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Abril de 2018. João Pessoa, Paraíba, Brasil.

Residência de Rosângela e Sebastião Freire.

Juliette olhava com atenção para a foto e antes de guardá-la na mala lhe deu um beijo

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Juliette olhava com atenção para a foto e antes de guardá-la na mala lhe deu um beijo.

- Filha, não sofra mais. - Rosângela sentou ao lado da jovem e fez carinhos nos seus cabelos.

- Eu nunca vou deixar de sofrer mãe. Eu perdi tudo. O Lázaro, um marido tão bom, o Miguel minha razão de viver e ainda o anjinho que só tinha cinco meses de gestação. Por que eu não morri também?

- Não me pergunte mais isso minha filha. Você não morreu por que Deus não permitiu. Não era a sua hora.

- Não vale a pena viver assim. Viver sem eles.

- Já tem dois anos filha. Não vale a pena sofrer tanto Juliette.

- O sofrimento nunca vai sair de mim, mesmo que eu queira.

- Devia ficar aqui e não viajar a São Paulo. Aqui é a sua vida e tem tantas escolas atrás de ti, é uma professora tão eficiente. Não entendo por que está deixando tudo para trás para ser babá em um estado que tem tanto preconceito com nordestinos. A sua prima não lhe dá grandes garantias.

- O salário é bom e eu só vou cuidar de uma criança de segunda a sexta-feira. Fins de semana o pai irá cuidar. Quem sabe cuidar dessa criança, não me faça bem. E o salário é muito melhor que o de professora.

- Ainda é tão jovem. Só tem 28 anos Juliette. Pode ser refazer, ter outros filhos.

- Eu não quero. Miguel nunca será substituído.

- Não se trata de ser substituído. Nenhum filho é substituível, mas Miguel nunca voltará, assim como o Lázaro.

Juliette sabia que sua mãe não lhe dava maus conselhos, porém sua dor parecia ser infinita, mesmo depois de dois anos do trágico acidente que destruiu sua família. Qualquer chance de recomeço parecia uma traição a tudo que ela já viveu.

Sem fazer muitos arrudeios e se despedindo dos pais de forma rápida, Juliette pegou um táxi e se dirigiu ao aeroporto.

Sua viagem a São Paulo não tinha o intuito de recomeço, mas sim de fuga. Juliette fugia da sua dor e da sua agonia. Depois do acidente que também quase a matou, ela nunca mais quis lecionar, tinha naquele ato alguma coisa que ela perdeu o encanto, talvez fosse o fato de que seu filho era seu aluno antes da fatalidade.

São Paulo era uma cidade grande e muito movimentada. Talvez fosse bom tentar escapar por esse caminho longo e apertado.

...

Casa da família Silva Rios.

- Papai... Que bom que chegou.

- Oi princesa do papai. Como estamos hoje?

Vivia numa casa confortável e bem estruturada Rodolffo Silva Rios junto com sua filha, de 3 anos, Elisa. Ele é um médico cirurgião bem requisitado e professor universitário competente.

- Deu trabalho a sua vovó hoje Elisa?

- Não... Pode perguntar papai.

Minha mãe vinha caminhando em minha direção e trazia um sorriso nos lábios.

- Que bom que chegou. Elisa não parava de perguntar de você.

- Benção mãe?

- Deus te abençoe. E como foi o plantão?

- Fiz três cirurgias. Graças a Deus tudo ficou bem. De manhã vou ao hospital ver os pacientes. Elisa vai brincar no seu quarto que papai chega já lá para brincar também.

A menina correu para o quarto e eles ficaram a sós.

- E a babá da Elisa? Tudo pronto para recebê-la?

- Tudo pronto. Ela chega ainda hoje na casa da Cleonice, amanhã de manhã já vem para cá.

- Ótimo. Mas quero que a senhora fique um pouco com ela aqui. Sei que é muito bem recomendada pois confio na Cleonice de olhos fechados, porém essa moça não estará habituada tão rapidamente. Quero que a senhora dê as recomendações a ela, eu prefiro apenas pagar seu salário. Afinal não paro em casa mesmo.

- Está trabalhando muito. Cuidado. Isso pode te comprometer na saúde.

- Não há mais o quê comprometer e a senhora sabe.

- Filho, não pense assim. Eu já te dei tantos conselhos.

- Eu tenho HIV mãe e mesmo sendo indetectável, ele está em mim, sou infectado.

- Mas tem uma vida normal.

- Dentro do possível, mas estou pensando seriamente em abandonar a cirurgia. Eu tenho muito cuidado, nunca aconteceu nada de excepcional, mas tenho medo.

- Não deve parar, as pessoas precisam de você. Maldita seja a mãe da Elisa, mulher leviana e que te transmitiu isso.

- Eu fui burro também, não devia ter me deixado levar por um caso de fim de semana. Mas pelo menos descobri no início e ela na gravidez. Louvo a Deus por ter uma filha saudável e sem o vírus.

- Além de tudo ainda te abandonou. Que mulher ingrata.

- Por isso não consigo acreditar nas mulheres mãe. Elas são terríveis.

A conversa foi interrompida por Elisa.

- Papai... Vem logo!

- Tô indo amor.

...

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