Capítulo 21

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Hoje era o dia que eu poderia mudar algo.
E eu tinha que ser precisa e inteligente.

Admito que tremi durante toda a sessão com Amy e mal consegui me concentrar.

— Você... julgou o caso de uma paciente minha — comentei, assim que terminamos a terapia.

— Sério? Quem?

— Saki... sobre os pais...

— Ah... — ela arqueou as sobrancelhas, enquanto guardava algumas coisas na bolsa — é verdade... foi terça-feira.

— Amy.

Ela ergueu os olhos para mim.

— Como chegou à conclusão de que os pais eram inocentes?

Ela apenas ficou me encarando, eu sei que não tenho direito de fazer uma pergunta dessas, muito menos de me intrometer no assunto.

— Saki estava na fila da adoção... um casal veio vê-la semana passada... não é justo. Tiraram a chance dela de ter uma família saudável e pior que isso, estão querendo devolvê-la para monstros?

— Os pais não são monstros — ela se levantou — eles foram linchados por algo que não fizeram, Saki teve uma queda da escada.

— Teve? — me levantei também — não é o que ela diz!

Amy bufou, ajeitou o cabelo negro para o lado, fechou seu blazer bege.

— Crianças muitas vezes não sabem o que dizem.

Isso doeu.
Isso doeu do fundo da minha alma.
Porque eu tive um monstro como mãe, eu passei pelo que Saki passou. Mas eu tinha meu pai, eu tinha um herói na minha vida, Saki não tem ninguém.

Crianças não sabem o que dizem? Quantas vezes eu gritei por socorro quando minha mãe me machucava. Quantas vezes eu tentei fugir... eu não sabia o que eu dizia?

Tirei meu celular do bolso e abri o gravador de voz, mostrando o áudio que gravei.

"Saki tem medo de ir pra casa, Ika... não quero. Papai e mamãe faz dodói, com o pé."

Amy mordeu os lábios.

— Eu não preciso que você queira me dizer o que fazer ou não, eu não venho em seu consultório e lhe digo como prosseguir com a terapia — ela disse, caminhando até a porta.

— Não estou te dizendo o que fazer! — a acompanhei — só peço que pense novamente... por favor...

Ela abriu a porta, me olhou.

— Fui uma criança como Saki — confessei — tive uma mãe que tentou me matar duas vezes — abri o jaleco, mostrando as cicatrizes — que me queimava com cigarro, que me batia, que me deixava sem comer e sem beber... que me prendia em casa.

Mesmo que suas palavras fossem negativas, seu olhar demonstrava que ela estava arrependida, que cometeu um erro.

— E só eu sei o que passei... mas eu tinha alguém, eu tinha meu pai, meu herói... Saki não tem ninguém Amy. Por favor... seja a heroína dela, salve a vida dela. Não devolva ela a monstros.

Ela olhou em meus olhos, em silêncio por alguns minutos apertou os lábios e suspirou.

— Vou abrir um novo julgamento, urgente.

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Suspiro encarando o relógio na parede, amo como eu e Kakashi folgamos o último horário na sexta-feira. E ele vem me buscar.

𝘼𝙣𝙖𝙩𝙤𝙢𝙮 𝙤𝙛 𝙇𝙤𝙫𝙚  🦋  Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora