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Natália,

A Silvana é muito legal e ficamos um bom tempo conversando, conto a ela que eu fazia cursinhos para vestibular, que pretendo cursar odontologia e o assunto flui. Mas, apesar de estar curtindo a companhia dela, sei que aceitei esse convite pura e simplesmente para tentar saber mais sobre a questão desse Bk com meu pai.

Ontem foi bem estranho quando chegamos em casa, o clima estava pesado, mas minha mãe e a Ester nem notaram. Elas não notam muitas coisas, e uma delas é que meu pai não é bem o que diz ser. Acho que ele tem muitos segredos e não está sendo sincero com a gente sobre os reais motivos dessa nossa mudança repentina para esse morro. Ele tem planos de nos levar para fora do país, ouvi ele falando sobre isso com minha mãe. O engraçado, é que ela não percebe nada, não faz perguntas, as vezes me pego pensando se ela sabe o que está rolando, porque não é possível.

Eu e meu pai não tivemos a oportunidade de conversar sobre o ocorrido ontem, a casa em que estamos é pequena e acredito que ele não quer que minha mãe ouça a gente falar sobre a Aline. Também acho que ele vai fugir do assunto o máximo possível. Mas ele disse que não queria que eu viesse almoçar aqui, obviamente por saber que eu iria tentar investigar. Só que como ele foi no postinho com a minha mãe e depois iam dar umas voltas no Lins, demoraram e deu tempo de eu sair antes de eles chegarem. Ele não vai querer entrar numa briga comigo por isso, porque está com o rabo preso, então acredito que não terei consequências pelas minhas atitudes desobedientes. Eu já tenho 18 anos também e não sou mais uma criança, apesar de ser sempre muito respeitosa quanto as ordens e decisões dos meus pais, mas nem tudo eu posso acatar. Esse almoço foi uma rara exceção.

Enquanto lavo a louça para a Silvana, ela seca e guarda. Ela é sempre muito brincalhona, alegre e ama contar fofocas sobre as namoradas do filho. Pelo visto, ele tem muitas...É cada coisa, que me deixa de boca aberta, mas ela tenta falar baixo para ele não ouvir. Quando ela me conta que um dia deixou uma das meninas entrar e esperar por ele no quarto dele, mas a menina acabou dormindo lá pois ele chegou só no outro dia, acabo dando risada. Existem garotas que fazem qualquer coisa por amor, não sei se eu faria algo assim...Acho que não! Não é do meu feitio. Ainda mais quando ela relata a reação do filho quando chegou pela manhã e viu a garota lá, dizendo que ele a arrastou e jogou na rua. Nessa parte ela fica bem séria e vejo que ela não gosta das atitudes dele. Mas pelo que entendi, ela não consegue fazer nada para ajudar as meninas, porque Bk é bem cabeça dura. -Palavras dela.

Quando terminamos a sobremesa, ela se levanta e diz que vai buscar os pratos dos pais no quarto. Enquanto aguardo ela voltar, tento pensar em uma maneira de tentar me aproximar do Bk para continuar a conversa que estávamos tendo e que foi interrompida. Olho pro pudim, olho para vasilhinha de sobremesa prateada em cima da mesa, e tenho uma ideia.

Subo as escadas com a vasilha em mãos, cheia de pudim dentro, e chego na laje. Bk está sentado numa cadeira de praia, bem a vontade, mexendo no celular. Ele percebe minha presença e se vira rapidamente. Fico desconcertada e tímida; nunca fui muito boa em conversar com pessoas, mas preciso fazer isso.

-Eu trouxe, é...você gosta de pudim? -Meu rosto começa a suar, me sinto muito idiota; e se for parar para pensar, é bem idiota eu vir almoçar aqui, trazer pudim para ele...Essa situação toda é bem idiota, na verdade!

-Gosto, pô...-Ele guarda o celular no bolso da calça e parece surpreso com minha atitude. Eu também estou surpresa com ele. É que...Ele nem é tão idiota assim, tipo, ele tem uma relação bem bonita com a família pelo que sua mãe andou me contando. Ela disse que ele é um amor com os avós e isso não é algo comum para pessoas como ele. Ou é?

Me aproximo e entrego a vasilha a ele, mas fico sem saber o que fazer em seguida. Então, ele bate o pé na cadeira ao seu lado e faz um gesto para que eu me sente. Eu raspo a garganta -tenho mesmo esse hábito quando estou incomodada- e me sento, deixando minhas mãos sobre minhas pernas.

Love na Rocinha 2 (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora