40. No vórtice do conflito

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Bellamy 

  Arkidia, outrora palco de inovação e atividade incessante, agora era uma cápsula do tempo, um monumento ao que já fora. Desde sua chegada, depararam-se com um centro de controle tecnológico abandonado, com computadores ainda ligados, mas telas exibindo mensagens de erro e sistemas desativados. Um fraco holograma tremulante de uma inteligência artificial, um dia programada para administrar a cidade, piscava timidamente, numa última tentativa de se manter ativo. 

  Bellamy ofereceu uma xícara do que parecia ser café, obtida em uma das cozinhas dos escritórios, para Dylan, que não levantou nenhum questionamento. Há alguns minutos, eles vinham desenvolvendo um plano para usar William a seu favor, incluindo instruções para que Monty criasse maneiras de distrair os terráqueos quando os encontrassem, e aquela foi a primeira vez que sua equipe teve a oportunidade de descansar.

- Teresa é uma garota incrível mesmo. Eu já deveria ter presumido que vocês dois acabariam juntos - disse Bellamy entre risadas, decepcionado consigo mesmo. Ele era observador, e tinha uma antiga habilidade em adivinhar o futuro de pessoas, desde que passou parte do seu intervalo na Arca observando os moradores em seu cotidiano. - Falando em romances, sinto muito.

- Porquê? 

- Ah, você sabe - ele esfregou a nuca, sem jeito enquanto tentava manter contato visual com Dylan. - Você gostava da Clarke.

- Tá tudo bem. Afinal, quem não gosta da Clarke Griffin? 

     Bellamy riu afirmativamente, e quando estava prestes a continuar a conversa, Dylan olhou assustado na direção oposta a Bellamy, o que fez com que ele também olhasse na mesma direção. Octavia estava correndo em direção aos dois, e só parou quando Bellamy a segurou, observando sua expressão surpresa. Ela recuperou o fôlego e, com um leve sorriso no rosto, começou a falar.

- Eu sei o que os terráqueos vão fazer.

- Nos matar? - questionou Dylan em um tom irônico.

- Isso todos sabem. Quero dizer, eu sei todos os passos deles - ela suspirou por um momento, parecendo buscar as palavras certas. - Vão ao acampamento ao entardecer de hoje, como eu esperava. 

- O prazo, de acordo com eles, era amanhã.

- Sim, mas nós deveríamos ter adivinhado que eles atacariam muito antes, afinal, não faria sentido nos aguardar. 

- Tá, tá. Mas e depois? Disse que sabia cada passo deles - disse Bellamy, precípite.

- Quando verem o acampamento vazio, vão revirar cada rocha dessa terra. Precisamos estar prontos ainda no dia seguinte. Nós estamos em grande número, mas eles estão nitidamente em uma quantidade maior.

- Eu não sei, Ov. Aliás, de onde você tirou essas ideias? 

- Não importa. Preciso que confie em mim.

- É claro que importa, Octavia. A vida de todos nós está em risco, e não podemos simplesmente tomar uma decisão só porque você disse, com base em nada

  Ele sentiu o impacto de suas palavras atingirem Octavia celeremente, mas ela parecia não demonstrar. 

- Confia em mim pelo menos uma única vez.

  Ele refletiu, indeciso se deveria confiar nela ou não. Era realmente estranho como ela sabia disso, e poderia muito bem ser um equívoco da parte dela. No entanto, Octavia falou com tanta convicção que ele sentia que, se não a ouvisse, algo ruim aconteceria.

 O Blake suspirou profundamente, analisando todas as possibilidades em questão de segundos, e então assentiu com a cabeça. Ele não queria discutir com ela novamente.

- Tudo bem.

    Octavia abraçou fortemente seu irmão, envolvendo seus braços ao redor dele, antes de afastar-se e sorrir-lhe.

  Dessa forma, Bellamy solicitou a convocação de uma reunião a Dylan, e em questão de segundos Clarke, Wells, Dean, Monty, Rav e Jesper já estavam presentes. Bellamy presumiu que Dylan tivesse acrescentado algo mais preocupante à situação, visto que todos estavam apreensivos. Octavia explanou todos os detalhes, o que encheu Bellamy de orgulho. Ele criou a garota sozinho e era incrível testemunhar sua evolução.

 Ao ouvirem tudo, Clarke começou a elaborar o plano.

- Vocês conseguiram adquirir alguma informação com o William? - perguntou Clarke, os olhos atentos a um papel enquanto garatujava celeremente com o lápis .

- Quase nada. Tenho quase certeza que está nos escondendo algo - replicou Bellamy. Era fato que passaram horas com William, e na grande porção delas, ele dizia que nada era concretizável.

- Tentaram manipulação emocional? - ela perguntou, serena. 

 Quem é você e o que fez com a Clarke Griffin de meses atrás? Foi a primeira coisa que Bellamy cogitou, embora soubesse em seu íntimo que ninguém era o mesmo depois de tudo o que ocorreu.

- Não.

- Pois tentem, e usem Dylan. Ele pode ter sido um monstro, mas ainda é pai - ela retrucou, antes de suspirar fundo e erguer a folha rabiscada. Em síntese, Clarke deslizou a folha sobre a mesa, expondo seu desenho. - Tem como fazer algo semelhante, Monty?

O que inicialmente atraiu a atenção de Bellamy foram os olhos da criatura. Em seguida, seu olhar percorreu a imponente e robusta estrutura, admirando a pelagem curta e densa que Clarke fez questão de detalhar minuciosamente. O focinho largo, juntamente com os lábios grossos, dava margem até mesmo para questionar as habilidades artísticas de Clarke, não fosse o fato de conhecê-la desde os tempos do ensino fundamental 2. Ele se lembrava como se fosse ontem dos primeiros dias ao lado dela, como amigo, quando ela mostrou seu álbum de desenhos e ele ficou verdadeiramente impressionado com tudo aquilo.

- Acho que consigo, mas não sei se os computadores podem funcionar a esse ponto. Demorei duas horas para ligá-los.

- Faça o que for preciso. Vamos precisar de uma distração mais elaborada antes de Octavia e Raven soltarem os animais.

- Fazer o que? - exclamou Octavia, incrédula. - O Maroon e a Monroe podem acabar morrendo.

  Bellamy e Raven trocaram olhares confusos em relação ao apego emocional estranho de Octavia com o casal de gorilas, mesmo que ele pudesse suspeitar disso desde o começo.

- Nós também - replicou, friamente. O que havia acontecido com Clarke naquela manhã? - Mas mudando o assunto, vamos direto ao que interessa.

 Clarke acenou afirmativamente com a cabeça para Dean, deixando espaço para que ele proferisse.

- Os cem ficarão com armas, e o resto com arco e flecha. Quando os gorilas os alcançarem, quero que comecem a atirar nos terráqueos até que as munições e flechas acabem. Mas preciso que o façam com cautela, pois teremos combate físico. Ainda vou dividir as equipes e seus locais adequados, mas por hoje é só - ele colocou as mãos para trás, os olhos mostrando poder sobre todos ali. Mas não era algo que eles temessem, mas sim se orgulhassem. Dean era incrível para o papel, assim como Clarke. - Avisem a todos que construam mais flechas e arranjem mais munição. Só um lado vai sair vivo dessa.

  Só um lado vai sair vivo dessa. Dean estava correto, embora sempre tivesse sido assim. Mesmo na Arca, a classe nobre recebia tratamento privilegiado, o que também ocorreu quando tiveram que pousar na Terra alguns dias atrás. Neste exato momento, muitas famílias pobres, sem qualquer ligação profissional ou emocional com os governantes, estão sofrendo na nave cada vez mais privada de oxigênio. Foi a primeira vez que Bellamy sentiu gratidão por ter sido preso. E o pior é que nada daquilo era culpa deles.

  Contudo, ele ainda se questionava sobre o paradeiro de Abigail e o chanceler. Seu pai poderia ter morrido há muito tempo, já que Octavia fez um atentado contra ele, mas e quanto a Abigail? A mão direita da administração da Arca. Ela não ficou lá por escolha, para morrer. Algum mistério ainda atormentava sua mente com grande intensidade.

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