17. Âncora

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Wells

- Eu aceitei. Estamos prontos - afirmou, convicto. Dean não conseguiu evitar esboçar um ínfimo sorriso ao ouvir suas palavras. Aquilo fez Wells sentir uma ferroada de repugnância. - Mas eu quero ter certeza que posso confiar em sua palavra.

- Eu nunca romperia um acordo, Jaha. Posso parecer um monstro à sua visão e sei que vai me condenar até seu último suspiro, portanto abomino farsas, e em hipótese alguma irei quebrar uma promessa.

- Antes, quero saber sobre os detalhes. Gostaria de pedir educadamente que deixe Wells vivo até o resgate. Vai fazer o que quiser com ele logo após, falhando ou não - Wells sabia que Clarke estava se empenhando para parecer forte, apesar do peso em sua faringe ser perceptível.

- E respondo educadamente que isso não será possível. Sei que querem passar mais um tempo com Jaha, mas não funciona assim. Hoje, ao entardecer, quando a luz do sol partir, Wells Jaha estará oficialmente morto - Dean fez questão de enrijecer seu tom de voz ao pronunciar sua última palavra.

Aquele evento ainda provocava calafrios em Wells. Ele preferia mil vezes ser inconscientemente morto do que saber exatamente quando deixaria esse mundo, ou mais diretamente, quando morreria. Ele não estava certo do que estava fazendo, mas nunca realmente considerou voltar atrás, já que nem sequer tinha essa escolha.

O momento em que Dean e Wells entrelaçaram as mãos passou rápido demais, e agora Wells se dirigia lentamente ao seu destino final. Era possível ouvir o burburinho de pessoas agitadas, enquanto Wells era arrastado por dois dos homens de Dean, seu corpo instintivamente sendo contornado pelos fortes braços do irmão. Bellamy chorava silenciosamente, e Wells não ficou surpreso com isso, afinal, era a segunda vez. Wells queria dizer que, apesar de todas as desavenças, ele amava Bellamy.

- Eu te amo, Bell - disse Wells, um nó desenvolvendo-se em sua garganta. Um dos homens arrancou Bellamy de cima de Wells.

- Eu também te amo, maninho - Ele olhou com desprezo para os homens e arrumou a manga de sua camisa, permitindo a passagem enquanto encarava Wells com o mesmo olhar genuíno da infância.

Uma hora antes, Octavia chorava descontroladamente sobre seus pés. Wells deixou escapar um sorriso estreito quando lembrou-se das inúmeras vezes em que ela disse eu te amo em um único minuto.

Wells não estava ridicularizando ela, pelo contrário; ele ficou satisfeito por saber que morreria sabendo que todas as pessoas pelas quais se importou durante sua vida também o consideravam, ou talvez nem todos. Wells nunca ouviu seu pai dizer que amava seu próprio filho, e ele imaginou inúmeras vezes qual seria a reação dele se soubesse que Wells se sacrificou para dar à sua nação a oportunidade de pelo menos tentar viver. Isso seria o mais próximo que ele chegaria de agir como um chanceler? Se ele não precisasse morrer, se não estivesse na terra, ele poderia realizar seu sonho de se tornar um chanceler? Eram dúvidas demais para serem respondidas em tão pouco tempo. Faltavam apenas 10 minutos para o pôr do sol. As luzes da pequena cidade já estavam acesas e Wells encarava cada rosto das pessoas presentes ali, testemunhando a morte de um desconhecido e aplaudindo Dean sem nem saber o motivo. Era evidente que havia um motivo específico, seu pai nunca foi o herói que todos acreditavam que ele fosse, mas seria cruel tirar a vida de alguém inocente pelos crimes que seu pai cometera.

Na verdade, ele sonhava em se tornar uma pessoa diferente de seu pai. Ele não queria ser como o chanceler, mas sim ser uma pessoa melhor, e se esforçava todos os dias para isso. Wells desejava ajudar todos aqueles que lhe importavam, e não queria que mais ninguém morresse por motivos contraditórios ou perdesse um ente querido por falta de equipamentos médicos; ele ansiava por ver sorrisos genuínos. Enquanto um homem o amarrava a uma grande estaca de madeira, Clarke se aproximou dele. Ela enxugou suas lágrimas com as mãos apoiadas nas bochechas dele e, naquele momento, desabou. Olhando ao seu redor, ele percebeu que não via mais ninguém chorando, exceto Octavia, Bellamy e Clarke. Era difícil encarar a morte sabendo que nenhum deles teria a ferida completamente curada, mas ele precisava seguir em frente com aquilo.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100 & MAZE RUNNER|Onde histórias criam vida. Descubra agora