Capítulo 4 - Como Começa Isso?

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Tiro a mochila das costas, dando uma última olhada ao redor, entro e o cheiro de perfume no carro enche minhas narinas, imagino que ele deva ter passado antes de eu entrar, é um cheiro forte, frutal, cítrico... delicioso. Logo que entro, coloco o cinto de segurança e apoio a mochila nas pernas. O carro está quentinho então tiro a jaqueta, as luvas e a touca amarrotando tudo no colo. Estou com uma blusinha de tricô preta, gola alta. Sem mangas.

- Se quiser por suas coisas no banco de trás para ficar livre e mais a vontade. - Ele diz olhando pro banco de trás afastando sua bagunça.

- Estou bem, obrigada. - Sorrio nervosa.

- Então tá bom, podemos ir? -Ele pergunta.

- Devemos. - Ergo a sobrancelha, ainda de esguelha olhando ao redor.

Jungkook me olha antes de pôr as duas mãos no volante, fecha o vidro e dá partida,
A música está baixinha, audível, o carro flutua como num tapete, ele dirige rápido, +80km.
Fico encantada como sempre com as luzes de Seul a noite, andando num carro como esse com um motorista desse.

- Porque você não me esperou? - Ele fala alternando olhares entre a pista e eu.

- Porque eu não queria dar muita bandeira, ainda mais Jimin e Taehyung na sua cola daquela forma. - Sorrio amarelo.

- E você ia pra onde naquela rua?- Ele me olha parando no sinal.

-Eu procurava um lugar para passar a noite.
- Respondi apertando os dedos

- Mas não já tínhamos acertado que você ficaria comigo? - Ele me repreende.

- Sim mas.... - Percebo ele se remexer no banco. Não termino o que ia dizer.
Minha mente trabalha contra mim quando penso no que eles disseram no elevador, e meus pensamentos intrusivos vencem.

- Então, você tem alguém? - Desvio o olhar da janela olhando pra ele.

Ele parece surpreso com a minha pergunta, mas sorri de lado e responde numa boa - Não tenho, mas eles ainda insistem nesse assunto.- Ele agora gira o volante com uma mão só fazendo uma curva bem fechada, fazendo nossos braços se encontrarem, eu sinto aquela famosa faísca adentrar meu corpo a partir daquele mínimo toque.- Hmmm... E você acredita que isso vá dar certo? - Pergunto sem querer encará-lo.

- Isso o que?- Ele me olha após parar no sinal vermelho.

- Eu, ficar na sua casa. Sem nem te conhecer direito, sem você confiar em mim, me conhecer a fundo... Porque afinal somos estranhos um pro outro.

Ele sorri e avança com o verde do sinal.

- Eu garanto pra você que já tive pessoas em momentos mais esquisitos que esse dentro da minha casa. - Sorri agora mordendo os lábios, com um meio sorriso bem sacana, como se lembrasse de algo comprometedor. - E eu já disse, não tem com o que você se preocupar. Eu não vou invadir seu espaço e nem você o meu, eu estou apenas sendo cordial com uma pessoa que precisa, e a rapidez com que você aceitou meu convite me mostrou o tamanho do seu desespero, então por isso também decidi te ajudar. - Estamos novamente parados, no sinal vermelho, tomando todo o rosto dele agora. Que tamborila com os dedos no volante cantando a música que toca no rádio.

Eu não soube o que responder depois do que ele falou, fiquei pensativa.

Será que ele me achou fácil? Pelo meu grau de desespero em aceitar o convite dele pra ficar na casa dele?

Me arrependo, mas agora é tarde. Ele me acha fácil, será que acha que vamos transar em troca de ele me dar abrigo? Arregalo os olhos irritada.
A partir dali fecho a cara com todos os meus pensamentos intrusivos me atropelando.

- Aiiiigooo. - Digo mais alto que o desejado, fazendo ele se assustar.

- O que foi isso? - Ele me olha com seus olhões de jabuticabas, visivelmente assustado.

