CAPÍTULO 5: AMIGOS E INIMIGOS 3☀️

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Aproveitamos bastante até o escurecer. No caminho para casa percebi que havia algo que ainda o estava incomodando. Sua feição era estranha, totalmente inexpressiva;
--Edward, está tudo bem?
--Sim, eu gostei muito do nosso dia de hoje.
--É, foi bem legal, mas você ainda me parece meio abatido.
--É que, por mais que eu tente, eu não consigo parar de pensar na hipótese do meu pai me levar a força para morar com ele. Isso seria o fim pra mim Espurr.
--Fica tranquilo, ele não vai fazer nada,  ainda mais se não souber aonde você está.
--Ele não vai demorar a saber, tenho certeza.
--Quando ele chega?
--Acho que semana que vem.
--Ótimo, semana que vem nem vamos estar aqui, vamos para a fazenda da minha avó esqueceu?
--Mas uma hora vamos voltar Espurr, e ai vai ser nesse momento que ele irá me achar.
--Vamos dar um jeito, tudo vai dar certo.
Durante o caminho todo até em casa tentei tranquilizá-lo, mas não pareceu funcionar muito bem. No entanto, ao chegarmos em casa, eram sete e vinte da noite, papai já nos esperava com o jantar pronto;
--Oi meninos, o jantar já está pronto, por onde andaram a tarde toda? (Papai)
--Fomos ao lago ver o pôr do sol pai.
--Pescamos também, aqui no saco tem alguns dos nossos pescados tio. (Edward)
--Que maravilha, um peixinho assado é tudo de bom.  Quando eu pescava no lago da cidade que nasci, eu gostava muito, Jared sempre tinha medo de ser atacado por tubarões ou piranhas. (Papai)
--Quem é Jared? (Edward)
--Jared é meu tio, irmão mais novo do meu pai.
--Sim, um medroso em relação as águas. (Papai)
--É, mas em compensação se tornou um ótimo fisioterapeuta.
--Sim, um dos melhores, tenho que reconhecer que sempre foi mais inteligente dl que eu. (Papai)
--E o filho herdou a inteligência também, meu primo é muito esperto.
--Você tem primo? (Edward)
--Tenho vários. Da família de papai, tenho o James, filho do tio Jared, tenho a Lya, filha mais velha da tia Mônica e o filho mais novo dela o Emílio.
--Caramba, é uma família até que grande. (Edward)
--Minha mãe queria muito ter tido mais filhos, mas depois que Jared nasceu, ela não pode mais por problemas de saúde. (Papai)
--Sua mãe ainda é viva tio Mariano? (Edward)
--É sim, ela mora lá em Santa Catarina. Numa chácara incrível, com vários animais e plantas, como ela sempre gostou. (Papai)
--Quanto tempo o senhor não vê o vovô e a vovó pai?
--Faz uns dois anos que não os vejo, só ligamos por telefone as vezes. (Papai)
--Você tem todos os avós Espurr, isso é muito bom. (Edward)
Fiquei pensativo, pois ao ouvir ele dizer isso, me lembrei do meu avô. Minha vó devia se sentir muito só naquela fazenda, uma visita minha iria alegrá-la nem que fosse um pouquinho;
--Tá tudo bem? (Edward)
--Sim, eu só fiquei pensativo.
--Lembro dele não foi filho? (Papai)
Ele me olhava com um olhar de tristeza, sabendo que aquilo tinha realmente me feiro lembrar do meu avô;
--Dele quem? (Edward)
--Edward, eu não tenho todos os meus avós. Meu avô por parte de mãe faleceu a uns anos quando eu era pequeno.
--Eu não sabia, desculpa ter te feito lembrar... (Edward)
--Tá tudo bem, eu as vezes gosto de lembrar, ele era especial pra mim.
Eu disse aquilo, mas por dentro meu eu estava com muita vontade de chorar por estar quase relembrando todos os momentos que passei com meu incrível avô. Encerramos o assunto e eu subi pro meu quarto, entrei no banheiro e tomei um belo banho.
Enquanto as águas caiam sobre meu rosto, aliviando a tensão que eu carregava nos cabelos e em minha pele, senti uma sensação estranha. Não foi bem uma sensação, foi mais um pressentimento de que algo ruim aconteceria. Saí do banheiro encucado com isso, peguei uma blusa preta e uma cueca azul escura no closet e vesti. Estendi a toalha no varal que instalei na varanda do meu quarto e me joguei na cama com o intuito de descansar ao máximo, já que na manhã seguinte haveria aula cedo.
Porém, algo sempre arruinava minha tentativa inútil de descansar, meu telefone tocou e não parava de vibrar mesmo estando no silencioso, não tive jeito se não atender e acabar logo com aquilo;
--Mas quem é o sem noção que tá me ligando uma hora dessas?
--Temos uma missão a cumprir se lembra disso?
Foi ai que eu me toquei e a ficha caiu;
--G. Isso são horas?
--Sim, são. Temos muito que fazer, já está preparado para o que vai ter que fazer?
--Isso não vai ser nada fácil G. Aliás, você sabe se essa escultura artística vem mesmo pra cá?
--Ela irá, estará ai amanhã a noite.
Confesso que não gostei nem um pouco de saber disso. Eu não queria mais ter que me envolver naquilo, mas me comprometia muito, sem contar nos riscos e danos que traria a todos que eu amava. Por outro lado G estava certo, tínhamos que pegar aquele pedaço que estava escondido na escultura, Doutor P já estava com um dos pedaços em mãos, pedaço o qual ele se apossou incendiando uma companhia inteira de teatro. Foi um completo erro Marisol ter escondido um dos dois pedaços que tínhamos naquela companhia teatral, todos aqueles artistas mortos por nossa culpa. Deveríamos ter previsto que aquele maníaco faria qualquer coisa para ter as partes da relíquia em mãos, ou seja, tínhamos que recuperá-las antes dele;
--Muito bem, como vou fazer isso? Vou simplesmente entrar no museu e roubar a parte?
--Não, assim você seria pego de cara. Vai haver todo um jogo de seguranças por lá, vai ser a estreia da obra na cidade e será mais arriscado para você.
--Como vou fazer então?
--Vou te mandar por E-mail a planta do museu. Na sexta a noite é que tudo irá acontecer, você vai estudar cada ponto até lá, para entrar como um visitante e sair depois que todos já tiverem ido, assim terá todo o tempo para executar o serviço.
--E como que eu vou sair?
--Vai saber assim que achar o pedaço e tiver ele em mãos. Ele vai ser nosso passaporte não só para deter o Doutor P, mas também para você sair de lá com todo o triunfo.
--Beleza, me manda as plantas que eu vou montar um jeito de entrar.
--Ótimo, te ligo depois.
Um nervosismo me atingiu como uma bala. Como eu faria aquilo era um mistério, mas eu teria que fazer. Tentei não pensar naquilo por pelo menos naquela noite, teria de descansar bem, já que naquela última semana seria somente provas. Deitei, mas não conseguia dormir, meus olhos se fechavam, porém minha mente ainda funcionava, tentei pensar em coisas boas ou em memórias boas, o que não deu muito certo, já que as que vinham na minha cabeça eram praticamente todas com o Cristian. Só de pensar que pela manhã teria que vê-lo, me senti chateado.
Em meio as minhas paranoias mentais, uma mensagem chegou no meu telefone. Uma mensagem super fofa de Boa noite, vinda do Ben. Era tão linda e carinhosa que me fez esquecer de tudo.

Oii. Não consegui te ver hoje, minha mãe trabalhou o dia todo e meu irmãozinho levou meu dia kkkkk. Estou morrendo de saudade de você, mesmo tendo estado junto contigo ontem. O único lado bom de amanhã termos aula, é que vou poder te ver, estar com você e poder sentir sua mão junto da minha.
Um beijo e até amanhã😘.

Essa mensagem me derreteu de uma maneira inexplicável. Ele conseguia ser tão gentil, que eu realmente sentia que a cada dia, me interessaria mais por ele. Respondi com um belo Boa noite e um emoji de beijo. Depois disso, tive finalmente paz para poder dormir.
Ao abrir meus olhos, me deparo com a luz entrando pela janela da varanda que deixei aberta noite passada. Dormi, mas ao mesmo tempo parecia que eu não havia dormido nada.  Peguei meu telefone que estava debaixo do travesseiro, havia duas ligações perdidas de um número do qual eu não tinha salvo no meu celular, e não era o G, comparei os números e eram diferentes. Tomei meu banho quente e me vesti, desci pra cozinha.
Edward já estava lá, assoviava como um pássaro. Puxei uma cadeira da bancada e me sentei preparando uma xícara de café;
--Bom dia.
--Bom dia.
--Está com uma cara de sono, não dormiu bem?
--Mais ou menos isso, parece que nem dormi.
--Deve ser insônia, quer que eu prepare um chá ao invés de café pra você? Temos tempo.
--Olha não vou recusar, tô mesmo precisando.
--Vai ser rápido, qual sabor se quer?
--Quais o João comprou?
--Maçã, Camomila, Erva-Doce, Maracujá e Limão com mel.
--Quero um de maçã por favor.
--Beleza.
Enquanto ele fazia o chá, saí pelos fundos da lavanderia e fui até o jardim dos fundos. Denver já estava acordado e faminto, peguei umas carnes que já havia deixado descongelando fora do freezer e coloquei na tigela dele com bastante sanguinho e um tempero artificial para dar gosto. Era impressionante como ele cresceu tanto, estava um felino bem grandinho, seu pelo brilhava de sedoso, afinal todos os fins de semana João e eu dávamos um banho geral nele. Sempre nos orientávamos para deixar ele em ordem sempre que o fiscal do zoo viesse verificar as condições dele. 
Meu tigrinho estava um querido de tão lindo e saudável. Sempre que eu olhava seus olhos azuis medianos, me dava uma sensação de coragem e afeto. Não havia dúvidas que Denver havia vindo para alegrar meus dias e eu os dele, como uma verdadeira família. Ficava me perguntando se Cristian ainda visitava o filhote de leão que ele salvou lá no zoo. Provavelmente não, estaria bem ocupado com a namorada provavelmente. 
Voltei pra dentro onde Edward já me esperava com o chá pronto e já estando no último pedaço de seu sanduíche. Bebi devagar para não me queimar, coloquei a mochila nas costas e lá fomos. No caminho, notei que havia uma caminhonete estacionada  em frente a esquina da rua, era toda preta e com vidros pretos que não dava para ver o interior do carro. Fiz um sinal para Edward com o cotovelo em seu braço, ele olhou e nós nos olhamos com uma expressão de que achamos aquilo esquisito. Continuamos andando, mais a frente encontramos Luan, que aparentemente morava na rua a uma quadra da escola;
--Bom dia gente. (Luan)
--Bom dia.
--Eai mano. (Edward)
Fizeram um cumprimento muito aleatório, porém criativo, parecido com o que eu costumava fazer com Álice quando éramos crianças. Fomos andando juntos pro colégio. Chegando na esquina da escola, vi ele encostado no muro, com aquele olhar marcante e os cachos bem enroladinhos parecendo um anjo moreno. Ele se virou bem na hora que eu estava me aproximando e abriu um sorriso fofo que quase me derreteu no asfalto. Me aproximei  olhando docemente para ele, que veio andando em minha direção.
Edward e Luan passaram direto, mas vi que olhavam com um risinho no canto da boca igual duas crianças. Quando voltei a olhar para frente, Ben estava parado bem diante de mim. Só de estar de frente com ele, pude sentir seu perfume, que era de um aroma amadeirado e suave ao mesmo tempo, um cheiro que me ganhava sempre que eu sentia;
--Bom dia Ben.
--Bom dia, como passou a noite?
--Com um pouco de insônia, mas até que bem. E você?
--Foi tranquila, tirando a parte que eu não me aguentava de ansiedade para ver você.
Fiquei bem envergonhado, tenho certeza que mesmo sendo morena, minha pele ficou vermelha naquele momento;
--O que houve?
--Fiquei com vergonha.
--Não seja bobo, não tem motivo pra se envergonhar, ou por acaso não posso dizer que estava ansioso pra ver você?
--Não é isso, é que ainda estou me acostumando com a ideia...
--De que estamos tendo algo?
--É , isso. Mas eu também fiquei ansioso pra te ver depois daquela mensagem super fofa que você me mandou ontem a noite.
--Ah. (riso envergonhado).—Eu só estava, bom, com saudade de você. O que fez de bom ontem?
Ele disse isso me puxando pela cintura e nos encostando juntos no muro;
--Bom, eu saí pra ir ao lago com o Edward, e lá encontramos o Miles e os dois começaram a pescar enquanto eu assistia.
--Ficou vendo sozinho? Porque não pescou também?
--Eu não curto pescar, gosto de ver, mas não gosto de pescar. E não fiquei sozinho não, um garoto novo da escola estava lá também e ficou com agente.
--Que garoto?
--Um tal de Otávio. Disse ter entrado semana passada, ouviu falar muito mal de mim e pediu desculpas. Ficamos conversando enquanto Edward e Miles pescavam vários peixes.
Vi que ele ficou pensativo, não sei se ficou enciumado ou se apenas achou estranho o fato do garoto ter puxado assunto comigo, mas confesso que fiquei muito curioso para saber o que estava se passando na mente dele naquele instante;
--O que foi Ben?
--Nada, mas você ficou amigo desse Otávio?
--Olha, não achei má pessoa, mas você não está com ciúme né?
--Quer que eu seja sincero?
--Claro, sempre.
--Não estou com ciúme, até porque não quero parecer tóxico, mas não nego que me incomodou eu não ter estado para conhecer esse cara.
--Ele não me pareceu ser uma pessoa ruim, tem um estilo bem de nerd eu diria.
--Estilo não define uma pessoa Espurr, mas se você diz que ele não é uma má pessoa, confio em você. 
Ouvir ele dizer que confiava em mim, não teve preço pra mim. Comecei a acariciar o rosto dele de leve e ficamos rindo bem discretamente, mesmo eu percebendo que muitos estavam olhando e achando estranho, não liguei;
--Aliás, tenho uma notícia ótima.
--Qual?
--Minha mãe deixou eu e meu irmão viajarmos com você.
--Jura? Que ótimo.
--Sim, ela disse que vai falar com sua mãe para ficar de olho na gente e...
--Espera Ben, não. Eu vou somente com o João e o Edward, estou afastado da minha mãe lembra?
--E agora? Minha mãe só vai deixar se sua mãe for.
Fiquei pensativo, eu teria que decidir. Se eu aceitasse aquilo, minha mãe iria com aquele entojado do Carl, e eu não teria a mínima paz que eu planejara;
--Faz o seguinte, vou falar com meu pai para ele ir falar com sua mãe e convencê-la, pois afinal não estaremos sozinhos lá, minha avó e os empregados da fazenda vão estar para o que precisarmos.
--Beleza, vou avisar pra ela que ele irá visitá-la para conversar a respeito disso.
--Ótimo, mas o principal, não deixe sua mãe falar nada com a minha. Não quero que ela saiba que eu vou estar lá, se não vai dar um jeito de ir e minha paz vai por água abaixo.
--Como quiser fof...
--O que disse?
--Nada foi por impulso, desculpa.
--Você ia me chamar de fofo?
Ele me olhou com um olhar envergonhado ao extremo e tentou disfarçar ao máximo que pode;
--Ia, mas foi impulsivamente e... Desculpe Espurr.
--Não, não tem problema... Eu, até achei legal.
Ele pareceu se surpreender com o que eu disse, pois arregalou os olhos com um brilho forte dentro da pupila;
--Então, eu... Eu posso te chamar assim?
--Bom... Não vejo problemas.
Ele me abraçou levemente, um abraço tão fofinho que eu cedi na hora. Teria ficado abraçado com ele por todo o tempo do mundo, se o bendito sinal do portão não tivesse aberto e o sinal tocado. Entramos e subimos para a sala juntinhos.
Durante o caminho fiquei tão focado no assunto com o Ben, que acabei não prestando atenção por onde estava andando e acabei trombando com alguém;
--Ai. Meu Deus desculpa eu não te vi.
--Senhor Jesus, desculpe garoto eu não...
Eu definitivamente não esperava por aquilo. Era uma garota , mas não qualquer garota, eu nunca havia visto ela por ali, mas seu rosto era muito familiar. Era muito bonita, tinha feições indianas e uma pela bem morena e ao mesmo tempo parda. O pior é que quando olhei bem nos olhos dela, só me veio um rosto na mente... Naomi.

Teens 3☀️ Pôr do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora