59. Meio Retorno

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Ralf Return - Adrianne Lenker

Octavia

 Ela meneou os fios soltos, conectando-os com uma prudência imoderada enquanto ensinava dois terráqueos a como fazê-lo. O dispositivo começou a emitir um leve zumbido, indicando que estava pronto. 

- Agora, quando pressionarem este botão vermelho, ela estará ativada - Octavia sorriu, vitoriosa por ter conseguido, então ela distendeu o braço para filar o controle que fez durante a noite. - Quando todos os explosivos estiverem em suas posições, pressionem esse outro botão e tudo vai explodir. Entenderam?

 Os dois adultos ao lado de Octavia assentiram, trocando sorrisos cúmplices. O som de passos esmagando as folhas no chão recorreu a atenção de Octavia, fazendo-a virar-se para encontrar Maham. Com as mãos discretamente escondidas atrás do corpo, Maham observava Octavia com um olhar entusiasta. Octavia hesitou por um momento, incerta se deveria se aproximar, mas a sensação de comunicação silenciosa com um dos terráqueos pareceu encorajá-la. Lentamente, ela se ergueu e começou a caminhar em direção a Maham. 

 Embora não compreendesse totalmente porquê Maham desejava conversar com ela, Octavia sabia que não podia questionar. 

- Como você sabe fazer aquilo? - perguntou, sinalizando com a cabeça na rota dos explosivos sobre a mesa de madeira ao ar livre.

- Bellamy me ensinou tudo o que podia enquanto eu ficava presa em casa. Ele é bom com essas coisas, por incrível que pareça - Octavia expôs uma risada ofegante, e pela primeira vez, um sorriso emergiu nos lábios de Maham.

 Um silêncio incômodo se instaurou. Octavia pretendia mesmo dizer alguma coisa; qualquer coisa que extinguisse aquela situação constrangedora, mas Maham dispôs iniciativa. 

- Você pode me acompanhar? Quero te mostrar uma coisa.

 Octavia ficou um pouco confusa e nervosa com a pergunta. Maham, porém, estava sendo tão agradável, que Octavia decidiu dar uma chance e ouvi-la.

As duas percorreram a vila em um silêncio desconfortável. Octavia sentia a urgência de questionar tudo: por que estavam ali e qual era o motivo de Maham querer mostrar algo tão misterioso. No entanto, o medo a paralisava, impedindo-a de dirigir qualquer pergunta a Maham. Entre árvores e galhos, Maham parou subitamente, fazendo Octavia tropeçar no corpo de Maham sem querer. Mas ao olhar para baixo, ela avistou o que parecia ser um bunker.

- O que é isso? - perguntou, deslizando as mãos sobre a poeira na porta do bunker para conseguir ler o que estava escrito. - "G105"?

- É um bunker, o centésimo quinto de muitos - Maham se agachou ao lado de Octavia e abriu a porta de ferro, convidando-a para entrar - Vamos. Confie em mim.

Octavia hesitou por um instante, encarando a profunda escuridão abaixo das escadas. Engoliu em seco, suspirou fundo e então se lançou para dentro do bunker. À medida que desceu as escadas e pisou os pés no interior, luzes amarelas imediatamente se acionaram, algumas piscando e outras ainda mais fracas devido ao tempo.

- Foi aqui onde os humanos que ficaram na terra se instalaram por anos. Se não me engano, são mais de duzentos bunkers espalhados pelo mundo. São poucos, mas aparentemente foi o que o governo conseguiu fazer. Parece até que já sabiam que isso tudo aconteceria.

Octavia finalmente parou para analisar o local. Haviam colchões espalhados sobre boa parte do chão e latas de comida em uma estante que parecia existir há trezentos anos. No centro, uma mesa de pedra exibia uma ilustração em miniatura da vila dos terráqueos. Octavia se aproximou, observando a cabana de Maham, a mesa enorme na qual jantou na noite passada, e até mesmo as cercas repletas de animais. Era tudo idêntico à vida real.

- Isso é muito incrível.

- É sim - Maham soltou uma risada ofegante, tocando o ombro de Octavia em seguida. - Enquanto estavam presos no bunker, planejaram toda a vila daqui, na esperança de que quando voltassem à terra, pudessem realizar e construir tudo isso.

- Permaneceu assim por tantos anos?

- Sim, Octavia. Ninguém queria se desfazer de suas origens. Eu não quis. Foram eles que construíram o meu lar.

 Octavia sorriu, orgulhosa. Maham não parecia nem um pouco ser o monstro que pensava que era.

 Na parede de pedra, centenas de nomes estavam escritos com faca. No entanto, todos tinham um risco enorme no meio, cortando-os.

- E isso aqui?

- Os nomes de todos os líderes eram escritos na parede. Conforme morriam, seus nomes recebiam um traço marcado por um punhal.

Ela lia os nomes de várias pessoas, até que seus olhos encontraram o nome de Maham na pedra, intacto. Ela era a única sobrevivente da família.

- Então... você precisa ter uma filha ou algum integrante da família, certo?

- Não necessariamente. Isto não é a realeza. Os terráqueos fazem uma votação. Somos democráticos na medida do possível.

- Votaram em você?

- Basicamente apenas eu estava adepta à isto. Nenhum  terráqueo queria fazer parte desta parede, muito menos eu.

- Mas você era filha dos líderes, então.... - O simples oscilar da cabeça de Maham sinalizando um "sim" já foi o suficiente para que Octavia entendesse. - Nossa. Eu sinto muito.

Antes que Maham pudesse articular uma palavra, passos pesados e rápidos ressoaram do lado de fora, seguidos pelo eco estrondoso dos punhos batendo na porta de ferro do bunker. Maham apressou-se em direção à porta, Octavia seguindo-a de perto. Com a entrada da luz do sol, um novo terráqueo surgiu, sua expressão tomada pelo desespero, implorando para que Maham o ouvisse.

- Você precisa ver isso - Foram as únicas palavras dele antes de retornar, olhando para trás para conferir se Maham estava mesmo o acompanhando.

Octavia hesitou por um momento, indecisa sobre seguir ou não, mas o alvoroço da multidão que se aglomerava no portão da vila atraiu sua atenção. Ela fechou rapidamente o bunker e correu desajeitadamente para alcançar Maham e o outro terráqueo.

- Ele precisa morrer! - alguém gritou.

- É a nossa vingança! - Dessa vez, uma voz feminina ecoou.

Ela se abriu caminho entre a multidão, empurrando alguns para o lado, até finalmente chegar ao centro. Octavia ficou completamente chocada ao ver Bellamy com os cabelos castanhos grudados na testa de suor, enquanto Lincoln lutava desesperadamente para afastar as pessoas ao redor. Mas o que a deixou ainda mais angustiada foi ver Bellamy e Lincoln segurando Newt nos braços.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100 & MAZE RUNNER|Onde histórias criam vida. Descubra agora