17 - Novinha

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Bk,
(Domingo a noite, antes de o Bk falar com Marreco pelo rádio. Ele havia marcado um churras e convidado o Ramires.)

A noite caiu e os manos já foram colando na casa da minha coroa pro churras. Aquele pagode ambiente tocando, fumaça da churrasqueira subindo pro céu e meu whisky de lei sempre no copo, puro e sem gelo. Estamos numa roda, sentados, eu e os amigos. É altos papos sem fundamento que rolam, só na descontração do momento. Nessas horas de lazer, evito assuntos da boca, evito pensar demais, gosto de tomar meu gole e ficar na moral. Muitas vezes mais ouvindo do que falando. Aprendi muito isso com meu tio, que as vezes é melhor ouvir mais e falar quase nada; quem muito fala, as vezes se passa.

Eu gosto sempre de uma resenha com os mais íntimos na minha casa, como tô por aqui na casa dos coroas, chamei a rapaziada pra queimar uma carne por aqui mesmo. Minha mãe não gosta muito. Meus avós já são de idade e nessa, fica foda pra eles. Mas fazer o quê? Não vejo a hora do meu cafofo ficar pronto, também não gosto de tá incomodando, acho que tem horas que meus avós se sentem obrigados a não reclamar por ser eu quem trás o sustento, mas na boa...Tão na razão deles.

No entanto, hoje eu precisava dessa resenha só com os amigos, os mais próximos, chamei até o policia pra colar com a família, mas ele ainda não chegou. Mora pertinho daqui, num barraco que ajeitei pra eles. Três quartos, sala cozinha, lugarzinho bacana, pô. Tô dando uma moral pra esse verme, mais por questão de precisar mesmo dessa aliança com ele. Confiar não confio não, nem na minha sombra. Quer dizer, tem o Beto, que é o segundo aqui no morro. Ele tá desde o comando do meu tio, já vem de uma longa data ai, é bem mais velho do que eu e muitas vezes me passa uma visão da hora, mas mesmo assim sempre mantenho um pé atrás. Não que eu bote maldade em todo mundo, mas a maldade tá no ser humano, e isso é algo que me preocupa. Me sinto no dever de nunca entregar totalmente meus planos e minhas paradas a ninguém. Mas tem os amigos de infância que botei todos na tropa, tem ai uma rapaziadinha de fé, que eu dou uma moral maior.

Estamos sentados numas cadeiras, formando uma roda aqui na laje, e só no aguardo da carne que o amigo tá picando. Nandão, gerente de uma das bocas. Ele se amarra nessa parada de fazer uma carne, picanha e tal...bota lá as paradas do jeito dele e gosta de pagar de cozinheiro profissa, tá ligado? Dai, sempre é ele mesmo quem fica nessa responsa.

Os moleques dão risada das merdas que vêm no twitter, ficamos falando nada com nada, até que a carne chega. Em menos de meio minuto, o prato que o Nandão botou sobre um banquinho no meio da roda, fica vazio. Nego ataca sem dó e nem piedade, maior fome, papo reto.

O dia hoje foi tenso, fiquei só pensando lá no lance com arrombado do Marreco. O cara é um merda, um comédia, se acha o tal, e perder três dos meus é foda. Mas a família vai receber a assistência, claro, se os amigos colaborarem e morrerem de bico fechado. Se derem com a língua, a gente é obrigado a cobrar da família, a lei da favela é essa, não é segredo pra ninguém. A fama do Marreco não é boa, geral comenta que o cara é meio psicopata, mas nesse quesito ae tamô empatado, porque eu também sou! Medo dele eu não tenho, tenho ódio, isso sim! Mas medo, não! Ele mata três dos meus hoje, amanhã ou depois os dele morre também, é assim que funciona.

Tem umas mina que os amigos trouxeram, aquele lanche, sabe como? Mas nem deixo trazerem muita mulher, minha mãe embaça, ela já está azucrinando minha orelha pelo WhatsApp. Ela tá lá em baixo com meus avós, vendo tv na sala, por isso deixei o som até mais baixo. Na moral, quem é acostumado a morar sozinho igual eu sou, quando volta a morar com os outros, é uma merda. Me arrependi mermo de não ter alugado um outro canto ai, pra esperar a obra lá na minha casa terminar, mas minha mãe insistiu pra eu vir pra cá e eu na burrada, acabei cedendo.

O negócio dela, é que ela quer porquê quer que eu sossegue, que arrume uma namorada e pá, pare com a putaria. Ela fala que eu tô perdido. E se for olhar bem, eu tô mermo, fico muito louco nos bailes todo final de semana, perco a linha, a putaria é minha casa, me amarro mermo. Meu lance é boceta, seja branca, pretinha, ruivinha ou rosada, não tenho preferencia, sendo gostosa e sendo mulher, mermão, eu tô dentro. Lógico que a gente dá uma selecionada, também não é assim, mas se for gatinha tô pegando. Passo o rodo legal! Os moleques me gastam, porque as vezes é tanto b.o das minas, que nem eu sei mais o que tá acontecendo.

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora