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Três dias depois entrei em mais um plantão. Cada dia era mais difícil sair de casa e deixar a minha filha e a minha mulher, eu sentia tanta falta delas.

Cheguei ao hospital e atendi alguns pacientes agendados previamente. Posteriormente fui visitar alguns pacientes que iam receber alta médica. Cada sorriso nos rostos daquelas pessoas, me davam a certeza do dever cumprido.

- Doutor, que Deus te abençoe sempre.

- Muito obrigado.

- Eu vejo o senhor sendo muito feliz na vida. - disse animado meu paciente.

- Todos nós seremos felizes.

Estava sendo um plantão bem calmo e estranhei quando um homem, não autorizado entrou no meu consultório.

- O senhor é o Doutor Rodolffo? - seu modo de falar era idêntico ao da Juliette e aquilo me chamou atenção.

- Sim. Sou eu, mas o senhor não devia ter entrado aqui subitamente. Ao menos tivesse batido na porta.

- Desculpa o modo, mas eu aproveitei a oportunidade.

- Então sente-se. O quê o senhor vem sentindo? Qual a queixa? Como deve saber sou cirurgião...

- Eu sou o pai da Juliette.

Fiquei surpreso.

- Eu vim até aqui para te perguntar sobre a sua intenção com a minha filha... De homem para homem, me diga o quê quer com Juliette?

- De homem para homem, te digo que amo a sua filha e que quero casar e ter com ela uma família.

O senhor suspirou e me olhou.

- Minha filha já sofreu muito na vida e eu não aceito que ninguém a faça sofrer de novo. O maior remorso que eu tenho foi ter aceitado o casamento dela com aquele homem.

O pai de Juliette parecia muito abalado e eu lhe ofereci uma água.

- Eu confiava naquele homem e ele foi muito mal com a minha filha, com meu neto. Ela sofreu com ele.

- Ela nunca se abriu sobre ele. Sofreu de quê forma?

- Meu falecido genro não era um homem de Deus. Homens de Deus não fazem o quê ele faz.

- Ele era religioso?

- Somos evangélicos... Não sei se Juliette te disse...

- Ela não me disse...

- Por que ela se afastou depois do acidente, mas continuando... Eu acredito que eles tiveram um namoro santo e confiei minha única filha a um homem que julguei ser bom e ela tem julgou. Mas ele era um sem vergonha.

- Por que chegou a essa conclusão?

- Por que ele batia na minha filha. Ela nunca confessou, mas as pessoas viram e me contaram. Se isso era terrível, imagina que no velório dele havia um homem no pé do caixão a chorar pela sua morte. E o chamando de "meu amor".

- O quê?

- Juliette nunca soube disso, nunca tive coragem de contar, mas não restou dúvidas que meu genro tinha um caso com um homem.

Fiquei chocado e pensativo.

- Eu só te peço que se não for capaz de amá-la, deixei-a, mas por favor não traga mais sofrimento a minha filha.

- Como o senhor chegou aqui?

- Minha sobrinha me indicou e eu consegui chegar.

- Qual o seu nome?

- Raimundo...

- Seu Raimundo, quero que vá para a minha casa, faço questão. Hoje não volto para lá, mas Juliette e Elisa estão em casa.

- Elisa é sua filha?

- Sim, minha menina. Tenho certeza que o senhor deixará Juliette bem feliz e a sua esposa?

- Ela não veio por que tem medo de voar.

- Pois bem. Fique uns dias conosco e verá que sou diferente do seu genro.

- Juliette está vivendo sempre contigo?

- Sim. Ela já não volta para a casa da prima e está sempre comigo e com a Elisa.

- Eu pedi a Deus que tivesse misericórdia da minha filha e que trouxesse um sentido novo a sua vida e sou muito grato por tê-la trazido novamente a vida.

- Agradeço muito a Deus por ter colocado ela na minha vida.

Depois de mais um pouco de conversa, chamei um táxi e encaminhei o meu sogro a nossa casa. Juliette com certeza ficará feliz com a visita.

...

Os Caminhos (In)certosOnde histórias criam vida. Descubra agora