CAPÍTULO 9:DECEPÇÕES A DERIVA☀️

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Era como uma galáxia, os sistemas se fundindo, o sol no centro assistindo o show e os planetas prestes a colidir uns com os outros. Foi essa cena que se passou na minha cabeça, quando meu pai estava prestes a descobrir sobre o Ben e eu. Tive que me manter calmo e tranquilo apesar de estar com muitos problemas;
--Pai, vamos terminar de comer e aí conversamos tá bom?
--Como quiser, mas quero uma explicação. (Papai)
Todos na mesa se olharam entre si, provavelmente já cientes do que ia acontecer, do escândalo que meu pai iria fazer. Terminamos de comer e com a ajuda de Álice e Ângela retirei os pratos e os colocamos na pia, Edward tentava acalmar meu pai antes de eu dar a notícia pra ele, porém eu sabia que seria inútil, a reação dele seria exatamente a que eu estava imaginando;
--Espurr, Ângela e eu cuidamos aqui da cozinha, pode ir lá com o Benjamin conversar com seu pai. (Álice)
--Tudo bem, valeu amiga.
Saí morrendo de nervoso por dentro, mas sem expressar por fora. Achei que aparentaria estar com medo, mas sempre tive muita determinação quando queria dizer o que eu queria. Saímos pra área da frente e nos sentamos na mesa, estávamos sentados na formação de um triangulo, um de frente pro outro e meu pai de frente pra mim e pro Ben;
--Muito bem, falem de uma vez. (Papai)
--Bom, o senhor sabe que eu fiquei muito abalado com o que aconteceu com o Cristian, eu me sentia culpado e de certa forma sozinho por não ter mais o meu melhor amigo comigo. 
--Prossiga. (Papai)
--Fiquei muito solitário e teria ficado mal se não tivesse o Edward aqui. No entanto pai, tem uma parte em relação ao Cristian que o senhor não soube.
--Que parte? (Papai)
Foi naquele dia, naquele exato momento que eu contei ao meu pai que o que eu sentia pelo Cristian, não foi somente uma amizade;
--Eu... Eu... Eu amei o Cristian pai. Amei e não foi só como um amigo.
--O que disse Espurr? Amar? Espurr, ele é um garoto, você não pode amar outro garoto, isso é errado, extremamente errado. Então foi por isso que se afastaram? Bem, agora eu o entendo, ele deve ter tido a mesma reação que eu. (Papai)
Eu olhei pro Ben em sinal que pasmasidade, como é que podia ele dizer tudo aquilo assim daquele jeito? Foi como ter me espetado com uma faca;
--Pode ser que ele seja um garoto pai, mas isso é algo que o senhor tem que saber desde já, da mesma maneira que gosto de algumas garotas e acho elas atraentes, o mesmo acontece com os garotos, são todos pessoas as quais eu poderia me apaixonar.
--Tem noção do que está me dizendo Espurr? Tem noção do quanto isso é humilhante?
--Pode até ser humilhante pro senhor pai, mas não pra mim, pois eu não saio escolhendo por quem vou me interessar, apenas acontece e eu me deixo levar pelo sentimento.
--Pois aprenda a não ter esse sentimento, aprenda a pisar nele quando ele vier, caso contrário todos os seus amigos vão se afastar de você achando que você pode acabar sentindo algo por eles, exatamente como aconteceu com o Cristian. (Papai)
--Pai, Cristian não sabe o que eu senti por ele. O motivo pelo qual nos separamos foi porque ele se deixou acreditar numa fofoca.
--Do que está falando? (Papai)
--Cristian acha que Edward é meu namorado, por isso não quis mais saber de mim.
Ele me olhou com um olhar de apavorado, como se tivesse acabado de ouvir alguma coisa horripilante. Então num impulso ele se levantou da mesa;
--Afinal de contas o que é que está querendo me dizer? Que você teve um caso com Cristian e também com Edward? (Papai)
--Não é nada disso senhor, foi tudo apenas um... (Benjamin)
--Não se meta Benjamin, inclusive o porque você está aqui ouvindo isso tudo? (Papai)
--Ben está aqui porque tem que estar, e como ele mesmo disse, o que houve entre o Edward e eu foi um mal entendido causado por uma mentira que inventaram.  Já o Cristian, ele nunca soube dos meus reais sentimentos por ele.
--Melhor, assim você não se prejudica mais do que já está. Sinceramente Espurr, que decepção, um filho meu que se interessou pelo melhor amigo? Não é possível.
Eu sinceramente estava  decepcionado com aquelas palavras, depois de tudo que eu passei, a única coisa que eu queria era o apoio de pelo menos um dos meus pais;
--Quer saber, tem razão. Eu sinto muito em não ser um filho perfeito igual o meu irmão pai, mas é assim que eu sou. E quer saber, vamos logo ao que interessa... Pai, eu e o Ben estamos em um relacionamento que possivelmente resulte em algo mais.
--O que disse? (Papai)
--Isso mesmo que o senhor escutou.
Ele me olhou de um jeito mortal, seus olhos exalavam um vazio sombrio que ao mesmo tempo me dava medo e ao mesmo tempo tristeza;
--Senhor eu sei que é difícil de ouvir isso, mas não tenha dúvidas, eu gosto realmente do seu filho. (Benjamin)
--Não dirija mais a palavra a mim. (Papai)
--Não fala isso pra ele, se tiver algo a reclamar  fala comigo, mas não desconta nele.
Então o que eu menos esperaria aconteceu, ele me deu um tapa, quando percebi já estava apoiado na janela ao lado da mesa devido ao impulso do tapa que havia levado. O que me doeu não foi nem o fato de ter sido um tapa, e sim a pessoa quem me deu o tapa;
--O senhor enlouqueceu? (Benjamin)
Ben havia ficado furioso e isso era de se notar, aquela atitude do meu pai irritou até a mim mesmo, mas por ser meu pai não pude fazer nada;
--Essa foi a gota d’água Espurr. (Papai)
Ele saiu andando rumo ao andar de cima. Ben me levou até o sofá e fez de tudo para que eu me acalmasse, no entanto eu vi que pela porta da cozinha Edward, Álice e Ângela olhavam com um certo susto em seus rostos, susto esse que se transformou em raiva e indignação no rosto de Edward;
--Espurr tá tudo bem? (Edward)
--Não, eu jamais esperaria isso dele, jamais.
--Ele não está pensando direito, acredite que ele vai saber entender. (Edward)
--Amigo eu sinto muito, você é forte e vai saber seguir com isso também. (Álice)
--Pode até ser, mas esse dia não vai ser hoje, preciso pensar, minha cabeça dói.
--Vou levar você pro seu quarto, isso de hoje não merece nem ficar na sua cabeça. (Benjamin)
--Peço desculpa a vocês quatro, mas hoje não tenho mais ânimo pra nada.
--Claro que entendemos amigo, não precisava nem falar, vamos embora para que você possa descansar e se recompor do que ocorreu hoje. (Álice)
--Vou ficar com você até você ficar bem. (Benjamin)
--Não Ben, amanhã temos prova de Química, física e biologia, você está com muita dificuldade nos cálculos e precisa estudar, vá pra casa que eu fico com ele. (Edward)
--Mas... (Benjamin)
--Ele tem razão Ben, vá. Eu vou ficar bem te prometo, mas não é por isso que você tem que ir mal na prova, pode ir.
--Tudo bem então, te vejo amanhã na entrada. (Benjamin)
--Ângela vamos indo, ele precisa ficar sozinho. (Álice)
--Claro. Sinto muito por toda essa situação Espurr, fica bem. (Ângela)
--Obrigado.
Edward acompanhou elas até o portão enquanto eu me despedia de Ben;
--Vai mesmo ficar bem?
--Claro que sim, por mais que as dores sejam fortes, elas passam.
--Não sabe como gosto que você seja essa pessoa forte que você é.
--Eu tento, as vezes é difícil, mas eu tento.
--E consegue, tudo que quer você é capaz de conseguir. Te vejo amanhã, mas se precisar de qualquer coisa pode me ligar.
--Obrigado... Fofo.
Vi uma emoção fluir em seu olhar com essa minha fala. Apesar de tudo ele estava do meu lado e eu estava do lado dele, o que me fazia acreditar ainda mais, que ele era a pessoa ideal para mim. Depois que saíram eu subi pro meu quarto e deitei a fim de esquecer o que havia ocorrido, fiz o maior esforço do mundo para não chorar, mas as lágrimas simplesmente escorreram-se pelo travesseiro. Enquanto eu lutava com minha tentativa inútil de controlar o choro, Edward abriu a porta, me viu naquela cena deprimente e tentou me consolar;
--Espurr não chora, detesto ver alguém chorando, ainda mais se for você.
--Não consigo evitar e acredite eu detesto chorar, mas não consigo me controlar, eu meio que esperava uma reação negativa, mas não ao ponto dele me bater.
--Seu pai está fora de si, mas tenha a calma ele vai se tranquilizar, é questão de tempo e você também precisa se acalmar.
--Preciso dormir, esquecer tudo isso.
--Durma e não se preocupe, não vou sair daqui por nada.
Ele se sentou na cadeira da minha escrivaninha e se pôs a me observar. Quando pensei que nada me acalmaria, ele começou a cantar, uma música linda e de uma maneira suave, sua voz era como o doce assovio de um rouxinol;

Meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois
Cabe até o meu amor, essa é a última oração Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa Nele cabe o que não cabe na despensa...

Sua voz tão suave e linda foi como um remédio para meus ouvidos. Dormi como um bebê recém nascido. Senti minha cabeça arder enquanto eu dormia, mas a medida que uma luz ia se aproximando, ela ia sumindo.
Uma luz estranha, de repente eu estava em um campo cheio de rosas. Me vi em meio delas como se eu fosse parte da natureza, vi os céu limpo, a água de um enorme rio brilhava ao longe, quando pensei que não podia melhorar, de repente, vejo minha irmã. Ela está sorrindo pra mim, ao lado dela havia um bebê em um cestinho, me aproximei para ver melhor e quando descobri o rostinho, vi claramente que era uma bela menina, o que significava pra mim, que minha mãe teria outra filha. Porém, quando peguei a bebê nos braços, Rubi simplesmente desapareceu, as flores começaram a perder a cor e um vento enorme começou a levar toda a alegria com ele, minha irmã tinha sumido e eu comecei a gritar seu nome desesperadamente, ela não aparecia e tudo estava sumindo, isso me deu um medo do caralho.
Acordei pingando de suor. Já havia escurecido, peguei meu telefone e olhei o horário, dez e cinquenta e oito. Quando olhei pro lado onde ficava minha mesinha de escrever, vi Edward dormindo profundamente sobre a cadeira, devia estar muito desconfortável. Ne levantei, tirei minha roupa e vesti o roupão, depois fiz um enorme esforço para levar Edward já sonolento pro seu quarto. Ele podia estar daquele jeito, mas não me deixou um só minuto a tarde toda. Deixei ele na cama dele e para resolver tudo de uma vez, decidi falar novamente com papai. Bati na porta de seu quarto inúmeras vezes e ele não abria , pensei que estaria com raiva de mim, então simplesmente abri a porta e entrei.
Me deparei com vários cabides em cima da cama vazios. Abri o closet e não havia nada, nem nas gavetas nem havia pertence algum dele no quarto, papai literalmente havia ido embora da casa enquanto eu dormia. Não nego que fiquei sentido com isso, me debrucei na varanda de seu quarto e me pus a olhar pra lua, pensando em como certamente ele devia estar decepcionado comigo. Fiz a única coisa que ainda me restava fazer para que não terminasse em fracasso também, fui pro meu quarto, peguei a cartolina e comecei a fazer os cálculos do esquema da entrada no museu.
Apesar de estar passando por inúmeros problemas, nada podia impedir que eu pegasse a parte da relíquia que estava escondida lá. Depois de duas horas tentando procurar um meio de entrada perfeita, finalmente tive sucesso, peguei meu notebook e abri na página de atrações da cidade. Vasculhei e em poucos segundos achei a matéria da exposição, a obra realmente sairia de exibição sexta, ou seja eu teria apenas dois dias para terminar os planejamentos.  Lembrei de uma coisa que João havia me dito, ele guardava uma arma escondida em uma caixa em seu closet .
No mesmo instante em que lembrei, corri pro quarto dele e comecei a vasculhar em busca dela. Quando entrei em seu closet, me bateu uma sensação estranha em ver praticamente tudo vazio, sem nenhuma de suas roupas elegantes penduradas no cabide ou nas gavetas. Olhei em tudo e não havia nada, no entanto levantei a cabeça em sinal de frustração , e foi ai que achei o que procurava. Havia uma caixa preta na parte de cima do closet, escalei e consegui pegar. Ao abri-la, me senti como um detetive que encontrara o que tanto procurara, lá estava ela bem reluzente como algo valioso e ao mesmo tempo mortal.
Desci com a caixa pra sala e me pus a analisar o objeto precisamente. Haviam duas caixinhas de munição, calibre 38. Teria de testar, mas era algo fácil já que eu sabia como fazer. Enquanto eu analisava a arma com total precisão, me lembrei do dia em que a Mistério O.E resolveu um caso de tentativa de assalto. Eles conseguiram solucionar, mas no final... Dois de nós, saíram feridos. 

Teens 3☀️ Pôr do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora