12 Mantenha o foco

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Marreco,

-Se acalma, irmão! Ele não vai fazer nada, não tem como pra ele. Ele só vai perder nessa! -Galego leva a mão no meu ombro, mas eu tô cego de ódio. Preciso fazer alguma coisa, porra! Preciso matar esse arrombado!

-Jiló, busca a Aline na Ong e leva pra casa...agora, porra! -Grito, quando ele fica me olhando com cara de demente.

-Rala, geral! -Galego ordena aos outros e eles saem, deixando nós dois sozinhos. Me sento no tijolo e tiro o boné, que parece estar espremendo meu cérebro. Boto ele sobre minhas pernas e apoio a cabeça nas mãos.

-Marreco, tu não pode entrar nessa, irmão. É isso que ele quer, quer te desestabilizar, sacou? Ele não vai chegar nela, não tem como! -Galego tenta me tranquilizar, mas minha mente tá em pane.

-Ela não, pô...Como ele sabe dela, CARALHO? -Grito, jogando o boné longe. Volto a enterrar meus dedos nos cabelos, cheio de ódio por dentro.

-A notícia espalha, Marreco. Ele deve ter visto no jornal qualquer merda e tá usando essa porra pra entrar na tua mente. E tu tá deixando, parceiro! Tu tá deixando o cara te perturbar, pô! Mente fria, Marrequeira! Cadê tua mente fria, mano? -Ele sacode meu ombro, tentando me fazer reagir, mas não dá. Quando se trata dela, não dá, porra!

-Eu vou entrar no Lins, Galego...-Ergo a cabeça pra ele, o rosto queimando porque parece que meu sangue todo tá na minha cara. -Eu vou matar geral, eu vou tocar o terror naquela porra, caralho!

-Tá vendo? Tá agindo na emoção, tu nunca foi assim, pô! É isso que ele quer, tu acha que ele não tá esperando essa porra? Acha que ele não tá só esperando tu entrar lá? Presta atenção no que tá pegando, Marreco! O cara tá usando do que ele sabe que vai mexer contigo, mermão. Nego sabe que nada te abala, inimigo é o que a gente mais tem, geral te conhece, tu acha que não? Tu acha que eles não estudaram tudo? Se fosse nós, a gente ia agir da mesma maneira, jogando sujo, cutucando a ferida, porra! -Ele olha nos meus olhos, tentando me fazer entender, mas nada, nada que ele falar vai me acalmar agora.

-Eu tô pagando todos meus pecados nesse caralho! Tô pagando tudo que fiz, Galego. Desde que ela voltou eu tô pagando, mano... Não tenho um minuto de paz, toda hora é um bagulho -Acabo desabafando com ele,  passando a mão no rosto, como se isso fosse me fazer acordar desse caralho desse pesadelo dos infernos.

-Quer ter paz ? Eu vou te dar paz, parcero! Se liga, eu e os moleques tamô vendo uma ilha pica pra passar uns três dias ae...Semana que vem. Bora com nós? Bora relaxar, esquecer um pouco essas merdas todas, fala tu? Vamô pegar uns dois helicópteros; eu, tu, Jiló, Farinha, Bico...cada um com sua mina, de boa...Hein? Porra, vai ser pica pra caralho, irmão! Marreco, a gente tá Hulk, meu parceiro. Nego pra subir esse morro tem que vim de caverão, não dá pra eles! Não dá! -Ele ri, batendo fraco no meu rosto.

-Com que cabeça vou fazer qualquer porra agora, Galego? Tá de sacanagem? -Jogo o braço. -Sem condição, o cara poderia ter falado qualquer merda, qualquer coisa, mas ele tocar no nome dela, porra...Me fodeu legal! -Esfrego os olhos, tentando desembaraçar as vistas porque parece que o ódio tá até afetando minha visão, na moral.

-Irmão, esquece isso! Tô te dando o papo reto, a mina tá segura, nada vai acontecer com ela, nada! -Ele bate mais uma vez no meu ombro. Eu amo o Galego, o cara tá comigo a uma cota e sempre fechou, sempre foi de fortalecer.

-Ela tá com nois, mano. Vamô botar segurança na cola dela vinte quatro horas, tem helicóptero ae, tem tudo! Não deixa esse pela entrar na tua mente, Marreco. Ele sabe que teu ponto fraco tá ali, geral sabe. Por isso quando tu tava naquela treta com a Yanka, eu te dei o papo várias vezes, foi ou não foi? Quem te deu a visão várias vezes da situação? Falei, porque sou teu irmão, porra! Tô contigo! Quando tu me contou a fita de vocês, ali eu vi que o bagulho era louco, Marrequeira. Nesses anos todos que te conheço, nunca te vi tombado por mulher nenhuma, nunca te vi desse jeito, mas do mesmo jeito que eu me liguei que ela é teu ponto fraco e que é a única coisa que poderia te derrubar, outras pessoas também podem ter se ligado, vagabundo é cheio de maldade na mente. Nego com ódio, com bagulho de vingança, vai usar qualquer arma que tiver na mão pra te derrubar, pô! Nessa que tu não pode deixar se abalar, nessa que tu precisa se ligar na tua responsa, olhar pra trás e ver o que tu já fez e o porquê tá aqui hoje! Na moral, eu sou um dos caras que mais te admira nessa favela, parceiro! Tô contigo, tu tá ligado! Vamô passar por mais essa e somar mais uma vitória na conta, jaé? -Enquanto ele fala, apertando meu ombro, esfrego a mão no queixo, pensativo.

-Depois que eu entrei na vida dela, tudo desandou pra mina, Galego...Tá vendo ai, até a vida dela tô botando em risco, mermão. A mina tá foragida, toda ferrada e eu não consigo me afastar, sabe como? O certo seria eu deixar ela, pra não foder mais ainda com a vida dela, mandar ela pra algum canto, não sei... -Vou refletindo comigo mesmo, enquanto ele presta atenção.

-Mas tu já viu que não consegue! Tentou manter aquele lance com a Yanka, não durou uma semana. Desde que te conheço, tu já casou umas três vezes e não parou com ninguém, qual foi Marreco? Não entra nessa, mermão! A mina é a mulher da tua vida e tu tem que ficar com ela, vamô dar um jeito em tudo, tá lindo! Vamô com nois tirar esse lazer ai, curtir um mar, relaxar e quando a gente voltar, pensamos em como matar aquele arrombado. -Ele tira uma carteira de cigarro do bolso e acende um.

-Mas antes, vou comemorar, amanhã vou fazer uma resenha lá em casa...-Ele guarda o isqueiro e tira o cigarro da boca segurando entre os dedos, soltando a fumaça no ar e rindo.

-Comemorar o quê? -Acabo rindo fraco também do jeitão dele.

-Vou ser pai, mané! Bota fé? -Ele parece que vai explodir de alegria. -O teste da doida lá deu positivo.

-Aahh, tá de sacanagem? -Acabo me levantando e dou um toque com ele, seguido de um abraço de lado, me esquecendo um pouco dessa merda toda que tá rolando. Acho que o Galego tem razão, melhor esvaziar um pouco a mente pra não deixar a emoção dominar e acabar fazendo merda. Preciso pensar com calma na maneira como vou agir.

Ele me conta sobre o bagulho da gravidez da mina todo empolgadão, deve ser um tesão do caralho descobrir que vai ser pai. É um bagulho que sempre passou na minha mente, mas nunca nenhuma das minas com quem casei engravidou, também nunca fiquei dando a entender que era algo que eu queria, acho que eu sentia no fundo que um dia iria reencontrar a única mulher que poderia ser a mãe dos meus filhos. Talvez eu faça um filho nela, mas não agora, preciso primeiro resolver a questão dela com a justiça, matar esse pau no cú do Bk, pra depois pensar em fazer um moleque. Porra, deve ser mó brisa, essa parada.

Quando finalmente Galego me convence a ir nessa resenha, dizendo que é sacanagem se eu não for, porque ele quer que eu seja padrinho do moleque, eu fico brisado.

-Tá de caô? -Pego meu boné no chão, boto na cabeça e vamos caminhando até meu carro.

-Papo reto, pô! Tu é meu irmão, quero que tu batize meu moleque! -Ele afirma, alegre.

-Tu nem sabe se é moleque, deve ser menina, certeza. -Provoco.

-Se for também, zero problema, vou me amarrar de todo jeito. -Ele fala, babando quase.

-Tá certo...Satisfação ae, pela consideração. Pode me botar nesse lance da ilha ae, tô precisando levar a gata num rolê da hora, ela vai gostar. -Aviso. Já tinha mesmo pensado em levar ela pra um lugar maneiro, mas sempre com aquele receio e tals. Mas Galego já pensou em tudo, vamô sair de madrugada pra não chamar atenção, só os aliados sabem da parada, vamô pra uma ilha no meio do nada, tem nem risco de dar errado. E é até bom pra aliviar mesmo a mente.

Quando me despeço dele, ele sobe na moto, passa um rádio pros menor voltarem e darem fim nos corpos. Escuto ele falando e, antes de entrar no carro, mando ele avisar que é pra picotar tudo, botar numa caixa e mandar de presente pro cuzão do Bk,  ele vai gostar da surpresa. Galego acha graça da minha loucura, mas nunca fui normal mesmo, ele sabe.

Ele sai de moto e eu entro no carro, alguns seguranças estão de longe e já se preparam para vir atrás. Pego o celular e ligo pra advogada, sempre com número restrito e de um celular antigo, que é mais difícil de rastrear. Converso com ela sobre a situação da Aline e digo que vou confessar o assassinato do polícial, mas não pretendo falar com a Aline sobre isso agora, acho que nem sobre essa ameaça eu vou falar, porque não quero que ela fique bolada, se torturando. Ela já passou muito bagulho, merece ter um pouco de paz também. É foda...

A advogada, -Paula o nome dela- me pergunta como eu quero fazer a confissão, se é por gravação ou carta. Digo que prefiro por gravação, porque essa porra de escrever não é comigo. Mando ela vir ainda essa semana, que já quero adiantar essa parada. Também mando ela olhar a questão da acusação de assosssiação e ver o que pode ser feito, porque não tem provas contra a Aline. Ela me confirma que vai ajeitar tudo e eu desligo.

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora