Aparências

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voltei para casa sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. Já eram por volta das 21:00 quando entrei pela porta da frente. A casa estava estranhamente quieta, e encontrei a empregada na cozinha.

— Seu pai estava a sua procura, senhorita — informou ela, o olhar preocupado.

Assenti, agradecendo, e fui direto para o meu quarto. Tranquei a porta atrás de mim, precisando de um momento de solidão. Troquei de roupa, colocando algo mais leve e confortável para dormir. A exaustão emocional era esmagadora, e logo me deitei, tentando esquecer por um momento as turbulências do dia.

Na manhã seguinte, acordei cedo, fiz minha higiene matinal e me preparei para ir à escola. Vesti meu uniforme escolar e desci para o café da manhã. Não havia sinal de papai, o que me deu um breve momento de alívio. Peguei uma maçã e saí rapidamente, desejando evitar qualquer confronto matinal.

Na escola, a manhã foi normal. Minhas aulas pareciam intermináveis, e minha mente estava longe. Mas tive que me forçar a me concentrar no teste que eu estava um pouco ansiosa para fazer. No entanto, quando começamos, eu rapidamente senti que estava muito bem preparada. Concentrei-me em cada questão, revisando meu conhecimento e aplicando tudo o que sei. Quando finalmente entreguei o teste, tive uma sensação de satisfação e alívio. Minhas respostas vieram com facilidade e confiança, o que me faz acreditar que me saí muito bem.

O sinal para o intervalo tocou. Passei o tempo sozinha, evitando os olhares curiosos sobre mim. O dia arrastou-se até o fim, e finalmente pude voltar para casa.

Quando entrei na sala de estar, ele estava lá, esperando. Papai me olhou com aquela expressão intensa de autoridade que eu tanto odiava.

— Esta noite teremos um coquetel importante para ir, e quero que você esteja impecável — disse ele, aproximando-se.

Meu coração acelerou. — Sim, senhor.

Arthur deu um passo mais perto, o cheiro de seu perfume invadindo minhas narinas.  — E vá sem uma peça íntima — sussurrou ele, seu tom carregado de insinuação.

Senti um nó no estômago, o nojo e a repulsa me consumindo. Sabia exatamente o que isso significava, mas não tinha escolha. Assenti, tentando não mostrar o quanto aquilo me afetava.

— Agora vá para a cozinha e coma algo. Desde ontem você não come nada, e não quero que você passe mal durante o evento — ele disse, sua voz ríspida e desdenhosa.

Sem palavras, me afastei dele e fui para a cozinha. Peguei uma pequena refeição, forçando-me a comer apesar da náusea que sentia. Precisava estar forte, mesmo que apenas para suportar mais uma noite sob o controle dele.

Enquanto comia, pensei no que Dylan havia descoberto sobre minha mãe. Precisava de respostas, mas antes, tinha que enfrentar mais uma noite de aparências e mentiras.

O restante do dia passou em um borrão de ansiedade e medo. Depois do encontro matinal com papai, me forcei a manter a rotina, tentando afastar a sensação de pavor que me envolvia. A manhã na escola havia sido difícil, mas a tarde em casa prometia ser ainda mais desafiadora.

Por volta das 14h, ouvi uma batida na porta do meu quarto. Era a empregada, trazendo uma grande caixa embrulhada em papel dourado. Seus olhos evitavam os meus enquanto deixava a caixa sobre a cama.

— Seu pai mandou entregar isso, senhorita Sabrina — disse ela, saindo rapidamente do quarto.

Abri a caixa com mãos trêmulas. Dentro, encontrei um vestido preto muito bonito, feito de seda, com uma fenda que subia até o meio da coxa. Toquei o tecido suave, sentindo um misto de admiração e repulsa. Sabia que ele escolheria o vestido com um propósito em mente.

Coloquei o vestido de volta na caixa e tentei ocupar minha mente com outras coisas. Li um pouco, embora as palavras do livro não fizessem sentido. Escrevi em meu diário, tentando colocar meus pensamentos em ordem. À medida que a tarde avançava, a sombra da noite que se aproximava crescia sobre mim.

