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Ivone gostou de Juliette de imediato, coisa muito rara de acontecer, mas estava disposta a fazer que ela ficasse o máximo de tempo possível junto de Elisa.

- Elisa é um pouco grudenta Juliette. Espero que isso não lhe incomode por que haverão dias que serão só vocês duas e a Cleonice em casa. Agora eu vou poder passear e curtir minhas amigas. Mas aos finais de semana Rodolffo fica com ela e é sua folga. - comunicou Ivone.

- Tudo bem. Isso não me incomoda.

- Se houver algum fim de semana que esteja disponível, pode ficar também com a Elisa?

Rodolffo perguntou mesmo sabendo que seus finais de semana eram dedicados a filha.

- Posso sim. Isso não é um problema.

- Também tem disponibilidade para viagens?

- Obaaa... - gritou Elisa. - Prainha.

Todos riram.

Elisa amava passear, porém Rodolffo achava exaustivo dá conta de tantas coisas sozinho e sem falar que Elisa era um pouco fujona, o quê fazia ele ter medo de perdê-la na praia.

- Só precisa me avisar com antecedência e dá tudo certo.

Juliette agradou a todos. Mas ela não estava disposta a falar com eles sobre sua experiência com crianças. Trabalho é trabalho e ninguém precisava saber que ela já teve um filho e de toda a fatalidade de sua vida. Era tempo de tentar resignificar algumas coisas.

...

Um mês se passou desde a chegada de Juliette a casa de Rodolffo e Elisa. E algumas coisas foram ficando mais evidentes para ela.

Primeiro: Ivone não tinha amor pela neta, o quê Juliette achava triste por que a criança era muito especial e amável. Segundo: Rodolffo vivia imerso de tanto trabalho que a filha tinha carência dele e necessidade de receber amor. Terceiro: Elisa era muito apaixonante, uma criança amável, doce, pura como os anjos do céu e isso trazia a Juliette todo o amor maternal adormecido no seu peito.

Estar com Elisa lhe fazia muito feliz. Ela sempre lhe tirava sorrisos sinceros, da mesma forma que seu pequeno Miguel fazia.

- Juzinha vem cá... - Elisa puxava Juliette pela mão praça a fora.

Era sempre assim, todos os finais de tarde, Juliette pegava a pequena pela mão e iam passear numa praça do bairro que viviam. Era um lugar calmo e cheio de outras crianças. Elisa adorava tudo aquilo.

- Eu posso ficar com ele? - ela apontou para um pequeno gatinho que estava escondido dentro de um tambor.

Juliette se abaixou e alisou o pequeno animal. Estava indefeso e sozinho. No fundo sentiu o mesmo que Elisa, vontade de levar para casa. Se a pequena fosse sua filha, levaria sem pensar, mas a realidade era outra.

- Elisa, vem cá comigo pequena.

Juliette a colocou no colo e Elisa colocou os bracinhos em volta do pescoço de sua babá.

- Não podemos levar o gatinho. - ela disse quando estavam sentadas no banco da praça.

- Por quê?

- Por que o seu papai não tem tempo de cuidar e um animal requer cuidados, mas nós podemos cuidar dele aqui na praça mesmo.

- Como?

- Trazemos comida e água, todas as tardes para ele. Assim garantimos que ele não passe fome, que tal?

Elisa deu um beijo no rosto de Juliette e sorriu.

- Você é muito boa Juzinha.

- Você que é uma princesa linda demais. Vá brincar um pouquinho que daqui a pouco temos que ir.

- Posso dá um beijo no gatinho?

- Não pode. Nada de beijos, promete?

- Sim.

Elisa obedecia bem a Juliette, as vezes ainda fazia algum arte, mas fugir ela nunca queria, estar perto da babá lhe trazia segurança.

- Oi Juliette. - Rodolffo chegou repentinamente junto a ela e isso a assustou.

- Meu Deus quase me mata do coração.

Eles riram juntos e aquilo era engraçado.

- Desculpa. Eu não tive a intenção.

- Eu que estava distraída com a Elisa. Nem te vi chegar.

- Sempre foi babá? Tem tanto jeito com crianças. Admiro sua forma de lidar.

- Nem sempre fui babá, mas gosto muito de crianças.

Juliette não estava disposta a falar do seu passado, pelo menos não agora.

- Elisa se dá tão bem com você que nesses três anos dela nunca vi nada igual. Ela não é assim comigo.

- Ela sente sua falta. Faz os planinhos dela para quando o papai chegar, mas sempre adormece antes que você chegue.

- Não sou um bom pai e sei disso.

- Não pense assim. Você só tem o seu trabalho, é normal.

- O quê fará sexta-feira, sábado e domingo?

- Não tenho planos.

- Estou querendo ir a praia com a Elisa só que sozinho é complicado, não por causa dela, eu que sou ruim em fazer inúmeras coisas ao mesmo tempo. As malas são muitas, fico meio perdido.

- E quando vai operar um paciente se sente assim também?

Rodolffo olhou para Juliette um pouco surpreso com a pergunta.

- Desculpa. Isso não é pergunta que se faça.

- Mas eu respondo. Não me sinto nenhum pouco perdido com meus instrumentos, muito pelo contrário, os conheço muito bem. Mas não é assim com a Elisa. Ela é um desafio, sua personalidade me tira do conforto e me estressa as vezes. Na verdade eu não estava preparado para a paternidade.

- Ninguém está pronto totalmente, mas a vida vai nos ensinando dia a dia.

- Não sente vontade de ter seus próprios filhos?

Juliette não respondeu por que Elisa chegou os interrompendo.

- Papai... Que bom que chegou cedo hoje.

Pai e filha se abraçaram, Juliette sorriu ao ver eles juntos.

- Que tal uma prainha esse fim de semana Elisa?

- Só se a minha babá for junto, se não, nem quero ir. Juzinha você vai?

- Vou princesa.

- Oba. Vai ser bom então.

- E o papai não conta?

- Conta, mas a Juzinha conta mais.

Elisa era sincera até demais e Rodolffo sorria das suas palavras. Mas aquele sorriso se desfez quando ele olhou para o sorriso de Juliette.

De seguida Elisa foi para o colo de Juliette e começou a falar um monte de coisas que elas fariam na praia. Juliette com paciência combinava perfeitamente tudo que podia ou não ser feito.

Depois seguiram os três para casa, Rodolffo segurava uma mão de Elisa e Juliette a outra.

...

Os Caminhos (In)certosOnde histórias criam vida. Descubra agora