Dilema da escuridão

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Na volta para casa ficamos em silêncio o caminho todo, e assim que papai estaciona em frente a casa, desço. Entro e vou direto para meu quarto, fecho a porta com cuidado, as palavras ditas por ele dentro daquele lugar ainda ecoavam em minha mente. Me jogo na cama e fico encarando o teto, perdida em meus pensamentos e minhas emoções conflitantes. O que aconteceu entre eu e papai está noite ainda parecia um enigma indecifrável. As palavras  trocadas, o desejo em seus olhos, a tensão no ar... tudo isso mexeu com meu coração de de uma maneira que não consigo entender bem. Me sinto culpada e confusa, tentando entender o que poderia ter feito para provocar aquela reação em meu pai. Será que eu o provoquei de alguma forma? Estamos traindo a mamãe. Eu, sua própria filha.  As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, silenciosas e desesperadas. Não sei como irei lidar com esse turbilhão de emoções e pensamentos tumultuados. O nó em minha garganta parecia cada vez mais apertado, sufocando-me lentamente. E assim, na solidão do meu quarto, me vejo sendo confrontada pela verdade dolorosa de que as relações familiares nem sempre são perfeitas e os laços de sangue nem sempre são suficientes para impedir de causar feridas emocionais.  Sabia que teria que enfrentar papai mais cedo ou mais tarde, mas nesse momento, minha mente e coração estavam ocupados demais com a dor e a confusão para dar o primeiro passo.

No dia seguinte acordo mais cedo que o normal para não me encontrar com ele, e vou direto para a escola. Sempre me sentir deslocada no colégio. Sempre fui reservada, evito chamar a atenção e prefiro passar despercebida pelos corredores lotados. As meninas populares me ignoram, os meninos apenas cochicam fazendo piadas e eu me refujo no cantinho mais isolado da biblioteca.

Já tinha ouvido as outras meninas dizendo que tinha um garoto novo no colégio, mas não liguei. Ate que eu o vejo. Ele é alto, com cabelos rebeldes e um sorriso acolhedor no rosto. Todos logo notaram sua presença, mas ele parecia não se importar com as convenções sociais. Ele se sentou ao meu lado na hora do almoço e começou a puxar assunto, tentando me conhecer melhor. Mas digo a ele que não estou interessada e ele simplesmente sai me deixando sozinha novamente.

Estávamos na aula de geografia, eu sentada em meu canto na sala de aula, perdida em meus pensamentos e evitando contato visual com os demais alunos. Eu podia sentir os olhares curiosos e os sussurros ao meu redor, mas prefiro ignorar tudo aquilo e se concentrar em minhas próprias reflexões.

Foi então que, durante uma discussão acalorada sobre o tema da aula, que me vi encurralada por uma pergunta complicada feita pelo professor.  Tento reunir minha coragem para responder, mas as palavras pareciam travadas em minha garganta, incapazes de sair.

Neste momento de tensão e desconforto, o garoto novo, que eu havia conhecido recentemente, levantou a mão e pediu a palavra. Com uma simplicidade elegante, ele explicou o conceito complicado de forma clara e concisa, resolvendo a questão que havia me deixado em apuros.

Olho surpresa para o garoto, agradecida pelo gesto inesperado de ajuda. Ele sorri de volta, como se dissesse que estava ali para me apoiar, mesmo quando não percebia. Naquele momento, começo a perceber que talvez a presença dele não fosse tão ruim assim.

Após a aula, o garoto se aproxima e pergunta se está tudo bem. Eu assenti, agradecida pela sua intervenção oportuna. Ele apenas sorri novamente, mostrando que estava ali para me ajudar de alguma maneira, mesmo que eu ainda não estivesse pronta para aceitar sua amizade. E assim, ficamos conversando mais um pouco até o meu motorista chegar. 

Ao chegar em casa, passo em frente ao escritório do papai e noto que a porta estava entreaberta. Hesito por um momento, mas ao ouvir sua voz firme me  chamando para entrar, decido acabar com isso de vez.

Sentada em frente à mesa de mogno escura, vejo ele me encarando com uma expressão séria. Me sento, esperando pelo o que viria a seguir.

“Filha, precisamos conversar”, começou ele.  fazendo com que meu coração acelerasse. Olhando-o atentamente, esperando por suas palavras.

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