56. Confiança Cega

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Bellamy

 
Bellamy coçou os olhos, tentando afastar a sonolência que ainda o envolvia. Ele observou Maham por um momento, vendo-a concentrada em seu trabalho. A barraca estava iluminada pela luz fraca do amanhecer, dando um ar tranquilo ao ambiente. Bellamy se levantou devagar, tentando não chamar a atenção de Maham, mas falhou miseravelmente.

- Está atrasado. Não caía no sono em lugares como esse. Você precisa treinar.

- Eu tenho uma dona agora? - perguntou, em um tom insultuoso.

  Bellamy sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao encontrar o olhar penetrante de Maham. A postura dela lembrava a determinação de Clarke, mas havia uma aura de crueldade que a diferenciava. Ele se perguntou o que ela estaria planejando enquanto a observava, cauteloso.

- Eu não gosto de você. Não gosto de nenhum dos seus amigos - Maham dizia ao mesmo tempo que se aproximava.

- Legal. Eu também não gosto de você.

- Mas, acontece que, não podemos nos odiar ainda mais. Talvez as coisas mudem daqui pra frente, talvez você goste de mim e...

- Definitivamente não vou.

- E talvez possa mudar de ideia - continuou.

Bellamy sentia-se cada vez mais frustrado com a postura enigmática de Maham. Sua falta de transparência estava começando a tirá-lo do sério. Ele não conseguia entender as motivações por trás de suas palavras e ações, e isso o deixava ainda mais confuso e desconfortável.

- Olha só, Maham. Qual é o seu problema? Você me odeia, e sei que odeia Clarke ainda mais. Por que quer nos ajudar?

Bellamy sentia um medo latente ao abordar aquele assunto delicado com Maham. Ele temia que ela desistisse e os colocasse de volta à estaca zero. No entanto, sabia que uma das principais motivações de Maham era acabar com os serranos, o que o impelia a enfrentar o desconforto e continuar a conversa.

- Há alguns anos atrás, mais ou menos quando eu tinha oito anos, encontrei um garoto no meio da floresta. Era Lincoln - ela contava, nostálgica. Ele sentia a vontade de questionar, de entender melhor os detalhes, mas optou por apenas ouvir atentamente. Era como se cada palavra dela fosse uma peça de um quebra-cabeça, e ele queria juntar todas para entender a imagem completa. - Ele me viu e se assustou porque sabia que eu era filha dos líderes, mas insisti para que continuasse e ficasse comigo. Os adolescentes não gostavam de mim. Me viam exatamente como viam meus pais: autoritários e cruéis. Mas Lincoln não era assim. Ele ficou comigo e cuidou de mim de forma que nem meus pais conseguiam. Nós nos amávamos, mas quando meus pais morreram, precisei assumir tudo. Eu tinha só dezessete, Bellamy. Tudo era muito recente e eu não sabia o que fazer, e foi isso que me afastou do amor da minha vida. 

 Bellamy sentiu a sinceridade nas palavras de Maham quando ela soltou um suspiro cansado e se sentou na cadeira de madeira, perdida em seus pensamentos. Ele tocou suavemente seu ombro, compreendendo o peso da perda e da solidão que ela carregava. Apesar das diferenças e da tensão entre eles, havia uma conexão silenciosa na compreensão mútua da dor.

- Fui ensinada a colocar a necessidade dos outros acima da minha, e consequentemente, me tornei como o meu pai. Fui obrigada a tirar a vida dos pais de Lincoln com minhas próprias mãos. Estou te dizendo isso porque quero que confie em mim... e porque quero que Lincoln perceba que ainda tenho compaixão em meu íntimo. Octavia o faz feliz, e isso é o suficiente. Só espero que antes que eu deixe esse mundo, ele tenha uma impressão boa sobre mim e possa contar isso aos seus futuros filhos. 

 No fundo, ele se identificava com ela. Ambos carregavam o peso da perda e do medo de perder aqueles que amavam. Afinal, para Bellamy, a ideia de perder Clarke, Wells e Octavia era insuportável. Ele só queria protegê-los e mantê-los a salvo, custe o que custasse.

- Duas das pessoas que eu amo correm perigo com os serranos - ele abaixou-se e alcançou a mão de Maham. - Muito obrigado por aceitar tudo isso. Sei que me entende. Quero salvá-los mais que qualquer outra coisa nesse mundo.

- Já está na hora deles pagarem por tudo isso - ela sorriu, fazendo com que Bellamy retribuísse. 

 A chegada de Octavia, Dylan, Raven e Sasha interrompeu o momento. Bellamy se afastou rapidamente da líder dos terráqueos, percebendo que Raven havia notado o gesto, pois ela os olhava com as sobrancelhas arqueadas, denotando curiosidade ou desconfiança.

- Bem, nós tivemos uma ideia - Octavia começou, animada. Bellamy estava feliz por vê-la assim. - É só a primeira parte do plano porque não pensamos no resto ainda, mas deve funcionar.

 Ele ouvia Octavia e Dylan atentamente, absorvendo cada palavra deles, mas sua atenção foi desviada quando Raven começou a cutucá-lo com o dedo repetidamente. Ela não parou até que ele finalmente a olhasse, sinalizando que ela queria compartilhar algo urgente.

- Que droga você estava fazendo com essa mulher estranha? - sussurrou, indignada. 

- Conversando.

 Bellamy tentou voltar a concentrar-se na conversa com Octavia, mas Raven continuava a cutucá-lo, e a irritação crescia dentro dele. Ele finalmente virou-se para Raven com uma expressão de impaciência, prontamente indicando que estava ficando incomodado com as interrupções constantes.

- Sobre o quê? 

- Sobre o passado dela - sussurrou de volta. - E eu agradeci por tudo o que ela está fazendo por nós. 

Raven inicialmente expressou desconfiança ao olhar para Maham, mas logo desviou o olhar e deu de ombros, suavizando sua expressão.

Ela não estava errada em ter suas dúvidas, Bellamy compreendia isso. Se estivesse na mesma situação, certamente teria reações semelhantes.

- E é isso. O que você acha? - perguntou Octavia, encarando Maham com um brilho intenso no olhar.

Bellamy percebeu que Octavia estava dando tudo de si para salvar Wells e Clarke. Ele sentia que nunca a tinha visto tão responsável e concentrada, o que o deixava em dúvida se aquilo era bom ou ruim. No entanto, ele tinha uma certeza: faria o que pudesse para destruir os serranos.

𝑹𝑨𝑪𝑬 𝑨𝑮𝑨𝑰𝑵𝑺𝑻 𝑻𝑰𝑴𝑬 |THE 100 & MAZE RUNNER|Onde histórias criam vida. Descubra agora