48. Conflitos internos

10 1 0
                                    

Bellamy

  Ele se deixou cair na cama improvisada, agora marcada por manchas de sangue, lembrando-se da noite em que compartilhou com Clarke a história por trás da constelação de Órion. A imagem de seus olhos brilhantes permanecia viva em sua mente, transmitindo uma conexão tão profunda que Bellamy mal conseguia expressar em palavras. Agora, a ausência dela era como uma ferida aberta em seu peito, uma dor aguda que o consumia por dentro.

  Ao alcançar sob o travesseiro, seus dedos encontraram um objeto metálico, refletindo a fraca luz ambiente. Bellamy o ergueu, reconhecendo imediatamente o relógio de Clarke, um presente de seu falecido pai. As memórias da jovem Clarke sorrindo ao receber aquele relógio invadiram sua mente, fazendo com que um nó se formasse em sua garganta.

  Uma onda de emoções o atingiu enquanto segurava aquele objeto, e Bellamy não pôde conter as lágrimas que ameaçavam escapar. Ele cobriu o rosto com a mão esquerda, tentando conter o choro que vinha crescendo dentro dele, uma torrente de tristeza que já o havia consumido nas últimas horas.

- Ela está bem. 

  Ele ergueu os olhos para encontrar Teresa, que estava sentada ao seu lado, a mão repousando gentilmente em seu ombro. Ele tentou expressar alguma emoção ou gratidão para ela, mas nada saiu. Sentia-se tão miserável que nem mesmo conseguia reunir forças para oferecer um sorriso à sua amiga.

- Desculpa, Teresa. Eu não me sinto bem pra sorrir agora - desviou os olhos para o relógio outra vez.

- Não tem motivos para se desculpar, Bell. Só quero que pegue mais leve com si mesmo e descanse. Vai precisar de energia pra salvar sua família, sabe disso.

- E se não conseguirmos? - perguntou, a voz embargada enquanto as lágrimas rolavam dos seus olhos inchados. 

- Nós vamos conseguir, Bellamy. 

  Bellamy forçou um sorriso quando Teresa depositou um beijo em seu rosto, mas seus gestos foram interrompidos pelo som de passos se aproximando. Erguendo o olhar, ele se deparou com Dylan parado diante deles, um brilho tão intenso em seu rosto que fez Bellamy se perguntar se, por um milagre, eles tinham encontrado Clarke e Wells.

- Bellamy, precisam de você. Lincoln teve uma ideia para salvar Clarke e Wells - disse, recuperando o fôlego após a corrida rápida até Bellamy. 

  Dylan tomou assento ao lado de Teresa. Bellamy lançou um breve aceno de aprovação para ela, indicando que estava tudo bem. Com um gesto automático, ele deslizou a mão até o bolso da calça, retirando uma carta que havia escrito durante a noite. Com um misto de esperança e determinação, ele a guardou na mochila de Clarke, na esperança de que, quando ela retornasse, pudesse lê-la. Então, ele se levantou de um salto e correu em direção a Lincoln, como se a urgência do momento o impelisse adiante.

"Querida Clarke, espero que possa ler essa carta quando voltar, porque sei que vai. Fizemos promessas um ao outro que temos a intenção de cumprir, e eu não as deixarei passar. Se lembra da sua primeira vez comigo no carro? Começamos a planejar o nosso casamento e você me disse que queria papoulas vermelhas por toda parte como um lembrete das lutas que enfrentamos e uma homenagem às pessoas especiais que já se foram. Eu não tinha entendido bem porque você queria se lembrar de momentos ruins, mas agora eu sei. 
  As dificuldades moldaram quem nós somos e quem ainda vamos nos tornar, e isso é importante, porque eu quero amadurecer com você.
Quero te ver, de vestido branco ou não, caminhando na minha direção com aquele sorriso enorme no rosto. Quero chorar ao relembrar o vínculo profundo que criamos, unindo-nos por meio de alianças porque você está absurdamente linda em cada uma dessas memórias. Quero futuramente contar aos nossos filhos cada detalhe do caminho que trilhamos juntos para chegarmos até aqui, sempre com você ao meu lado.
  Por favor, Clarke, onde que que esteja espere por mim. Eu te amo."

 Bellamy observou os rostos ansiosos das pessoas ao seu redor, o que o deixou ligeiramente inquieto. Por que todos pareciam agir como se ele fosse explodir a qualquer momento? 

 Lincoln se aproximou dele, hesitante, como se estivesse indeciso entre agir ou não.

- Qual é o plano? - ele perguntou com um sorriso, mas as coisas pareciam erradas.

- A única forma de salvar Clarke e Wells é... bem, se aliando aos terráqueos. Eu sei que parece loucura, mas vai dar tudo certo.

Ele ficou paralisado, absorvendo as informações, porém não demorou até que a raiva começasse a dominá-lo. Bellamy agarrou os ombros de Lincoln, cerrando os punhos, mas ao focar sua visão no rosto assustado de Octavia logo atrás, uma sensação de temor invadiu-o. Octavia, assustada, temendo seu próprio irmão. 

- Como você acha que isso vai dar certo? - com um esforço de controle, Bellamy afastou Lincoln, tentando dominar-se. - Nós acabamos de matar famílias deles!

- Foi isso o que eu disse para ele - Raven se pronunciou, em seguida respirando fundo. - Mas acho que ele tá certo.

- Isso não faz sentido! - ele se aproximou de Lincoln em um passo, apontando o indicador no rosto dele. - Olha só, eu prefiro lutar até me cansar do que me aliar ao inimigo e depender dele.

- A questão não é essa, Bellamy! - gritou Lincoln. Dessa vez foi ele quem o empurrou. - Isso não é sobre você. Não é sobre o que você prefere, mas sim sobre uma família que precisa da gente! 

 Bellamy permaneceu imóvel, resignando-se, mesmo que relutasse em admitir, sabia que Lincoln tinha razão no final das contas. Talvez não quanto à ideia de se aliar aos terráqueos, mas sim em relação ao que ele valorizava. O que fosse melhor para sua família, seria o melhor para ele.

- Por outro lado, eu te entendo - Lincoln baixou o tom de voz, percebendo que sua agressividade tinha sido evidente diante de todos. - Eu sei que não confia nos terráqueos, eu sei que quer proteger a sua família, mas pensa direito. Você quer pensar no plano perfeito que não existe ou quer salvar Clarke e Wells? 

- Eu não... - Bellamy tentou articular uma resposta, mas os olhares fixos de todos sobre ele o fizeram silenciar por completo.

- Não vamos tomar nenhuma decisão antes de você - ele tocou o ombro de Blake. - Você é o líder. Você decide.

- Não - Bellamy o interrompeu com um tom firme e alto, o que fez com que todos voltassem sua atenção para ele novamente. - Eu não sou o único líder. Todos nós somos, e eu não vou tomar decisão alguma sem antes consultá-los. 

   Ele voltou seu olhar para Lincoln e, em seguida, para Octavia, que o encarava com um sorriso sutilmente irônico. Um sorriso curvou seus próprios lábios, e então, com passos decididos, ele se dirigiu para o centro da sala, capturando toda a atenção para si.

- Não sou Clarke, Wells ou Dean. Nem de longe me comparo a eles como líder. Mas ignorar uma oportunidade seria tolice. Seja qual for a decisão de Lincoln, eu apoiarei.

  Seus amigos sorriram rapidamente em aprovação. E  num instante, Octavia correu até ele e o envolveu num abraço, seus braços circundando sua nuca. Bellamy ficou momentaneamente surpreso com o gesto, mas logo retribuiu o abraço, afundando o rosto no ombro dela. Sempre fora ele quem cuidava dela, quem a abraçava nos momentos de dor, quem a protegia dos surtos da mãe. Mas à medida que Octavia amadurecia, os papéis pareciam se inverter.

- Muito obrigada por confiar na gente, Bell - ela se separou do abraço para encarar o irmão. - Vai dar tudo certo.

Tudo vai dar certo. É a frase que ele mais ouviu nas últimas horas. Em todo lugar que ele olha, não importa a condição da pessoa, sempre que elas veem o estado desanimado de Bellamy, elas se forçam a confortá-lo com palavras de garantia, dizendo que tudo vai se resolver. Mas talvez, afinal de contas, ele realmente precisava ter a fé que tantas pessoas têm tido desde o início da guerra. Ele precisava tentar, e faria tudo ao seu alcance, até o impossível, para salvá-la. Afinal, se ele já a esperou por 5 anos, o que seriam apenas mais alguns dias?

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100 & MAZE RUNNER|Onde histórias criam vida. Descubra agora