Capítulo 26

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— Preciso ir para o orfanato... — pego a minha bolsa, sentindo as mãos suarem.

— Está tudo bem?

— Sim.

Caminho até a porta e ela acompanha.

— Aika.

Ergo os olhos para ela.

— Eu não podia deixar você sair sem te dizer... existem falsos negativos, mas raramente um falso positivo. Acho que você deveria realizar o teste novamente, em algum outro momento.

Respiro fundo.
Concordo com a cabeça.

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Desci do carro sentindo meu sangue ferver e eu sinceramente acho que nunca senti isso.
Mas enquanto caminhava pelos corredores como se meus pés pesassem toneladas, eu me lembrei que já senti isso sim, com Raya, pelo que fez com Hina e com Rin.
Eu me sinto assim quando existem injustiças, principalmente com crianças.

Escancarei a porta da sala de reuniões, não sendo nenhum pouco profissional e vi o casal, cada um sentado em uma cadeira.

A mulher me olhou de imediato, mas o homem continuou falando.

— Não nos adaptamos — ele deu de ombros — ela chora quase toda noite, por qualquer coisa.

Serrei os dentes, de puro ódio.
Eu peguei uma frase, apenas uma. E já enlouqueci.

— "Não nos adaptamos"? — interrompi, salivando — dizem como se a criança fosse um produto qualquer que você compra em alguma loja por aí! Vocês são monstros!

— Aika... — a diretora do orfanato se aproximou de mim, com certeza querendo me tirar da sala.

— E não é assim que funciona? — a mulher deu de ombros — pelo menos é isso que é nos passado quando vamos fazer a adoção.

— E se fosse um filho legítimo? Ele nasceu e vocês não adaptaram. Vão fazer o que?! Devolver ele pro útero! Ou pra esse seu saco de merda!?

O homem se levantou, dessa vez furioso. A diretora do orfanato conversava comigo, mas eu não ouvia.

— Que tipo de pessoas vocês são!?

— A culpa não é nossa se ela é toda problemática.

Eu senti a ofensa em mim, porque no ver de outras pessoas e na da minha mãe, eu era a "criança problemática".

E essa foi a segunda vez que eu levantei a mão para alguém e acertei em seu rosto.
Mas em compensação, senti os lábios cortarem nos dentes quando também fui atingida no rosto.

— Mas que merda! — a diretora me segurou, e a mulher segurou o marido, senti o gosto metálico do sangue entre a língua — vou ter que chamar a polícia!

E eu não gosto da sensação que tenho.
Eu não gosto de sentir ódio, raramente sinto.

— Vocês sabiam — me afastei — sempre souberam que ela sofreu emocionalmente. Não digam como se não soubessem.

Quando saí da sala, Hime estava no corredor, como se estivesse nos espiando, ela arregalou os olhos ao ver a mancha de sangue na camisa.

— Mulher você falou foi tudo! Mas meu Deus!

Suspirei, nervosa, dobrei o corredor e entrei no banheiro.
Quando me olhei no espelho só soube chorar.

"Ela é toda problemática"

Isso não é justo.
Não se leva uma criança para casa e depois se devolve como se não fosse nada.

Lavei o rosto e olhei para os lábios inchados, acho que o ódio e a adrenalina me faziam não ter dor, mas sei que mais tarde irá doer.

𝘼𝙣𝙖𝙩𝙤𝙢𝙮 𝙤𝙛 𝙇𝙤𝙫𝙚  🦋  Kakashi HatakeOnde histórias criam vida. Descubra agora