Sombras do Passado

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A noite ainda estava impregnada na minha pele quando abri a porta de casa. O silêncio era quase palpável, como se a casa estivesse suspensa em um estado de espera. Meus pés descalços deslizaram pelo chão de madeira, e o som abafado dos meus passos ecoou pelo corredor. Meu coração, que antes batia acelerado pela emoção e adrenalina da noite com Dylan, agora começava a se acalmar. Olhei em volta, procurando sinais da presença do meu pai. O alívio inundou meu peito ao perceber que ele não estava lá.

Subi as escadas apressadamente, com a intenção de chegar ao meu quarto antes que qualquer sinal da sua presença surgisse. O corrimão estava frio sob minha mão, e cada degrau rangia levemente sob meu peso. Quando finalmente cheguei ao meu quarto, fechei a porta atrás de mim, sentindo-me momentaneamente segura. A noite com Dylan havia sido intensa, cheia de risos, confidências e toques que ainda reverberavam na minha memória.

Joguei-me na cama, sentindo o conforto familiar do colchão e dos lençóis. Fechei os olhos, tentando prolongar a sensação de felicidade. Mas, como sempre, as sombras do passado não demoraram a se infiltrar. Erik. A lembrança dele era como um fantasma que nunca me deixava em paz. Lembrei-me de seu sorriso, de seu toque, e, inevitavelmente, da forma brutal como ele havia sido tirado de mim.

Naquela noite, me forcei a empurrar esses pensamentos para longe. Queria dormir com a lembrança de Dylan, com a esperança de um futuro que não estivesse manchado pelo sangue do passado. Adormeci com essas emoções conflitantes, perdida em sonhos onde a linha entre passado e presente se tornava indistinta.

Quando acordei na manhã seguinte, o sol já estava alto, lançando raios dourados pelo meu quarto. O ar estava pesado, como se algo sombrio pairasse sobre a casa. Desci as escadas devagar, sentindo um pressentimento que não conseguia identificar. Ao chegar à cozinha, vi meu pai sentado à mesa, uma expressão severa em seu rosto.

— Sabrina — disse ele, sua voz cortante como uma faca. — Precisamos conversar.

Sentei-me à mesa, sentindo um nó se formar no meu estômago. Ele não esperou para começar.

— Quem é esse tal de Dylan? — perguntou, seu tom de voz gélido.

O choque me atingiu como um soco. Como ele sabia? Minha mente começou a correr, tentando lembrar se havia deixado algum sinal, alguma pista.

— Ele... é só um amigo — respondi, minha voz soando fraca e desprotegida.

— Não minta para mim, Sabrina — ele disse, seu olhar fixo em mim, penetrante. — Eu sei que ele te levou ontem. E vou garantir que ele não cause mais problemas.

O medo subiu pela minha espinha. As palavras dele eram um eco terrível do passado. De repente, fui transportada de volta àquela noite fatídica onde encontrei o corpo de Erik.

Meu pai tinha dito exatamente a mesma coisa. “Vou cuidar dele, para que não cause mais problemas.” Na manhã seguinte, Eric estava morto. Assassinato a sangue frio, e meu pai... meu pai foi o responsável. Ele alegou que era para me proteger, mas eu sabia que era uma mentira, uma desculpa para seu comportamento controlador e violento.

— Não! — exclamei, levantando-me bruscamente. — Você não vai tocar no Dylan. Eu não vou deixar que faça isso de novo!

Ele levantou-se também, a fúria crescendo em seus olhos.

— Você não tem escolha, Sabrina. Eu faço o que for necessário para te proteger.

— Para me proteger? — gritei, a dor e o medo transbordando. — Foi isso que você disse sobre o Erik, e agora ele está morto! Você o matou!

A tensão na sala era quase insuportável. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e minha respiração estava rápida e irregular.

— Eu fiz o que tinha que fazer — ele disse, sua voz fria e controlada. — E farei de novo, se for necessário.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Como ele podia ser tão insensível, tão cego? A dor da perda de Erik ainda era uma ferida aberta, e agora o medo de perder Dylan da mesma forma estava me consumindo.

— Se você tocar no Dylan — disse eu, tentando manter a voz firme —, eu nunca vou te perdoar. E eu vou sair dessa casa, e você nunca mais vai me ver.

Ele ficou em silêncio por um momento, estudando-me com aqueles olhos frios e calculistas. Finalmente, ele falou, sua voz carregada de uma ameaça velada.

— Veremos sobre isso, Sabrina. Veremos.

Corri para fora da cozinha, meu coração batendo freneticamente. Subi as escadas e tranquei a porta do meu quarto, minha mente girando com medo e raiva. Peguei meu celular e enviei uma mensagem frenética para Dylan, avisando-o do perigo. Minhas mãos tremiam enquanto digitava, e as lágrimas turvavam minha visão.

Quando finalmente enviei a mensagem, sentei-me na cama, tentando controlar minha respiração. As lembranças da noite em que Erik morreu vieram à tona com uma intensidade esmagadora. O choque, a descrença, a dor – tudo voltou com força total. Eu não podia deixar que isso acontecesse de novo. Não podia deixar meu pai destruir outra pessoa que eu amava.

O dia passou em um borrão de emoções confusas e pensamentos frenéticos. A cada som, a cada movimento na casa, eu saltava de medo. O alívio que senti na noite anterior agora parecia um sonho distante. A realidade do perigo que meu pai representava estava mais clara do que nunca.

Quando a noite caiu, enviei outra mensagem a Dylan, implorando para que ele ficasse longe, pelo menos por enquanto. Sabia que isso era apenas uma solução temporária, mas não sabia o que mais fazer. Não podia lutar contra meu pai sozinha.

As horas se arrastaram enquanto eu esperava uma resposta de Dylan. Finalmente, meu celular vibrou com uma mensagem dele. Ele estava preocupado comigo, mas prometeu que ficaria seguro. Disse que iria me proteger e que íamos superar isso juntos.

Aquelas palavras trouxeram um pouco de conforto, mas o medo ainda estava lá, latejando sob a superfície. Não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que tinha que ser forte. Por mim, por Dylan, e pela memória de Erik.

Deitei-me na cama, tentando encontrar alguma paz. A noite estava escura e silenciosa, e os fantasmas do passado ainda pairavam à minha volta. Mas eu tinha uma determinação renovada. Não deixaria meu pai destruir mais nada na minha vida. Fechei os olhos, esperando que o sono me levasse.

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