7 Tu vens

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Aline,

-Tô te falando, pô! Se for pra eu cair de novo, na moral, prefiro a morte! -Ele continua. Eu me levanto de seu colo, com um nó na garganta, e me sento ao seu lado no sofá. A música agora é "Rest of my life".

-Qual foi? -Ele se vira no sofazinho pequeno, ficando de frente pra mim.

-Vai caindo, né? A ficha, aos poucos...É doloroso! -Meus olhos lacrimejam. Infelizmente, estamos nós dois sujeitos a sermos presos. E ele me vem com esse papo de morte ainda...

-Mas não vai acontecer nada, tamô preparado, tamô resguardado! Não vou deixar nem você e nem eu, sermos pegos! - Ele beija meu joelho- minhas pernas estão encolhidas no sofá- depois morde, fazendo doer.

-Para! -Puxo a perna, rindo. Ele abre o sorriso perfeito pra mim.

-Promete que nunca vamos nos separar de novo? -Observo seu rosto, sinto dor em pensar nisso.

-Vamô não, prometo pa tu! Ainda mais agora...-Ele me agarra, me chupando, lambendo, esfregando a barba. - Que tu voltou pra mim! Tô me amarrando em ter você aqui, visão!

-Se for pra fugir com você, eu fujo! -Digo, falando bem sério agora.

-Pique Bonnie e Clyde? -Ele brinca.

-Pique Bonnie e Clyde! Se for pra sermos presos, que seja os dois! Agora você não tem mais saída! -Bato o indicador no rosto dele.

-Quem disse que eu quero ter saída, Aline? Nosso lance sempre foi louco, sempre essa pegada maluca, acho que por isso durou até hoje! -Ele tenta abocanhar meu dedo.

-E se me trair, arranco seu pau fora! -Ameaço, estreitando os olhos. Ele ri, jogando a cabeça pra trás. Quando volta a me olhar, seguro seu maxilar. -É sério! -Olho firme pra ele e me levanto pra buscar mais vinho.

Começa a tocar uma outra música que não tem nada a ver com a pegada que a gente tá. Mas é uma música tão linda.

"TU VENS, TU VENS...EU JÁ ESCUTO OS TEUS SINAIS..."

Pego a garrafa de vinho dentro da vasilha de gelo e sirvo minha taça. Volto lá pra fora com a vasilha e a garrafa dentro, equilibrando em um braço. Marreco está fumando maconha (Ele trouxe o back e eu nem vi), praticamente jogado no sofá. As pernas abertas, a cabeça encostada no encosto, só mirando a favela gigantesca, infinita que é a Rocinha.

Sirvo mais vinho na taça dele e me sento ao seu lado, mirando o horizonte de luzes também.

- Não precisa esquentar com esse bagulho de traição, não vai rolar essa parada! Tenho dona, já! -Ele solta a fumaça no ar.

-Tu me conhece, sabe como eu sou, pelo menos com você! -Viro minha cabeça pra ele.

-Como tu é? Me esqueci, pô...-Ele zomba, mordendo a língua, todo malandro.

-Idiota! Mas, só pra refrescar tua memória, primeiro te traio, depois arranco seu pau! -Dou risada da minha loucura, mas em boa parte isso é real. Talvez eu não arranque o pau dele, mas devolver na mesma moeda, aah...isso ele pode esperar.

-Esse papo tá ficando torto já, troca essa música, pô...que porra de música é essa? -Ele se levanta, irritado. Ele não suporta a ideia de eu o trair, eu também não suporto pensar que ele pode me trair. Somos dois malucos!

-Deixa, eu gosto! Me dá vontade de chorar...-Me mantenho relaxada no sofá. Ele acende o back de novo. Depois se vira pra mim, segura meu rosto e aperta.

-Nunca mais repete essa parada, não aceito ouvir tu falar que vai ficar com outro, jaé?! -Ele diz bem no meu ouvido.

-É só não me trair! -Sorrio, e ele fica ainda mais puto, me soltando com tudo, antes de entrar pro quarto.

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora