Camila olhou para Elisa e o bebê no carrinho, com receio. Mas as crianças estavam distraídas.
- Ele te contou?
- Sim.
- Eu o amei. Na noite que o vi a primeira vez ele estava lindo. - ela fechou os olhos e vi uma lágrima escorrer nos cantos. - Acho que nunca conheci um homem como ele e bem sabe que eu tenho experiência.
- Mas por que a mentira? Ele vive consumido por isso.
- Ele descobriu como eu vivia, de onde vinha a minha renda e isso o transformou. Suas palavras duras me fizeram chorar e ele resolveu terminar tudo. Na semana seguinte descobri que estava grávida e era dele. - ela alisou os cabelos de Elisa. - Acho que ele não tem dúvidas, não é?
- Não mesmo. Eles se parecem mais que fisicamente.
- Quando ele disse que se fosse o pai daria todo suporte porém não ficaria comigo, eu me revoltei. Um biomédico fez o exame falso e eu joguei a bomba.
- Isso é muita maldade. Você foi muito cruel. Ele nunca mais teve paz.
- Eu sou má e sei disso. Mas eu sinto um vazio por que ela está longe de mim.
- E continuará longe, se depender de mim. - Rodolffo chegou junto a nós e falou alto.
Elisa se assustou e num rompante ele colocou ela no colo.
- Rodolffo... - eu queria falar.
- Silêncio, por favor. - ele apontou um dedo em direção a Camila e disse. - Nunca mais cruze o nosso caminho. Você não merece chegar perto da minha filha.
- Ela não é só sua.
- Cale a boca! A vontade que eu tenho... - ele falou com aparente ódio. - Não pode nem ser dita.
- Fale para ele Camila, diga a verdade. - pedi e ela não respondeu.
- Vamos embora Juliette. - Rodolffo exigiu.
Elisa já estava assustada e assim saímos rapidamente dali.
Rodolffo estava em completo silêncio e seguiu agarrado com Elisa. Parecia que ele tinha medo que alguém roubasse a menina. Exigiu a colocar no seu quarto e isso confirmava mais ainda o seu medo.
Que quisesse ou não, Camila era mãe e a justiça sempre beneficiam as mães.
- Preciso conversar com você. Não posso adiar.
Nos certificamos que Elisa dormia pesado e sentamos numa parte isolada do jardim.
- Acredite em mim, eu vi ela amamentar Rodolffo e ela confessou que mentiu.
- Não confio na Camila e nem na sua sanidade mental.
- Ela iria amamentar se tivesse AIDS. Você já disse que não pode. Mesmo indetectável, não é possível.
- Para nós médicos não, mas a Camila é perversa, pode querer contaminar o próprio filho.
- Você é saudável. Por isso que sempre é indetectável.
- Eu tomei os coquetéis. Eu me cuido.
- Você não tem nada. Faça mil exames, mas nenhum deles dará nada.
Rodolffo ficou em silêncio.
- Volte a sua vida. Recomece.
- Não é simples assim.
- Por que não?
- Me responda você... Recomeçar é simples?
Essa pergunta me calou.
- Antes de pensar em mim eu tenho que pensar na Elisa. Não posso simplesmente tocar o barco, eu tenho a minha âncora e só posso atracar onde comportar nós dois. As vezes acho que eu não me relaciono nem é pelo vírus em si, mas pela possibilidade de que minha filha não seja aceita. E quem está disposta a amar nós dois?
- Alguém estará disposta e se te amar, amará a Elisa.
- As namoradas do meu pai nunca gostaram de mim e da minha irmã.
- Irmã?
- Sim. Eu tenho uma irmã, ela é mais nova que você. E sempre fomos maltratados pelas namoradas do pai. Não quero isso para a Elisa.
- É só não permitir.
- E você Juliette, o quê pensa do amanhã? Tem sonhos?
- Que sonhos? - abanei a cabeça. - Tudo se foi...
- Você continua viva. Ainda pode se refazer, construir uma família....
- Escute bem... Se nutre alguma esperança por causa daquele beijo, trate de esquecer. Não vai acontecer. Eu fui a mulher de um homem só e isso me basta.
- Como tem a cabeça fechada Juliette. É uma mulher saudável e pelo nosso beijo senti que tem necessidades...
- Não me venha com seu diagnóstico. - disse contrariada.
- Quem te beijou foi um homem e não um médico, porém eu já estudei muito sobre o corpo humano então não subestime a minha inteligência e nem as minhas vivências.
Nesse momento, levantei e fiz saída. Rodolffo levantou e ficou diante de mim.
- Eu também te desejo Juliette.
- Cala a boca. Senão amanhã mesmo volto a Paraíba.
- Está me ameaçando enquanto eu digo que te quero?
- Não me quer. Quer trocar o óleo, mas não vai fazer isso comigo. Se quer que eu continue sendo a babá da sua filha, esqueça o beijo, essa conversa e o seu desejo. Vamos viver como se isso nunca tivesse acontecido.
- Tudo bem. A Elisa merece tudo de bom que eu posso ofertar a ela e a sua companhia é muito importante para ela nesse momento. Morre aqui Juliette todas as tolices que falamos.
- Obrigada.
Sai dali mantendo a minha postura, mas quando entrei no meu quarto chorei. O motivo era um misto de tantas coisas.
...
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Os Caminhos (In)certos
FanfictionO quê reserva o destino para duas pessoas machucadas?