14 - Omissões necessárias

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Aline,

Vou até o armário, pego minha mochila e nem troco de roupa. Marreco vai saindo sem dizer nada e sigo até Iraci e Bruna, para me despedir. Não quis dizer ao Marreco que não iria, afinal ele me disse que me buscaria para almoçar, mesmo ainda estando cedo para o horário de almoço. Mas algo no semblante dele, me diz que preciso ir, que tem algo sério acontecendo.

-Iraci, talvez eu não volte hoje, tá? -Falo junto ao seu ouvido, quando ele se curva sobre o balcão para me abraçar.

-Fica tranquila, Moraliza. Mas lembra do que te falei, viu? -Ele esfrega minhas costas e nos soltamos.

Dou um abraço na Bruna e reafirmo que vamos sim marcar para sairmos qualquer dia. Quando me viro para sair, vejo que Marreco está parado na porta, me esperando com o celular nas mãos e de cabeça baixa. Quando me aproximo dele, pergunto:

-Tudo bem? -Falo bem baixinho, mas ele só me olha como se eu tivesse falado um palavrão, com uma cara bem tenebrosa e não responde nada.

Ele segue na frente e eu atrás dele. Quando saímos na rua, vejo que a quantidade de seguranças do lado de fora, dobrou. Parece que tem muito mais seguranças do que o normal.

Quando nos aproximamos do carro dele, ele chama o Jiló, que estava do outro lado da rua.

-Daqui uns quinze, tu manda os caras irem lá no Qg, quero só os mais bolados, frisou? -Escuto ele dizendo, quando entro no carro e bato a porta. Em seguida, Marreco também entra e saímos.

Ele liga o ar e me olha de lado, estou olhando para ele, porque quero entender tudo isso.

-Por que tu nunca faz o que eu mando, Aline? Mandei o cara te buscar, tu cagou pro cara!-Percebo que mesmo nervoso, ele tenta se controlar.

-Eu não sabia o que era, estava no meio da aula. O que está acontecendo? -Faço um coque no meu cabelo suado.

-Queria falar contigo, pô! Falei que ia te buscar pra gente almoçar... -Sei que ele não está me contando tudo.

-Por que não ligou, então? Se era só pra falar comigo, poderia ter ligado. Almoçar? Desde quando você almoça as onze da manhã? - Deixo claro que não sou burra, sei que tem algo.

Ele fica mudo, esse silêncio dele sempre me irrita muito, porque é simples: é só ele abrir a boca e me responder, mas não, ele sempre fica calado querendo que eu adivinhe tudo. Isso me deixa fora de mim. Respiro fundo, frustrada, e me afundo no banco, apoiando o cotovelo na janela e a mão na cabeça, olhando pra rua.

-Precisa ficar bufando, não...-Ele leva a mão na minha perna. -Só que, porra, Aline,  quando eu mandar tu fazer um bagulho, faz. Na moral, não dá uma dessas que tu me deixa puto, tá ligada?

Viro meu rosto pra ele, tentando lembrar das palavras do Iraci de mais cedo.

- Acho que pelo menos o motivo disso tudo é válido eu saber, já que você queria tanto que eu viesse embora no meu primeiro dia, né?

Ele tira a mão da minha perna e me olha de rabo de olho, antes de afundar a aba do boné na testa.

-Tá acontecendo umas paradas, não quero você na rua. -Quando abro a boca para falar, ele ergue a mão. -Não é nada demais, só que fiquei cismado, queria você em casa, mas tu nunca faz o que eu peço, porra!

Ele agora já está mais alterado.

-Primeiro, você não pediu, você manda, sempre manda eu fazer as coisas. Segundo, você tem que começar a me contar as coisas, Marreco! Eu não leio mentes, sabia? -Cruzo os braços e meu coque se desmancha, fazendo meu cabelo cair sobre meus ombros. Eu só passo a mão e enrolo as pontas de qualquer jeito, jogando para trás das costas.

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora