11 - Briga de gigantes

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Marreco,

Chego no local onde Galego me disse que os três filhos da puta estão. Porra, eu odeio comédia, vagabundo que age na pilantragem, tenho paciência zero pra isso.

Paro o carro e desço no barraco velho. Os seguranças me acompanham e avisto o Galego sentado num tijolo do lado de fora, fumando um cigarro. Aqui é meio isolado, lugar onde quase nunca venho, mas quando venho é pra coisas não muito boas de se tratar.

Ao redor do barraco é só terra e mato, tudo caindo aos pedaços, barraco abandonadão. Galego me vê e se levanta, os irmãos que estão com fuzis nas mãos, se viram e todos ficam me olhando, até eu estar bem próximo. Nada de sorriso, geral de cara fechada. Rola um cumprimento com todos e poucas palavras.

-E ae, qual que é, mano? -Cruzo meus braços no peito.

Galego me explica que conseguiram pegar esses três viados do caralho que são do Lins e tentaram roubar minha carga. Já tem um tempo que o Bk tá no meu pé com uns papos de maluco, falando que roubei um caminhão de cerveja dele. Mas já passei a visão que não tive nada a ver com essa porra. Se tivesse sido eu, não teria porquê esconder, sou sujeito homem de sustentar o que eu faço. Mas o cara tá querendo guerra, então ele vai ter guerra.

Não sou de entrar em confronto desnecessário, porque uma coisa sempre puxa outra, ai começam os tiros, um tentando invadir o morro do outro, o que chama a atenção do governo e atrasa o lado de geral. Meu negócio é coisa grande, corro atrás de progresso, de avanço, de melhoria e do que me favorece, mas se tem uma coisa que não faço é correr de confronto. Se ele tá querendo problema, ele vai arrumar. O cuzão tá de frente lá á três anos, a facção do Lins é outra, eles me odeiam porque matei o Gralha, mas o antigo frente de lá nunca me torrou, porém esse menor chegou agora e quer sentar na janela, quer atrapalhar os negócios de geral. Vários frentes de comunidade já me passaram a visão de que ele é comédia, moleque novo, inexperiente. Mas tá tranquilo, porque até então tentei resolver na boa, mas não tem jeito, o cara tá embaçando meu lado, e se ele quer ser meu inimigo vai ter que ter peito pra aguentar.

Tentar me matar é fácil, muitos já tentaram. Ele não é o primeiro e nem vai ser o último. A guerra com Lins é antiga e tô ligado que eles têm motivos pra me odiar. Mas quando matei o Gralha, foi porque, eu sabia ali, que era eu ou ele. Um dos dois teria que morrer naquele dia, infelizmente foi ele. Mas não me orgulho disso, tem muitas coisas que não me orgulho, mas também não vou meter papo de bom moço, porque isso nunca fui. Se for preciso eu matar pra não morrer, não penso duas vezes. Naquela época eu cumpria ordens, a ordem foi dada, o Gralha tinha que morrer e a missão foi designada a mim. Eu nunca ramelei na hora de executar uma tarefa e naquele dia eu tive que passar o cara, fazer o quê? Quase não saio vivo de lá, muitos não saíram, mas eu consegui fugir, felizmente.

Galego me conta o que conseguiu arrancar de informação dos caras, disse que estão sendo torturados desde ontem, mas que não me avisou porque eu pedi para não ser incomodado. Pergunto a ele, se ele tem certeza de que não tem mais como arrancar nada e ele afirma que não, que tudo que podia ser feito já foi feito e que os caras só soltaram informações que não levam a nada. Não me admiro, porque se fossem o pessoal da minha tropa com certeza não falariam também. Ai entra a questão de que o cara já sabe que vai morrer e nesse momento pensa no bem estar da família, porque se der com a língua nos dentes, quem paga o pato é quem fica vivo, os familiares que estão na favela. Nego não abre a boca por nada! Quem resiste ainda morre com honra, porque caguete só recebe desprezo.

Sem muita enrolação, destravo minha arma e entro no barraco. Mando arrastarem os caras e botarem ajoelhados no fundo do quintal. Acendo o primeiro balão do dia e quando Jiló e os outros levam os caras pra fora, vou até lá.

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora