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Chegamos em casa animados e Elisa logo subiu ao quarto com Juliette. O quarto da minha funcionária é de frente ao meu e ouvia a farra que Elisa fazia antes de tomar banho.

Cheguei mais próximo da porta do quarto e ouvi algumas coisas.

- Juzinha vem comigo, por favor. - Elisa insistia.

- Eu te banho primeiro, depois tomo meu banho. Te deixo com o seu papai.

- Não quero. Por favor.

- Só hoje então.

Juliette fazia os gostos de Elisa e aparentemente tinham ido tomar banho juntas. Depois do banho começaram a conversar de novo. Elisa era muito curiosa.

- Um dia eu vou ser assim como você?

- Vai sim princesa. Mas demora muito ainda.

- E promete que não vai embora daqui?

- Isso eu não posso prometer. Mas eu prometo que seremos sempre amigas, combinado?

- Não vai me deixar. Por favor. - escutei um chorinho e percebi o quanto minha filha era carente.

- Calma querida. Eu estou contigo. Não chore. Agora eu vou te arrumar e você vai ficar com seu papai.

Minutos depois Juliette abriu a porta e me pegou desprevenido. Fiquei sem graça e ela aparentemente também ficou, o clima não foi pior por que Elisa nos chamou a atenção.

- Olha papai. Estou limpinha e com fome.

Peguei minha filha no colo e Juliette fechou a porta. Fomos para a cozinha e verifiquei o quê tinha ali para comer. Cleonice sempre deixava o nosso jantar pronto, para apenas esquentar no microondas, mas hoje não tinha nada. Olhei para Elisa e me senti um pouco frustrado.

- Pequena, não tem jantar.

- Mas eu tô com fome papai.

- O papai vai comprar alguma coisa por que eu não sei cozinhar.

Juliette entrou na cozinha, com uma roupa mais leve que a habitual e nos avisou.

- Minha prima não estava bem, então pedi para fazer o jantar e como geralmente você não janta em casa, eu ia fazer alguma coisa para mim e para a Elisa jantar.

Percebi que nesse tempo todo de Juliette conosco, eu realmente nunca  jantei com elas.

- Se brincar com a Elisa, rapidamente faço o jantar.

Levei a Elisa para brincar um pouco e em trinta minutos tínhamos comida na mesa. Juliette não fez nada muito difícil, mas o prato preferido da Elisa. Arroz branco, Strogonoff de frango com milho verde dentro e muita batata palha. Além de uma pequena porção de farofa. O suco era de laranja, o meu preferido e da Elisa também.

- Farofa é costume nordestino. Amo farinha, mas fiz pouco por que não sei se você gosta. Elisa só gosta da batata palha.

- Eu também gosto de farofa Juliette.

Comemos e Elisa puxava todos os assuntos possíveis. Juliette sempre interagia com ela, até que um assunto em especial fez ela se calar.

- Papai, sabia que Juzinha tem um corte do amor?

Elisa não sabia guardar segredos e obviamente ela estava contando um detalhe íntimo da Juliette.

- Filha está na hora de escovar os dentes e dormir.

- Quero dormir com a Juliette.

- Não. Já te falei que tem o seu quarto e na nossa viagem tem o seu quarto também. Papai te cuida pela câmera pequena.

- Por favor papai.

- Não tem problema por mim. Elisa pode dormir comigo. - Juliette disse tirando os pratos da mesa.

- Não dá certo. Cada um no seu quarto.

Elisa já estava muito grudada na Juliette, não quero que ela se sinta sufocada. E sem falar que essa informação da Elisa me deixou pensativo. "Corte do amor" é uma expressão comum para as mulheres que tem filhos de cesariana, Juliette havia tido um filho? E onde estaria essa criança?

Coloquei Elisa para dormir e quando ia descer para a cozinha ouvi a porta do quarto de Juliette se fechar.

Respirei fundo e entrei no meu quarto. Tomei banho e me preparei para dormir, mas o sono nunca vinha, então resolvi ir até a cozinha tomar uma água, porém ao sair do meu quarto escutei um choro.

Abri o quarto de Elisa e ela dormia profundamente, então era Juliette quem chorava. Mesmo receoso bati na porta do seu quarto. Eu era médico e se ela estivesse doente, poderia ajudá-la.

- Juliette, está tudo bem? Precisa de ajuda?

Ela não respondeu, mas o choro ainda se ouvia. Com meu instinto habitual, girei a maçaneta da porta e abri o seu quarto. A achei encolhida e coberta, mas ainda chorando.

- O quê aconteceu? - perguntei me aproximando.

- Foi só um sonho. Já estou bem.

Um sonho era capaz de fazer tudo isso?

...

Os Caminhos (In)certosOnde histórias criam vida. Descubra agora