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Yanka,

Passei a noite aqui na casa da minha madrinha e a Neide me ajudou a tirar as malas do carro. O Tinem, meu padrinho, chegou a noite e se surpreendeu ao me encontrar aqui, mas, enfim, jantamos e como ele saiu novamente, fiquei no quarto da madrinha com ela, vendo um filme de terror medonho. Acabei dormindo com ela, porque definitivamente o Tinem é igual ao meu pai era, volta pra casa quando da na telha, dorme cada dia em um lugar. Acredito que pela minha madrinha eu nem iria embora, ela está verdadeiramente amando ter uma companhia que não seja a Neide. Até porquê, Neidinha vai embora seis da tarde todos os dias e restam as companhias dos gatinhos dela, que ficaram ao nosso redor na cama a noite toda.

Felizmente, a enxaqueca dela havia melhorado e eu não me senti tão mal mais, por estar talvez incomodando. Eu, por exemplo, quando estou com dor de cabeça nem consigo abrir meus olhos direito e fiquei com medo de ela ficar sem graça de dizer e tals, e eu estar sendo inconveniente. Mas ela melhorou, isso que importa.

Acho que essas coisas podem ter a ver com energia também. A casa da madrinha Leila é muito fechada, não bate luz, fica aquela coisa meio carregada demais. Hoje, pela manhã, quando acordei, fui logo abrindo todas as cortinas e janelas. Eu gosto de sol, amo o sol, amo luz. Essa casa precisa ficar mais arejada, acendi até uns incensos que eu sabia que minha madrinha guardava numa gaveta da cozinha- eu sempre vivi aqui na casa dela e sei onde fica quase tudo.

Fiz um café enquanto a Neide não chegava, e, quando ela chegou eu já estava disposta, de roupa de academia e preparada para me exercitar. Decidi malhar hoje...

Ah, sabe, a vida não vai mudar por mim, para eu me sentir melhor, quem precisa mudar sou eu, de dentro para fora; então decidi praticar exercícios, fazer alguma coisa para me movimentar e sair da zona de conforto um pouco. Não que eu ame de paixão malhar, não sei porque cargas d'água tive essa ideia, mas só quero fazer algo produtivo.

Terminei meu café, deixei a Neide cuidando das coisas na cozinha e segui para academia que tem no fundo do quintal dessa casa enorme. Dei bom dia pros gatinhos, para alguns passarinhos que estavam ali no muro e sorri, quando senti o sol quente na minha pele ao atravessar o gramado. Parece que estou mais viva que nunca, mais animada que nunca e sei que tenho muitas coisas para decidir. Preciso resolver a situação da favela, inclusive meu padrinho quis entrar nesse assunto ontem durante o jantar, mas pedi que ele deixasse pra tratar disso hoje, minha cabeça precisa desse tempo. Ele marcou comigo as duas lá no Qg, -acho que o Adriano e Ticolé também vão- para decidirmos tudo da melhor forma.

Olho pra água da piscina e penso em até dar um mergulho depois do treino. Quem sabe...

Enquanto caminho de cabeça baixa pelo sol, em direção a porta de vidro com insulfilme preto da academia, penso que preciso resolver a questão da Barbie também. Prometi que não deixaria ela e o Eitor desamparados e preciso chegar a uma conclusão do que fazer para garantir o bem estar deles. Sei que ela não vai aceitar eu ficar mandando dinheiro, mas se eu não ajudar ela de alguma maneira vou me sentir culpada. Ontem o Tinem contou que conversou com o Adriano e que parece que ele iria mandar alguém na Rocinha hoje para buscar meus quadros. Pedi ao meu padrinho que avisasse ao Adri para esperar, pois pretendo mandar um presente pra Barbie, só não sei o que. O que daria para ela trabalhar sem ter que ficar dependendo dos outros, ganhar uma grana e que seja algo que ela goste? Como posso saber, se quer tive tempo de conhecê-la, saber seus gostos e etc. Só sei, que preciso ajudar. Ela agora está sem emprego e tem um filho pequeno para criar. É guerreira aquela loira, viu...Admiro muito ela!

Quando entro na academia, ligo um pagode no meu celular e coloco meus fones de ouvido, enquanto corro na esteira. Perco uns vinte e cinco minutos contados nesse exercício. Adoro correr.

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora