6 - Aprendendo

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Aline,

Dentro do carro, o silêncio é total. Eu sei que ele está com raiva por eu falar do Bernardo, mas não faz o menor sentido ele querer manter contato com a Yanka e proibir o cara de trabalhar aqui. No fundo, sei que essa possibilidade é mínima, até porquê o Bernardo não vai querer; assim imagino eu. Mas eu precisava tentar, afinal de contas, eu quem estou me sentindo mais culpada nessa história com ele. Inclusive, vou sim dar um jeito de ligar e me desculpar por tudo. Espero de verdade que ele não esteja com tanta raiva de mim, quanto imagino.

Mas, em contrapartida, estou feliz sim, de estar bem com Marreco. Sei que perdoei muito fácil tudo que rolou, mas quer saber? Ele me mostrou que me ama ao voltar, ele me mostrou que quer ficar comigo. Meu maior medo é ficar sendo orgulhosa e perder a chance de poder viver tudo que sonhamos e nunca conseguimos. Eu não posso deixar que o orgulho me cegue e acabar  com todas as chances que tenho de ser feliz. Além do quê, nunca fui muito racional quando se trata dele.

Mando uma mensagem ao Iraci dando alguma satisfação, já que desde que sumi do baile não falei com ele. Digo que amanhã conversamos na Ong. 

-Tenho uma surpresa pra você...-Falo pro Marreco, vendo a cara de puto dele enquanto dirigi. Está sem camisa, boné com a aba para trás, bem lindo como sempre.

-Ué... O que é? -Ele me olha de lado, passando a marcha. As sobrancelhas juntas, bem confuso.

-Você já chegou a ver seu sobrinho? Heliton Júnior? -Abro um sorriso e começo a buscar as fotos que tirei, na galeria do meu celular.

-Que dia o Heliton se preocupou em trazer o moleque pra eu ver? Só fiquei sabendo que tinha nascido, nunca vi não! -Ele nega com a cabeça, desapontado.

-Pois olha aqui, sua cara! Igualzinho a você quando era mais novo. Lembra, que uma vez sua vó me mostrou umas fotos suas? Aqui, tua cópia! -Estendo o celular a ele, e ele para o carro num canto da rua. Pega o celular e fica de cabeça baixa olhando. Passa as fotos, volta, olha de novo, passa de novo e por fim, abre um sorriso.

-Pô, o menor é minha cara, mané...-Ele me olha feliz, voltando a olhar as fotos. -Pirralho tá grandão já! Heliton Júnior? -Ele me questiona com o olhar e eu confirmo com um gesto.

-Só o nome que é feio pra caralho, covardia botar esse nome no menor...-Ele ri.

-Ele é muito inteligente, gostou muito de mim. -Conto, orgulhosa de ter conquistado o carinho do pequeno.

-Pô, o Heliton é foda...-Ele me devolve o celular, mudando sua expressão para desgosto. -Só nos dois no bagulho e o cara fica com essa ignorância por causa de religião...-Ele sai novamente com o carro e eu guardo o celular no bolso.

-Não pensa assim, ele gosta muito de você! Mas não concorda com o estilo de vida que você leva, só isso! -Tento explicar.

-Papo reto mesmo? Concordar ele não precisa, fraga? O negócio é respeitar! Eu, na minha ignorância, com todos os bagulhos errados que já fiz, penso que Deus não obrigada nego a abandonar a família! Isso vai contra o que eles pregam lá, pô! Mas tá maneiro...Ele escolheu assim...-Ele alisa o volante com o polegar, mostrando que isso o machuca.

Depois de um silêncio estranho, decido falar:

-Hudinho...você acha que se eu não tivesse ido embora, você teria seguido o mesmo caminho que seguiu? Acha que estaria aqui agora? -Estico meu braço e levo a mão no ombro dele. Apesar de tudo que aconteceu entre nós, eu sinto tanta necessidade de dar a ele todo amor que nunca pude dar.

Ele faz um gesto de cabeça, em dúvida, me olha rápido e fala:

-Pra te ser bem sincero, acho que sim! Sempre tive ambição de ser frente, de crescer no movimento. Talvez, tu podia ter mudado minha mente, só você poderia ter feito isso. Mas... -Ele faz uma expressão de "sei lá".

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora