22

130 19 12
                                    

Casa de Rodolffo.

Eu estava brincando com a Elisa com seus joguinhos educativos e aquilo me fazia tanto bem. Ela era uma criança esperta e muito inteligente.

- Mamãe... O "A"...

- Isso pequena... É isso mesmo.

- O azin...

- Sim Elisa.

- Eba... Agora posso tomar sorvete?

- Não Elisa. Só depois do jantar.

Elisa fez biquinho, mas eu segurei sua mãozinha pequena.

- Não fique chateada com a sua mamãe do coração Elisa... Pufavô.

- Não fico mamãe.

Elisa tomou a iniciativa de um abraço e para mim era o gesto mais lindo da vida. Senti os olhos inundarem e eu sabia que um dia Rodolffo e eu poderíamos não dá certo, mas perder a Elisa seria o acontecimento que me doeria mais, eu a amo como se ela tivesse saído de mim.

- Te amo mamãe.

- Te amo minha menina linda.

A campainha tocou e eu fiquei em dúvida de quem seria. Onde morávamos havia segurança e não era qualquer um que entrava. Pensei na dona Ivone, ou na Cleonice que poderia ter esquecido alguma coisa, mas ao abrir a porta me deparei com meu pai.

- Filha... Que saudade.

- A benção pai?

- Deus te abençoe.

Ficamos nos olhando e Elisa veio ver quem chegou, se mostrando logo para o meu pai.

- Mamãe, quem é?

Meu pai franziu a testa e eu conhecia aquela expressão facial de estranheza da parte dele.

- Esse é o meu pai Elisa.

Ela foi logo tagarelando.

- Eu sou a Elisa.

- É uma criança adorável.

A boca dizia uma coisa, mas as expressões diziam outra. E eu sabia que aquela visita não era um simples acaso, meu pai tinha um objetivo com aquela visita.

Conversamos coisas banais. Frente a Elisa ele revelou estar com saudades de mim, esse era o motivo da visita, mas eu sabia que não era a verdade.

Elisa dormiu depois do jantar e finalmente ficamos a sós.

- Está deslumbrada com algo tão simples? Eu achei que ele fosse mais rico.

- Se ele fosse tão rico não teria dois empregos e ambos de extrema responsabilidade. Rodolffo é médico e professor universitário, um homem que trabalha bastante e tem pouco tempo para a família.

- Hum... Sei. Pouco tempo, mas ainda o suficiente para te levar para a cama.

- Pai... Não fale assim.

- É seu patrão Juliette. Como pôde fazer isso? O quê acha que esse homem vai fazer contigo?

- Vamos nos casar.

- Inocente... Sempre foi inocente e por isso foi duramente enganada por aquele homem que você chamou de marido. Vai se permitir ser enganada novamente?

- Pai eu não posso recomeçar?

- Pode. Com um homem que faça o certo. Perante Deus vocês estão em pecado Juliette.

- Pecado é mentir e enganar. Eu mentia e me enganava enquanto dizia que não queria mais ter um relacionamento ou uma família... Ainda desejo isso. Sempre vou amar os meus filhos que estão com Deus, mas... - meu pai me interrompeu.

- Não parece... Colocou essa menina para te chamar de mamãe. Esqueceu de seus filhos de verdade.

- Nunca vou esquecer, mas eu amo a Elisa e desejo ter um filho com Rodolffo.

- Sua mãe está totalmente transtornada. Eu vim para te levar para casa.

- Eu sabia...

- Arruma tudo e viaja comigo.

- Não!

- Eu estive com aquele homem hoje e posso afirmar que aquela conversinha mole de casamento não é real. Não se iluda.

- O senhor está com sono e eu também estou. Vai ficar no meu quarto e dormir.

- Juliette...

- Basta pai.

Eu subi e ele me seguiu. Lhe indiquei o quarto e depois me tranquei no nosso quarto.

...

Dia seguinte...

Sai do plantão às cinco da manhã e cheguei em casa com um silêncio total. Todos deveriam dormir ainda e eu então me livrei das minhas bagagens, antes de subir ao nosso quarto.

Confesso que nada me fazia mais feliz que encontrar minhas garotas sãs e salvas. Me certifiquei que Elisa ainda dormia e logo vi Juliette abrir a porta do quarto.

- Bom dia meu amor. Te acordei.

Nesse instante percebi que Juliette não estava bem. Sua mão me puxou para o interior do quarto e fechou a porta em seguida.

- O quê houve? Você esteve chorando?

- Não deixa eu ir embora...

- Ir embora? - eu olhei confuso.

- Meu pai veio para me levar embora.

Eu ouvi aquelas palavras e fiquei paralisado. Juliette tinha medo de algo que ela podia controlar, mas mesmo assim julgava que não podia. Era uma marca de um abuso psicológico forte.

- Você quer ir embora? - perguntei firme.

- Eu quero ficar. Com você e com a Elisa.

- Juliette nós também queremos que você fique. Seu pai não vai te levar a nenhum lugar e não se preocupe, eu estou aqui e vou te proteger.

A trouxe para um abraço e ela chorou ainda mais.

- Eu estou aqui... Calma meu amor.

Juliette era vítima de uma sequência de relações abusivas, por isso o medo de coisas que não deveria temer.

Quando eu a acalmei, nos deitamos na cama e ela começou a falar.

- Meu pai acha que eu vou sofrer contigo.

- Me fale, seu marido era cruel com você?

- O primeiro tapa ele me deu na noite de núpcias. - ela fez uma pausa. - Eu era virgem e tinha medo...

- Desgraçado.

- Depois disso os tapas vinheram por nada. Ele me empurrava, puxava meus cabelos, mas quando eu fiquei grávida ele melhorou muito. Principalmente por que não me procurava como mulher.

- Era tão terrível assim?

- Ele gostava de machucar, era sua forma de sentir prazer.

- Que nojento.

- Eu me sentia um objeto e só, nunca foi como é com você. Nos seus braços, me sinto mulher e me sinto adorada.

- Nunca vai se sentir diferente. - eu selei nossos lábios. - Sempre quero ser assim com você.

- Eu amo tanto tudo isso... Você, a Elisa, a nossa vida...

- A nossa família... Eu também amo muito.

Dei um beijo mais demorado na minha mulher e ela sorriu.

- Confie em mim Juliette. Sim?

- Sim.

...

Os Caminhos (In)certosOnde histórias criam vida. Descubra agora