O dia da nossa viagem chegou e eu peguei minha filha cedo para arrumar e deixar ela pronta para o nosso passeio.
- Está animada Elisa?
- Muito papai.
- Hoje faremos várias coisas legais, só você e eu.
- E a mã...
- Não... Não! Você e eu. Sua babá não fica conosco muito tempo minha pequena.
Elisa me olhou com os olhinhos tristes.
- Eu te disse para não se apegar.
- Ela prometeu papai. Prometeu ficar comigo.
- Minha pequena, no fim será só você e o seu papai. Sempre nós dois. Não haverá nada que mude isso. Agora vamos, se não atrasamos.
Juliette estava no corredor e eu lhe dirigi um "bom dia" por educação.
- Bom dia. Eu ia arrumar a Elisa.
- Eu já fiz isso.
Depois de ontem e das palavras que ela me disse, percebi que não deveria tentar mais qualquer aproximação. Eu não tenho nada a oferecer, ela muito menos e juntos podemos nos ferir, muito mais que nos curar.
Segui com a minha filha para o carro e incrivelmente quem nos esperava na sala, era ninguém menos que dona Ivone.
- O quê faz aqui mãe?
- Vou com vocês.
- Como assim?
- Eu vou contigo passear. Se até a empregada vai, por que eu não posso?
Olhei para minha mãe contrariado, mas por fim não tive como evitar.
- Atrás com a menina babá. - ela disse com certo desdém a Juliette.
- Mãe... O quê é isso?
- Está muito cheia de asa essa aí... Agora a Elisa chama ela de mamãe? Misericórdia.
- Eu pensei que gostasse dela.
- Eu pensei que ela iria te levantar, mas não fez... É uma mais do mesmo.
- Mãe... - a repreendi.
Seguimos uma viagem silenciosa até o litoral. Já imaginava que esse fim de semana ia render com dona Ivone do lado.
Quando chegamos ao hotel, Elisa já queria ir a praia.
- Vamos papai.
- Tem paciência menina mal educada. Se comporte. - minha mãe gritou com Elisa e ela se pôs a chorar.
- A senhora não deve falar assim com ela. - Juliette repreendeu.
- E quem é você para me dizer isso? Ora vejo só.
- Pelo o amor de Deus parem com isso. - pedi e o tumulto foi cessado.
Juliette optou por ficar no mesmo quarto que a Elisa. Minha mãe exigiu uma bela suíte e eu preferi um quarto comum. Era suficiente até demais.
Na sexta-feira não fomos a praia, mas fomos ao shopping, andamos para cima e para baixo. E um dos pedidos da Elisa foi uma foto dela comigo e com a Juliette.
Juliette a segurou no colo, colou suas costas no meu peito e eu a abracei levemente. A foto ficou linda e o sorriso de Elisa iluminou a foto.
Depois fomos comer e voltamos ao hotel em seguida.
Cada um foi para o seu quarto e eu já estava quase dormindo quando bateram a minha porta. Quem eu pensei ser? Minha mãe. Quem era de fato?
- Juliette... Algum problema?
- Posso entrar?
- Cadê a Elisa?
- Está dormindo profundamente e eu a deixei segura. - ela me mostrou as chaves.
- Então entra.
Ela entrou e sentou na minha cama. Logo sentei ao seu lado.
- Está diferente comigo... - ela disse me olhando.
- Não estou. Tudo normal.
- Está chateado comigo?
- Por que eu estaria? Não há motivos Juliette.
- Pelo o quê eu disse ontem.
- Esqueçamos ontem, não haverá mais aquilo. Nem é adequado. Você é minha funcionária. Temos um contrato de trabalho formal e não é por que dividimos o mesmo teto que devemos partilhar nossas questões e opiniões mais íntimas.
- Não diga mais nada. É melhor assim.
- Não tive maldade alguma ontem, se isso lhe passa pela mente... - nem eu acreditava nisso.
- Não passa nada pela minha mente. - ela se levantou da cama.
- A Elisa já te ama. Não abandone a minha filha. Ela precisa de você Juliette.
- Eu também amo a Elisa. Eu não quero abandoná-la, mas se quiser que eu vá, irei.
Meus olhos correram ligeiro pela camisola que ela usava, era um modelo bem ousado, desenhava suas curvas sutilmente e de novo meu corpo reagiu. Eu estaria me tornando um homem sem caráter e não sabia?
- Se por acaso quer pedir demissão, a sua roupa não é adequada a ocasião.
- Como? - ela me olhou incrédula.
- Está linda nessa camisola.
- Rodolffo... Não diga isso.
- É a verdade. Mas há uma verdade ainda maior que essa...
Me aproximei lentamente e testei a sua resistência. Até que ficamos perto demais.
- Qual verdade? - ela me perguntou baixinho.
- Deve ser muito mais linda sem ela.
Instantes depois eu estava a beijando na boca. Um beijo urgente e até desesperado. A encostei lentamente na porta do quarto e o nosso beijo ficou mais profundo e mais lento. Explorei sua língua e ela a minha. Queríamos aquele beijo, mas a falta de ar nos separou.
Com o olhar assustado ela me disse:
- Não podemos...
- Não se preocupe... Não vai pegar... - ela colocou a mão na minha boca.
- Não é isso. Eu só não posso. Entenda que eu não consigo.
Eu me afastei e ela abriu a porta, fechando-a em seguida. Colei o rosto na madeira fria e revivi um dos melhores beijos que já pude experimentar.
...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Caminhos (In)certos
FanfictionO quê reserva o destino para duas pessoas machucadas?