51. O Peso da Traição

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Octavia

 Os muros se ergueram diante deles como sentinelas sombrias, projetando uma aura de desafio e isolamento. Octavia sentiu um arrepio percorrer sua espinha, enquanto o vento frio sussurrava em seus ouvidos, evocando a lembrança desagradável de visitar aquele lugar novamente. Foi ali, na aldeia dos terráqueos, que ela enfrentou algumas das horas mais difíceis de sua vida, apesar de ter sido lá que conheceu Lincoln.

Quando estavam caminhando em direção ao enclave hostil, Octavia e os outros repassavam seu plano incessantemente. Ela percebeu que estavam todos mergulhados em suas próprias preocupações e tarefas, tão absorvidos que mal notaram se Bellamy teve um de seus surtos de raiva característicos. Afinal, ele costumava perder o controle quando se via sobrecarregado por problemas, mas agora, com o tempo escasso, não havia espaço para tal luxo.

- Vamos entrar todos juntos? - Dylan se pronunciou, sinalizando os portões de madeira com o olhar.

- Exatamente - Lincoln respondeu.

 Ele lançou um olhar para Octavia, e então seus olhos desceram para a mão esquerda dela. Não demorou muito para que Octavia compreendesse o significado desse gesto silencioso. Quando Lincoln estendeu a mão em sua direção, ela prontamente entrelaçou os dedos nos dele, em um gesto que não passava despercebido.

 Um sorriso vacilante brincou nos lábios de Octavia, mas sua fugaz alegria foi dissolvida quando Lincoln, com um único impulso, abriu os portões diante deles, criando espaço para a ansiedade se alojar em seu estômago, virando-o de cabeça para baixo. Passos hesitantes foram dados enquanto todos começavam a adentrar.

 A realidade se desenrolou diante de seus olhos em uma cena caótica. Adultos feridos jaziam em todo lugar, enquanto mulheres se esforçavam para aplicar curativos com a ajuda de crianças pequenas. Os terráqueos emanavam uma tristeza profunda, misturada com uma fúria contida e uma sede por justiça. O ar estava carregado com um misto de nojo e medo, e as crianças olhavam ao redor com olhos assustados.

 Octavia sentiu um peso de culpa se acumular em seus ombros, uma sensação tão avassaladora que ela desejou poder correr e abraçar cada um daqueles terráqueos. Apesar de tudo, ela sabia que também eram seres humanos, com suas próprias famílias e lutas. 

 Dentro e fora do grupo dos Cem, todos estavam tomados pelo medo, agindo defensivamente em face do desconhecido.

- Eu... o que nos fizemos, Lincoln? - ela sussurrou para ele, interrompendo o caminho dos demais. Sua voz estava embargada, e a culpa crescia cada vez mais. 

- Eles tiveram sua fração de culpa também, Ov. Não fomos nós que forçamos essa guerra. 

- Poderia não ter sido assim - retrucou, engolindo as lágrimas. 

- Mas foi, e só temos essa chance de mudar tudo - Ele segurou as mãos dela com cuidado. - Confie em mim. Vou salvar sua família.

 Octavia assentiu, pronta para avançar em direção ao centro da vila, mas Lincoln a deteve com um gesto, interrompendo todo o grupo. Ele fez um sinal indicando que iria prosseguir sozinho e instruiu todos a esperarem ali. Com passos deliberadamente lentos, Lincoln avançou, capturando a atenção dos terráqueos ao redor.

 De repente, da maior barraca da aldeia, um homem surgiu. Sangue escorria de sua testa, mas sua expressão não denotava medo. Ele se aproximou de Lincoln, e em um movimento rápido como um borrão, mirou sua lança diretamente no pescoço de Lincoln.

- Você não deveria ter voltado - ele disse, fazendo a lâmina tocar a pele de Lincoln.

- Não! - Octavia gritou, prestes a correr para intervir, mas uma mão grande e forte cobriu sua boca e braços a seguraram com firmeza.

