CAPÍTULO 13: A BUSCA PELO ARTEFATO☀️

5 6 0
                                    


Cheguei em casa atordoado. Com muito custo, subi pro meu quarto e fui tomar banho, eu não estava normal, tanto que coloquei no modo gelado. Aquela água gélida caindo sobre meus músculos, amolecendo e causando frio em todo meu corpo, apenas me deixei esfriar pela água e se eu adoecesse que seja, só não queria continuar a pensar naquelas coisas. Em instantes ouvi uma batida de leve na porta, era Edward;

--Espurr, está tudo bem ai dentro?
Eu pensei muito antes de responder, pois a água estava esfriando todo meu corpo e tirando minha vontade de falar;
--Estou.
--Escute, o João ligou te procurando.
Ali minha alma voltou na hora. Desliguei a água e terminei de secar as espuma na toalha, saí apressadamente achando que ele ainda estaria na linha;
--Cadê o telefone? Quero muito falar com ele.
--Minha nossa, bom ele desligou. Disse que ligava depois.
--Ah não, isso não é possível.
--Calma, ele vai retornar a ligação. 
--Queria muito falar com ele.
--Está com muita saudade dele não é?
--Muita. Meu desejo era que ele nunca tivesse ido pra essa viagem de emergência.
Me joguei na cama enquanto falava isso. Tentei me tranquilizar, mas minha cabeça só pesou mais. Ele se aproximou com uma cara de depressão;
--Olha Espurr, sei que as coisas tem estado muito difíceis, mas agente vai conseguir.
Quando ele disse “Agente”, me senti estranho e diferente. No entanto ele tinha razão, éramos só nós contra todos aqueles problemas, o que por uma infeliz coincidência, chegavam a ser parecidos. Ele e o pai estavam brigados, eu e o meu também, ele havia se separado do melhor amigo, eu também e ele não tinha mãe... Eu praticamente não tinha também;
--Tem razão, nós passamos por coisa pior, vamos passar por isso também.
Me levantei, peguei uma roupa no closet e me vesti. Saí secando o cabelo e indo estender a toalha, no entanto ele ficou bem pensativo enquanto estava sentado na ponta da minha cama. Parecia meio aéreo, pensando ao longe e relembrando coisas, não queria atrapalhar porque podia ser uma lembrança boa, mas se fossem como as minhas que eram mais arrependimentos do que lembranças, devia estar sendo pesado. Cutuquei ele com o cotovelo e ele despertou meio confuso;
--Está tudo bem?
--Sim, só lembrando de umas coisas.
--Percebi.
--Queria muito saber o que minha mãe diria se estivesse viva.
--Como assim diria? Em relação ao seu pai?
--Sim. Ele nunca se importou comigo, o que ele quer agora me obrigando a ir viver com ele?
--É uma boa dúvida, mas que infelizmente não sei te responder. É como se fosse eu tentando descobrir o porquê Amun e o grupo dele me odeiam tanto, digo, você até tinha um motivo que era o Cristian e tudo que ele sofreu quando eu fui embora, mas e eles? O que eles tem contra mim?
--Olha, eu meio que sei o motivo da Emily te odiar.
--O que que eu fiz pra essa garota?
--Você meio que tirou o namorado dela.
--Como é? Tá doido Edward, eu nunca faria isso com ninguém.
--Não faria sabendo, mas você não soube sobre o relacionamento deles, daí quando aconteceu ela passou a te odiar , tanto ou mais que o Amun.
--Afinal de quem você tá falando?
--Do Benjamin.
Eu fiquei igual fãs de uma página de fofoca, chocado.
--Se só pode estar de brincadeira comigo.
--Quem dera fosse brincadeira.
--Mas como é que foi isso? Quando?
--Você não sabia que ele namorava?
--Isso eu sabia, mas não sabia quem era a garota e nem quando ele terminou.
--Ele terminou com ela pouco tempo depois da reunião para destruir você, o Cristian e a Álice.
--Porque ele terminou? Atoa não deve ter sido.
--É, realmente ele teve bons motivos.
--Quais?
--Um foi por conta do plano que estávamos tramando, o segundo pelo fato dela ter dito num acesso de raiva que só aceitamos ele no grupo por que ela era amiga do Amun. E o último e principal motivo... Você.
--O que eu tenho haver no meio desse término?
--Ele terminou com ela principalmente por que se apaixonou por você.
Meu coração começou a acelerar rapidamente. Ele tinha terminado com a Emily por ter se apaixonado por mim, como que isso era possível? Eu jamais imaginaria que eles tivessem tido algo;
--Eu, eu não posso crer nisso. Porque ele não me disse nada?
--Tenho certeza que teve uma razão.
--Sinceramente tudo o que eu quero é não me preocupar com mais coisas, resolvo isso depois com ele.
--Como achar melhor, mas tente entender ele tá?
--Olha Edward, uma coisa bem misteriosa, você e ele começaram a se dar muito bem de novo né?
--Eu apenas aprendi a conviver e lidar com ele, compreendi que eu estava sendo um otário e ele soube reconhecer os erros dele antes de mim, respeitei isso. Agora que ele e você estão juntos e ele meio que vai passar a frequentar mais aqui em casa, não vejo motivo para que ainda exista uma implicância entre nós.
--Você mudou muito, gosto de ver como amadureceu.
--Você fez isso, receba os créditos. (risada)
--Que créditos? Você mudou por livre e espontânea vontade, depois de ter percebido o que estava fazendo e quem você estava sendo.
--Realmente, mas só depois que viramos amigos. Que comecei a conviver com você e ver que não era tão ruim quanto eu pensava.
--Tão ruim? (risada)
Saímos no soco de brincadeira. No começo eu estava ganhando, depois ele me pegou pela traseira das costas e me virou contra a cama. Não conseguia mexer meus punhos, ele tinha uma força e tanto nas mãos que me deixavam no chinelo. Seu olhos ficaram a poucos centímetros dos meus, seus cachos descobriram seu rosto e eu finalmente vi o rosto inteiro do Edward, seu bigode fino dava um ar de quase adulto e suas pupilas pareciam dilatar enquanto olhava pra mim. Eu sinceramente desejei saber o que ele estava pensando naquele momento, sua respiração ficou fora de ritmo, vi como se controlou para permanecer longe... Eu tive medo, a partir desse dia, tive muito medo... De me interessar por Edward Almeida.
Ele saiu rapidamente de cima de mim e se recompôs. Rimos para disfarçar o que estava prestes a acontecer naquele quarto, daí ele desceu pra lavar os pratos e estender a roupa da máquina. Aproveitei para pegar minha roupa de espião no closet e deixá-la preparada, no máximo até as quatro e meia eu tinha que estar lá no museu. Me vesti de maneira jovem para não levantar suspeitas enquanto entraria como visitante. Na mochila, além da roupa especial, eu carregava uma lanterna, pilhas, uma corda para caso de uma escalada e a arma de João.
Já com tudo pronto, peguei meu telefone e liguei para o G. Ele não me atendeu e nem mandou notícias a dois dias, me assustava a hipótese do Doutor P ter feito algo contra ele ou algo parecido. O que eu sabia era, com ou sem o G, eu tinha que dar um fim naquilo tudo fosse como for. Desci cuidadosamente e atravessei o quintal sem chamar atenção, andei até a esquina da rua onde meu Uber me esperava para ir diretamente pro museu. 
Desci na rua em frente e andei alguns passos, não sei ao certo quantos, mas quando me dei conta estava diante das escadas gloriosas que levavam ao museu. Subi e me juntei a uns jovens que entravam, dei muita sorte deles estarem ali, assim me infiltrar e passar despercebido seria muito fácil. Adentrei e confesso que passei sentindo um imenso medo, meu estômago pareceu ter virado pedra de tão duro que estava. Andei um pouco, mas não achei nenhum sinal da exposição, até que ouvi uma conversa que me interessou demais;
--Olha amiga, é por ali.
--Então vamos, temos que ver essa obra antes que ela saia de exposição.
--Verdade, ouvi dizer que hoje era o último dia.
Pronto, era tudo que eu precisava ouvir. Segundo tudo o que G me dissera sobre a obra, só podia ser ela a quem as garotas se referiam. Enquanto elas iam bem empolgadas pelo corredor central, eu as segui discretamente. Andamos até o segundo andar do Museu, numa ala que ne desagradou muito, pois tinha inúmeros seguranças  e as câmeras estavam por todo teto. Pegar aquela peça não seria fácil, mas eu faria até o impossível pra consegui-la, e ainda mais... Por que amo um bom desafio.
Virei em um corredor cheio de pessoas, e de repente lá estava ela, a obra que tanto planejei furtar. Era uma espécie de casa, eu não sabia ao certo a história por trás, mas por sorte cheguei no exato momento em que o funcionário estava contando a origem da obra e como ela surgiu;

--Muito bem pessoas, podem se aproximar
   Pois a história dessa bela obra, lhes irei contar...
  Era uma vez  um tempo muito antigo, uma moça chamada Lara. Essa moça era muito cobiçada nos tempos antigos, por onde andava arrancava suspiros e desejos dos homens que a viam. De tanto que era desejada, as outras mulheres sentiam uma enorme inveja de sua beleza e carisma, tanto que a difamaram de bruxa, disseram que ela fazia pactos com satanás para obter tamanha beleza. Com o tempo, todos da cidade passaram a acreditar, então armaram uma armadilha para ela, sendo a moça uma pobre humana comum.  Um rapaz foi contratado para se envolver com a moça, ele possuía uma beleza também admirável, que com o tempo fascinou a moça, os dois criaram um desejo absurdo um pelo outro, até que a noite tão esperada pela cidade chegou. Eles estavam na casa dela sozinhos, aconteceu o ato de prazer mais intenso entre dois humanos. Mais tarde naquela noite, enquanto Lara dormia, Stefano se levantou, pegou várias cordas e a amarrou cuidadosamente, a pegou nos braços e a carregou porta a fora. Ele a levou até a floresta, onde havia uma fogueira já montada pelos que a difamaram diante da cidade.  Ela acordou já atada nas cordas prestes a ser jogada, assustada e amedrontada, ela procurava por alguém que a ajudasse em volta, mas daí veio sua imensa decepção, quando viu de frente pra ela o cara que lhe jurou amor e para o qual se entregou. Com muita lágrima nos olhos, ela decepcionada e destruída por dentro, se pôs a chorar. Então em seguida, além de imensa tristeza, lhe veio uma imensa dor, pois instantes depois a jogaram na fogueira.
    E naquela noite, foi queimada viva apenas por ter nascido com uma imensa beleza.
Dias depois, o jovem Stefano começou a enlouquecer, pois se deu conta do absurdo que cometeu. Passou a ter alucinações, ficava revendo em sua mente inúmeras vezes a cena de Lara sendo jogada da fogueira. Aquilo começou a perturbar ele de uma maneira absurda,  tanto que na sétima noite depois da morte de Lara, ele subiu até o topo do morro da cidade... E de lá se atirou ao chão.
    Tempos depois, três dos cidadãos tentaram adentrar na casa da jovem Lara, para se apropriar indevidamente de seus pertences. No entanto, se depararam com algo macabro, encontraram um ser todo desfigurado por chamas e outro todo ensanguentado, e foi au que se deram conta... Que eram os fantasmas de Lara e Stefano. Desde então, a entrada na casa é proibida, pois dos três cidadãos que ousaram entrar, dois nunca mais saíram de lá.
E essa é a terrível história por trás da casa de Lara Crakstone.

Confesso que fiquei chocado com a história que o funcionário acabara de contar. Uma jovem tão ingênua e doce, apenas por ser bonita foi queimada viva e traída pelo cara que lhe jurou amor verdadeiro. O final dele para mim foi pouco, devia ter sofrido mais, no entanto aquilo não cabia ao meu interesse. Ele continuou falando de mais detalhes da obra, mas nada sobre a parte da relíquia. Acredito eu, que nenhum funcionário esteja ciente do objeto valioso que essa casa esconde dentro dela. Olhei como  a   movimentação  estava eufórica em volta da obra, me afastei e observei um lugar estratégico. Avistei uma obra chamada “O Baú”.
Era o esconderijo ideal. No entanto, havia uma dificuldade em chegar lá, havia um segurança bem estranho que estava de guarda em frente a obra. Tive que pensar rápido, fui a lanchonete do museu e pedi um café comum, voltei pra sessão com o copo abaixado disfarçadamente. Esperei uns minutos até ele ficar distraído com alguns visitantes que estavam com umas atitudes suspeitas, daí me aproximei lentamente, com muito cuidado, quando estava literalmente atrás dele, esperei até que ele se virasse e como um simples acidente, derramei café em sua roupa. Ele ficou bem irritado, mas eu me fingi de desentendido;
--Olha isso garoto, por acaso não olha por onde anda?
--Desculpe senhor, eu não vi. Esqueci minhas lentes em casa.
Ele parou e me observou, acreditando na minha fala. Então sua consciência pesou com o que estava pensando, acredito eu;
--Tá tudo bem então, eu limpo sem problemas. Pode ficar tranquilo garoto.
--Obrigado, e desculpe mais uma vez.
Ele saiu andando pra limpar sua blusa,  e eu com muita agilidade, praticamente deslizei até a obra e me pus a fingir apreciação. Quando metade das pessoas já saíram da do ambiente, observei para ver se não tinha ninguém em volta, então cuidadosamente abri o baú e me enfiei lá dentro como um raio. O baú era bem amplo por dentro, não tive problemas com o espaço e nem com o ar.  Esperei tanto lá, que até dormi.

Acordei com um barulho. Peguei meu telefone no bolso, eram onze e quarenta e dois da noite, Edward devia estar bem preocupado, mas eu tinha uma missão, e o momento havia chegado. Abri o baú cuidadosamente para não chamar qualquer tipo de atenção. Olhei em volta e parecia não ter ninguém, no entanto um brilho vermelho me chamou a atenção, eram lasers em volta da área envolvendo as portas para o corredor. Eu teria mais dificuldade do que pensei, coloquei uma máscara que cobria o rosto inteiro e agi.
Me aproximei bem perto do sistema de lasers e o observei, tinham muitos, no entanto, escutei passos. Não passos ali no ambiente, eles pareciam vir de dentro da casa, isso me assombrou de uma maneira horrível, pois tinha aquela história bem assustadora sobre a jovem Lara. Dei uns passos a frente e fiquei frente a frente com a obra, tomei coragem e entrei dentro da casa. Abri a porta bem devagar e com toda a atenção, observei e não havia ninguém, ou seja, era só fruto da minha imaginação. A sala da casinha era pequena, mas bem aconchegante no visual, tinha várias decorações antigas, uma mesa com duas cadeiras e umas prateleiras em volta da pequena sala.

Havia uma escada que levava ao segundo andar, que devia ser menor ainda. Andei pela sala toda e nada vi, mas o virar na direção do corredor que levava a cozinha, vi uma tábua pequena sobre a porta, que em cima havia uma pequena caixinha. Me aproximei e pulei para tentar alcançar, falhei no começo, mas tive a brilhante ideia de jogar minha mochila na caixinha, daí em duas tentativas ela caiu no chão. Era feita de um material que eu não conhecia, mas estava trancada a cadeado. Por sorte eu tinha minhas manhas pra situações como aquela, peguei um grampo que estava no bolsinho da mochila e destravei o cadeado, abri a caixinha e me senti vitorioso, pois encontrei o que procurava.

Ele estava lá, brilhante como o mais puro ouro do mundo. O primeiro pedaço de La Estrella, totalmente feito de ferro e revestido a ouro puro. Era lindo de se ver, e ainda não tinha caído a ficha de que ele estava finalmente em minhas mãos.  Coloquei ele dentro da mochila enrolado em um pano e travei a caixinha de volta deixando-a em cima da mesinha da sala. Quando me virei para sair, quase minha alma saiu do corpo, me deparei com um ser horrendo, aparentava ser uma mulher toda queimada e de pele derretida. Foi daí que pensei... Era o fantasma de Lara Crakstone.

Teens 3☀️ Pôr do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora