- Juliette eu posso te ajudar. Eu sou médico. - disse com boas intenções.
- Vai embora. Eu tô bem. - era a primeira vez que eu via palavras rudes saírem da boca dela.
- Tudo bem.
Sai do quarto e fechei a porta. Se eu não era necessário, o ideal é me retirar.
Fui até a cozinha e resolvi nem subir mais ao meu quarto. Liguei a TV da sala e fiquei ali mesmo. Só despertando no dia seguinte com minha mãe mexendo em mim.
- Ei Rodolffo... O quê faz aqui? Está parecendo um marido expulso da cama pela mulher.
- Eu só tive insônia e vim ver um filme.
- Mas no seu quarto tem televisão. Isso não faz sentido.
- Mãe, a casa é minha. Eu durmo onde tiver vontade e bem entender.
- E a babá, cadê?
- O quê tem haver?
- Será que tem alguma coisa acontecendo nessa casa?
- Me respeite mãe. Eu tenho responsabilidade e caráter também.
- Ah Rodolffo... Uma coisa não tem nada a ver com a outra. E não ache que me engana...
- Nem continue. Estou satisfeito com o trabalho dela e a Elisa nem se fala. Não vou fazer minha filha sofrer por coisas que a senhora acha que deveriam ocorrer.
- Eu já vi você olhando para ela.
- Não sou cego, então eu olho para as pessoas.
- Não mude o rumo... O olhar é diferente.
- Não pense nisso mãe. Não vai acontecer.
- Ela é uma mulher bonita. Faz o seu tipo.
- Eu não sirvo para ninguém e nem cogito nada. Lhe digo isso com toda a verdade que há em mim.
Subi para o meu quarto e fui até o quarto da Elisa. Ela tinha acabado de acordar.
- Bom dia princesa do papai.
- Bom dia. Cadê a minha amiga?
- Hoje o papai arruma você para a escolinha.
Escovei os dentes e dei banho na Elisa. Depois vesti sua farda e pentiei seus cabelos negros. Minha pequena era tão linda. Por fim lhe dei um beijinho na testa.
- Papai, eu posso chamar a Juliette de mamãe? - segurei suas mãos pequenas e lhe disse sincero.
- Não pode princesa. A Juliette é sua amiga, sua babá, sua Juzinha, mas não deve chamar ela de mamãe, por que isso pode deixar ela triste, entendeu?
- Mas eu queria...
- Nem tudo que a gente quer, a gente deve. É assim Elisa e você não entende, mas a nossa vida tem limites.
Terminei de dizer essas palavras e Juliette chegou no quarto. Seu semblante não estava bom, mas logo Elisa arrancou um sorriso dos seus lábios.
- Desculpa por ontem. - ela disse quando Elisa se afastou um pouco. - E pelo meu atraso de hoje.
- Não tem problema. Hoje comece a preparar as coisas da viagem. Vamos no carro que você usa, então o deixe na oficina assim que deixar Elisa na escola. Eu a busco mais tarde.
Tirei uma quantidade de dinheiro do bolso e entreguei a Juliette.
- O quê é isso?
- Para que compre o quê necessita para viajar conosco.
- Mas eu tenho dinheiro. Não precisa seu Rodolffo.
- Sem o seu por favor, mas o dinheiro é todo seu. Lá tem muitos lugares para sair e a Elisa gosta de ir a toda parte, então aconselho que não use saltos. Roupas fluidas caem bem e vamos a praia, então biquíni é indispensável.
- Tudo que faço extra quer me pagar, mas de verdade não precisa.
- Precisa sim. Está deixando de viver a sua vida para viver a nossa, é o justo.
Levei Elisa para comer um lanche e logo depois Juliette foi deixá-la no colégio.
- Aconteceu alguma coisa aqui. - minha mãe continuava a falar coisas.
Eu estava aborrecido e quando fui cortar um pão a faca vacilou e eu sofri um corte na mão.
- Ninguém vem aqui. - o corte saia muito sangue e eu mesmo cuidei do meu ferimento.
- Eu posso limpar seu Rodolffo. - disse Cleonice.
- Não toque em nada aqui Cleonice. Em nada, para o seu próprio bem.
Minha mãe me olhou um pouco assustada e logo foi embora.
Limpei alguns pingos de sangue sobre a mesa e logo telefonei ao hospital. Minhas cirurgias agendadas estavam canceladas.
...
Deixei Elisa na escola, mas antes de deixar o carro na oficina fui até umas lojas que eu já sabia onde comprar algumas coisas.
Comprei três biquínis, duas saídas de banho e mais algumas coisas que precisava, inclusive para Elisa, já que eu sempre lembrava da pequena.
Quando voltei para a casa tudo estava estranho. Fui pegar uma fruta na mesa e Cleonice arrancou de mim.
- Não coma nada que tem na mesa Juliette.
- Oxe...por que não?
- Rodolffo disse que vai jogar tudo fora.
- Mas estão boas...
- Ele sofreu um corte e ficou muito nervoso.
- Do nada?
- Tem alguma coisa estranha, não é normal, entende?
Fiquei pensativa.
- Hoje ele não vai trabalhar. Escutei ele cancelando tudo por causa de um pequeno corte.
Era realmente estranho, mas Rodolffo era misterioso. Algo nele era guardado a sete chaves e talvez por isso Elisa nunca conseguisse o amor pleno do pai.
...
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Os Caminhos (In)certos
FanfictionO quê reserva o destino para duas pessoas machucadas?