuma amizade antes.







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