 Uma tontura momentânea a dominou, mas logo ela reconheceu o abraço reconfortante do homem que a segurava: Bellamy.

- Lincoln sabe o que está fazendo - Ele a segurou com força, mantendo-a segura enquanto a cena se desenrolava diante deles. - Fique calma.

 Ela soltou um suspiro profundo, esforçando-se para manter-se presente no momento. Lincoln, por sua vez, mantinha uma conversa com o terráqueo, mesmo com uma lança ainda direcionada ao seu pescoço. O terráqueo, então, apontou na direção de Octavia. Depois de Lincoln pronunciar algo ininteligível, o homem entregou a lança para outro terráqueo e adentrou uma das cabanas. O tempo parecia esticar-se infinitamente, cada minuto se arrastando como se fosse uma eternidade, até que, finalmente, Lincoln voltou-se para Octavia e os outros.

- Nós podemos...

 Antes que Dylan pudesse acabar de falar, Lincoln assentiu com a cabeça.

 Após Lincoln, eles adentraram uma das maiores cabanas do local. Enquanto todos se dispersavam pelo espaço, Octavia vislumbrou uma mulher de longos cabelos vermelhos, sentada sobre uma espécie de trono improvisado, afiando um punhal com destreza. Seu olhar percorreu todos os presentes, até que, em meio ao silêncio perturbador, Octavia decidiu rompê-lo.

- Eu... nós queremos fazer uma reunião - ela disse. 

 A terráquea finalmente encarou Octavia e, após segundos de silêncio, soltou um riso abafado.

- Por que querem uma simples reunião depois de matarem metade de nossas famílias? - questionou, com escárnio.

- Bem... - Raven limpou a garganta antes de responder. - Foram vocês que provocaram essa guerra. Nós estávamos em paz.

 A mulher fixou os olhos em Raven, uma raiva crescente parecendo percorrer suas veias com força. Estava prestes a lançar um xingamento contra Raven, quando Lincoln deu um passo à frente, roubando sua atenção.

- Eu sinto muito por trair você, Maham. Só pensei no que os outros fizeram pra mim e usei isso como justificativa. Mas você não merecia isso - ele fez uma pausa dramática. 

- O que tivemos no passado não vai voltar, Lincoln - retrucou ela.

  Octavia ficou confusa. O que exatamente aquelas palavras significavam? Será que implicavam que eles já haviam tido um romance no passado? A ideia pairava em sua mente, obscurecendo seus pensamentos. No entanto, o que a perturbava ainda mais era o fato de que, se fosse verdade, Lincoln não ter compartilhado isso com ela era um tanto decepcionante. A sensação de desconfiança e a possibilidade de segredos não revelados lançavam uma sombra sobre a situação, deixando Octavia com uma sensação desconfortável e incerta.

- Eu não quero que volte. Mas por favor, me perdoe e escute o que eles têm a dizer.

 Maham se irritou, atirando o punhal que amolava com força contra a parede da cabana. O som metálico ecoou no ambiente tenso. Em seguida, ela se levantou abruptamente, aproximando seu rosto do de Lincoln com uma intensidade palpável.

- Eu só te perdoaria... - ela cuspiu as palavras com fervor -, se você estivesse na minha frente, com todos os seus membros cortados e expostos para que todos vissem o traidor que nos entregou. - Seu olhar varreu Octavia com um misto de pena e desdém antes de retornar a Lincoln. - Cuide bem da sua nova namorada quando pisar fora dessa aldeia - ela concluiu, com um tom de desafio.

 Octavia sentia a irritação crescer dentro dela diante da situação, mas se esforçou para manter a calma e não perder o controle. 

Isso é sobre Clarke e Wells, e não sobre mim e Lincoln.

  Respirando fundo, ela tentou se concentrar em não deixar que suas emoções pessoais obscurecessem o objetivo maior da reunião e da resolução do conflito entre as partes envolvidas.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100 & MAZE RUNNER|Onde histórias criam vida. Descubra agora