Por volta das 17h, tomei um banho demorado, deixando que a água morna tentasse aliviar a tensão em meus músculos. Quando saí do chuveiro, olhei meu reflexo no espelho e vi uma garota triste e confusa. Precisava estar impecável, como papai exigia, mas também precisava me lembrar de quem eu era, independente do controle dele.

Vesti o roupão e sentei-me à penteadeira. Com cuidado, comecei a me maquiar, realçando meus olhos e lábios com tons sutis, mas elegantes. Se era para ser uma noite de aparências, eu me certificaria de parecer forte e inabalável.

Por volta das 18h, vesti o vestido preto. O tecido deslizou suavemente sobre minha pele, e a fenda reveladora me fez sentir exposta e vulnerável. Ajustei o vestido, tentando ignorar a sensação desconfortável, e coloquei um par de sapatos de salto alto que combinavam perfeitamente.

Enquanto me olhava no espelho, a empregada bateu novamente à porta. "Senhorita Sabrina, seu pai pediu para lhe avisar que o motorista estará pronto para levá-la ao evento às 20h," informou ela.

Assenti e agradeci, a mente girando com pensamentos e preocupações. Terminei de me arrumar, colocando brincos simples e elegantes, e prendi o cabelo em um coque sofisticado, deixando alguns fios soltos para suavizar o rosto.

Às 20h em ponto, desci as escadas, sentindo o peso da noite que se aproximava. O motorista estava esperando na entrada, e papai apareceu do escritório, avaliando meu visual com olhos críticos.

— Você está... Linda — disse ele, seu tom cheio de malicia. — Lembre-se do que falei. Esta noite é importante, e você deve estar feliz e radiante na visão de todos.

Engoli em seco e assenti, tentando manter a compostura. Ele me acompanhou até o carro, segurando minha mão com uma firmeza que parecia uma advertência silenciosa.

Entramos no carro, e enquanto ele começava a se mover, olhei pela janela, tentando encontrar um momento de calma antes do caos. O brilho das luzes da cidade começava a aparecer enquanto nos aproximávamos do local do evento, e minha mente estava em turbilhão.

Chegamos ao local, um luxuoso hotel no centro da cidade. O porteiro abriu a porta do carro, e Arthur saiu primeiro, estendendo a mão para me ajudar a sair. Coloquei um sorriso falso no rosto, tentando manter a máscara de perfeição que ele exigia.

Entramos no salão, onde a música suave e as conversas baixas criavam uma atmosfera de elegância e opulência. Papai me apresentou a várias pessoas, e eu sorri e conversei como esperado, sentindo cada minuto passar como uma eternidade.

Enquanto a noite avançava, senti o olhar dele sobre mim, lembrando-me constantemente de sua ordem repulsiva. Cada movimento meu era calculado, cada sorriso era forçado, mas eu mantinha a fachada. Sabia que, para sobreviver a essa noite, precisava continuar desempenhando o papel que papai havia imposto a mim.

Enquanto a noite avançava, papai e eu nos movemos pelo salão do coquetel, cumprimentando pessoas e trocando palavras superficiais. Meu sorriso estava fixo no rosto, mas minha mente vagava longe, buscando uma saída, uma fuga dessa vida de aparências e controle.

Papai se afastou por um instante quando o anfitrião do evento o chamou para apresentá-lo a algumas pessoas importantes. Aproveitei esse breve momento de liberdade para respirar fundo e observar ao redor. Foi então que senti um leve puxão na barra do meu vestido.

Olhei para baixo e vi um garotinho adorável, com cerca de cinco anos, me entregando um pedaço de papel. Seus olhos brilhavam de curiosidade e inocência.

— Para você,— disse ele com um sorriso.

Antes que eu pudesse responder, uma mulher elegante se aproximou rapidamente. "Peço desculpas, senhorita. Meu filho não deveria estar incomodando," disse ela, puxando suavemente a mão do garoto.

— Imagina... ele é um doce, — respondi, sorrindo para a criança.

A mulher sorriu de volta e se afastou, levando o garoto pela mão. Olhei para o pedaço de papel em minha mão, intrigada. Desdobrei-o discretamente e li a mensagem escrita em uma caligrafia familiar:  “Você está deslumbrante, para uma jovem tão esquisita.”

Um sorriso involuntário se formou em meus lábios.

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