- Eu não estou desesperada! Tá? Quem sabe um pouco! Eu não tenho onde ficar... E daí?. Aishh, para o carro.- Ele continua me olhando com os ombros encolhidos do susto e do meu surto repentino.

- PARA O CARRO JUNGKOOK. - Esbravejo como um cão feroz. Ele pisa no freio bruscamente parando no acostamento.

Tiro o cinto e desço do carro, com a mão na cintura, ele desce atrás. Sinto sua presença mas ele parece pensar no que dizer. E logo fala.

- O que foi que eu disse?- Se aproxima com a voz calma.

- Eu não vou ter nada com você, não sou fácil, não quero compromisso, e nem sexo sem compromisso, não quero nada com você, quero apenas seu quarto ok? Só por hoje, amanhã eu me viro. - Digo revoltada. Quando abro a porta do carro para entrar novamente, ele me puxa, tira minha mão da maçaneta, encostando meu corpo no carro e fechando a porta. Ele está agora parado na minha frente e eu seria absurdamente hipócrita se dissesse que não sinto nada de ver esse monumento moreno, cheiroso, talentoso, lindo e rico aqui na minha frente. Ele sabe o poder que tem, e sabe muito bem como usá-lo.
Ele está muito, muito sério, tão sério que uma linha fina está partindo o seu cenho. Não consigo desvendar mais do que isso.

Ele fica em silêncio, olhando algum ponto acima da minha cabeça, mordendo a parte interna da boca, me mexo para sair e ele me põe no mesmo lugar segurando meus ombros, sem usar força, nem violência, apenas me encosta.
Agora seus olhos estão nos meus e essa proximidade me incomoda, não por ele, por mim, por medo do que eu poderia fazer se ele se aproximasse mais que aquilo, estamos há mais ou menos 3 palmos de distância, e acho curta demais.

Curta Demais...JungKook...

Logo ele suspira, engole e diz, com o tom de voz irritantemente suave.

- Você falou muita coisa que me feriu agora, e feriu feio, não gosto que me julguem dessa forma, ainda mais você, sem me conhecer direito, pra todo mundo, mundo afora eu posso parecer um predador sexual, e eu até gosto desse estereótipo que colocaram sobre mim, mas ainda assim não fico gastando meu tempo tentando explicar algo que não sou. E aqueles que me conhecem riem disso.

Então YunBin Subaenim, vou deixar só uma coisinha bem clara pra você, ficando comigo apenas um dia, ou um mês ou um ano. Não tenho interesse nenhum em você, nem físico, nem sexual e muito menos em aproximação, fui gentil e você também, não ultrapasse esse limite nunca mais. Estamos entendidos? - diz muito sério.
- Espero que sim. Nunca mais me ofenda desse jeito! Eu não lhe dei motivos para achar que queria transar com você, dei? - Antes de eu responder ele continua. - Eu te garanto, que se eu tivesse esse tipo de interesse, você não teria dúvidas das minhas intenções, nesse quesito, como em todos os outros da minha vida, eu sempre sou muito claro, muito, muito claro! Entendeu? - Apenas balanço a cabeça positivamente.

Ele termina de falar e desvia de mim, entrando novamente no carro e o ligando. Parada eu estava , parada eu fiquei, digerindo tudo aquilo, mas eu mereço né? Ele está coberto de razão.
O clima pesou, eu não sabia onde enfiar minha cara, nem para onde olhar. Meus olhos agora queimavam de lágrimas que se formaram ali, ergo os olhos pra cima, tentando fazê-las não cair. Uma ou outra rolou, enxuguei, respirei fundo e entrei, sem olhar pra ele. Coloquei o cinto e partimos, num silêncio constrangedor. Ainda demoramos a chegar na casa dele.

Os devaneios de YunBin durante o trajeto para a casa de JungKook a levaram ao seu passado muito doloroso, não tão distante...

Clichê - JJk Onde histórias criam vida. Descubra agora