Casa de Rodolffo.
Eu estava brincando com a Elisa com seus joguinhos educativos e aquilo me fazia tanto bem. Ela era uma criança esperta e muito inteligente.
- Mamãe... O "A"...
- Isso pequena... É isso mesmo.
- O azin...
- Sim Elisa.
- Eba... Agora posso tomar sorvete?
- Não Elisa. Só depois do jantar.
Elisa fez biquinho, mas eu segurei sua mãozinha pequena.
- Não fique chateada com a sua mamãe do coração Elisa... Pufavô.
- Não fico mamãe.
Elisa tomou a iniciativa de um abraço e para mim era o gesto mais lindo da vida. Senti os olhos inundarem e eu sabia que um dia Rodolffo e eu poderíamos não dá certo, mas perder a Elisa seria o acontecimento que me doeria mais, eu a amo como se ela tivesse saído de mim.
- Te amo mamãe.
- Te amo minha menina linda.
A campainha tocou e eu fiquei em dúvida de quem seria. Onde morávamos havia segurança e não era qualquer um que entrava. Pensei na dona Ivone, ou na Cleonice que poderia ter esquecido alguma coisa, mas ao abrir a porta me deparei com meu pai.
- Filha... Que saudade.
- A benção pai?
- Deus te abençoe.
Ficamos nos olhando e Elisa veio ver quem chegou, se mostrando logo para o meu pai.
- Mamãe, quem é?
Meu pai franziu a testa e eu conhecia aquela expressão facial de estranheza da parte dele.
- Esse é o meu pai Elisa.
Ela foi logo tagarelando.
- Eu sou a Elisa.
- É uma criança adorável.
A boca dizia uma coisa, mas as expressões diziam outra. E eu sabia que aquela visita não era um simples acaso, meu pai tinha um objetivo com aquela visita.
Conversamos coisas banais. Frente a Elisa ele revelou estar com saudades de mim, esse era o motivo da visita, mas eu sabia que não era a verdade.
Elisa dormiu depois do jantar e finalmente ficamos a sós.
- Está deslumbrada com algo tão simples? Eu achei que ele fosse mais rico.
- Se ele fosse tão rico não teria dois empregos e ambos de extrema responsabilidade. Rodolffo é médico e professor universitário, um homem que trabalha bastante e tem pouco tempo para a família.
- Hum... Sei. Pouco tempo, mas ainda o suficiente para te levar para a cama.
- Pai... Não fale assim.
- É seu patrão Juliette. Como pôde fazer isso? O quê acha que esse homem vai fazer contigo?
- Vamos nos casar.
- Inocente... Sempre foi inocente e por isso foi duramente enganada por aquele homem que você chamou de marido. Vai se permitir ser enganada novamente?
- Pai eu não posso recomeçar?
- Pode. Com um homem que faça o certo. Perante Deus vocês estão em pecado Juliette.
- Pecado é mentir e enganar. Eu mentia e me enganava enquanto dizia que não queria mais ter um relacionamento ou uma família... Ainda desejo isso. Sempre vou amar os meus filhos que estão com Deus, mas... - meu pai me interrompeu.
- Não parece... Colocou essa menina para te chamar de mamãe. Esqueceu de seus filhos de verdade.
- Nunca vou esquecer, mas eu amo a Elisa e desejo ter um filho com Rodolffo.
- Sua mãe está totalmente transtornada. Eu vim para te levar para casa.
- Eu sabia...
- Arruma tudo e viaja comigo.
- Não!
- Eu estive com aquele homem hoje e posso afirmar que aquela conversinha mole de casamento não é real. Não se iluda.
- O senhor está com sono e eu também estou. Vai ficar no meu quarto e dormir.
- Juliette...
- Basta pai.
Eu subi e ele me seguiu. Lhe indiquei o quarto e depois me tranquei no nosso quarto.
...
Dia seguinte...
Sai do plantão às cinco da manhã e cheguei em casa com um silêncio total. Todos deveriam dormir ainda e eu então me livrei das minhas bagagens, antes de subir ao nosso quarto.
Confesso que nada me fazia mais feliz que encontrar minhas garotas sãs e salvas. Me certifiquei que Elisa ainda dormia e logo vi Juliette abrir a porta do quarto.
- Bom dia meu amor. Te acordei.
Nesse instante percebi que Juliette não estava bem. Sua mão me puxou para o interior do quarto e fechou a porta em seguida.
- O quê houve? Você esteve chorando?
- Não deixa eu ir embora...
- Ir embora? - eu olhei confuso.
- Meu pai veio para me levar embora.
Eu ouvi aquelas palavras e fiquei paralisado. Juliette tinha medo de algo que ela podia controlar, mas mesmo assim julgava que não podia. Era uma marca de um abuso psicológico forte.
- Você quer ir embora? - perguntei firme.
- Eu quero ficar. Com você e com a Elisa.
- Juliette nós também queremos que você fique. Seu pai não vai te levar a nenhum lugar e não se preocupe, eu estou aqui e vou te proteger.
A trouxe para um abraço e ela chorou ainda mais.
- Eu estou aqui... Calma meu amor.
Juliette era vítima de uma sequência de relações abusivas, por isso o medo de coisas que não deveria temer.
Quando eu a acalmei, nos deitamos na cama e ela começou a falar.
- Meu pai acha que eu vou sofrer contigo.
- Me fale, seu marido era cruel com você?
- O primeiro tapa ele me deu na noite de núpcias. - ela fez uma pausa. - Eu era virgem e tinha medo...
- Desgraçado.
- Depois disso os tapas vinheram por nada. Ele me empurrava, puxava meus cabelos, mas quando eu fiquei grávida ele melhorou muito. Principalmente por que não me procurava como mulher.
- Era tão terrível assim?
- Ele gostava de machucar, era sua forma de sentir prazer.
- Que nojento.
- Eu me sentia um objeto e só, nunca foi como é com você. Nos seus braços, me sinto mulher e me sinto adorada.
- Nunca vai se sentir diferente. - eu selei nossos lábios. - Sempre quero ser assim com você.
- Eu amo tanto tudo isso... Você, a Elisa, a nossa vida...
- A nossa família... Eu também amo muito.
Dei um beijo mais demorado na minha mulher e ela sorriu.
- Confie em mim Juliette. Sim?
- Sim.
...
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Os Caminhos (In)certos
FanfictionO quê reserva o destino para duas pessoas machucadas?