(Oito anos atrás em Cajamar...)
Estava nervoso, tinha um trabalho muito difícil para apresentar sobre os tipos de animais existentes, herbívoros, carnívoros e onívoros. Gael era uma dupla excelente, mas por algum motivo ele empurrava as apresentações sempre pra mim, e estávamos apenas no primeiro ano do fundamental, éramos criancinhas ainda e ele se aproveitando de minha bondade desse jeito. Cheguei meio cedo e já deixei o cartaz super decorado que havíamos feito sobre a mesa para dar uma última revisada antes da aula começar. No entanto, eu não fui o único a chegar cedo, havia uma garota que sempre chegava antes de todos na sala.
Diziam que ela era esquisita, mas na minha visão ela só era nerd e estudiosa, tirava as maiores notas da sala e olhe que só tínhamos três matérias, desenho, caligrafia e leitura. Ela sempre estava lendo quando alguém a via, sinal que era muito esperta e dedicada, no entanto eu sempre reparava que nos projetos e trabalhos ela fazia sozinha, então nesse dia, não sei qual foi o treco que se meteu no meu corpo, me fazendo ir até ela e iniciado uma conversa;
--Oi, tudo bem?
Ela levantou o rosto, ajustou o óculos e olhou bem pra mim com uma cara confusa;
--Desculpe, está falando comigo?
--Bom, só tem nós dois aqui então acho que sim.
--Ah, bom... Oi, estou bem sim e você?
--Tô ótimo, só meio nervoso pro trabalho de leitura, você fez?
--Fiz, não achei nada difícil, mas para apresentar realmente vai ser ruim.
--Sim, horrível.
Olhem o trabalho dela que estava escorado na mesa dela, havia pouco brilho, mas muita organização e muitas informações. Sem dúvida seria a melhor nota de novo, só queria saber o porque de uma garota tão esperta, ficar sozinha e solitária daquele jeito. Em instantes todo o restante da sala começou a entrar, Gael chegou todo arrumadinho para causar boa imagem na apresentação. Fomos a terceira dupla a apresentar, e ela por ser a única a ter feito sozinha foi a última, todos ficaram olhando com um olhar de julgamento apesar de serem apenas crianças. Ela com muito custo apresentou e como já imaginava, a nota dela foi a máxima.
Depois que se sentou, vi que ela ficou meio mal pelos comentários que faziam. Chamavam ela de feinha CDF, e ela não reagia por medo. Ao acabar a aula, Gael e eu a alcançamos na saída e fizemos meio que um jogo de campo para ela nos mostrar o porque que ela era tão quieta e se deixando ser humilhada. Acontece que ela não gostava muito de socializar, e também tinha medo das pessoas por elas serem grossas com ela, as vezes até jogam o lanche nela por ela ser quieta demais. Eu como tinha um coração enorme, ofereci minha amizade a sem perguntar também ofereci a do Gael, para que ela passasse a andar com agente;
--Olha, você é uma garota bem legal, as pessoas só não conseguem ver.
--Eu tento me esconder para não ser notada, mas é muito difícil já que sou o alvo deles. (Naomi)
--Podia se tornar uma detetive como nós, assim seria respeitada. (Gael)
--Como assim? (Naomi)
--Bom Naomi, eu e meu amigo gostamos muito de solucionar mistérios no nosso tempo livre, se quiser passar a se juntar a nós seria muito legal.
--Olha eu amo casos misteriosos, mas somos muito pequenos e não damos conta de muita coisa. (Naomi)
--Se engana, nós dois juntos já capturamos mais de três criminosos que estavam aprontando por ai e bancando de boa gente. (Gael)
--Bom, eu acharia muito bom ter novos amigos, mas vocês provavelmente seriam alvos de bullying assim como eu, só por andarem comigo, a esquisita. (Naomi)
--Você não é esquisita, aliás sem achei seu estilo bem legal.
--Obrigada, todas as roupas que eu uso é minha irmã quem faz. (Naomi)
--Sua irmã é estilista? Costureira?
--Basicamente sabe, o sonho dela é abrir uma loja pra ela vender seus produtos. (Naomi)
--Você podia nos mostrar umas peças um dia para vermos né? (Gael)
--Trago sim, pode deixar. (Naomi)
--Você não é tão esquisita quanto o pessoal fala. (Gael)
--Gael, olha os modos.
--Tudo bem, é o que as pessoas realmente pensam mesmo. (Naomi)
--Não importa, queremos que você se enturme com agente do mesmo jeito.
--Tá bom, obrigada. (Naomi)
Fomos andando juntos para casa, não só aquele dia, mas passamos a ir embora os três juntos todos os dias. Passado um tempo, as pessoas começaram a notar que ela estava mais próxima a nós, os olhares que antes eram lançados somente a ela, agora eram lançados ao Gael e a mim também. No começo não nos importávamos, mas as vezes passava dos limites. Certa vez, estávamos em sala e a professora estava muito atrasada por conta de uma consulta, a turma aproveitou para juntar as mesas em duplas e trios para conversar e interagir.
Juntei minha mesa com Gael e Naomi, estávamos muito tranquilos conversando e rindo de coisas bobas, porém na sala havia um garoto que fazia questão de zoar a Naomi sempre, e como Gael e eu passamos a andar com ela, entramos na mira dele também. Era o típico metido a valentão, mas que ao mesmo tempo era popular por ser o garoto padrão, o que era uma mistura no entanto curiosa para uma pessoa só, porém ele disputava o cargo de mais gato da sala com o Jean, um garoto pardo dos cabelos escuros estilo moicano, sua inteligência era admirável, sempre deixava Nolan no chinelo.
Nesse dia, enquanto falávamos de sair para tomar sorvete, percebemos o olhar candescente de Nolan. Ele olhava e ao mesmo tempo cochichava algo para os amigos em segredo, quando a professoras chegou voltamos as cadeiras e paramos de reparar, mas eu sentia os olhares dele e seus amigos queimando e minhas costas.
No caminho para casa, Gael, Naomi e eu conversávamos sobre esse ocorrido, mas ignoramos totalmente. Chegava um ponto em que nossos caminhos se separavam, era uma esquina com três direções , reta, direita e esquerda. Eu sempre seguia reto, Gael morava na direção da esquina direta e Naomi na da esquerda, nos despedimos e seguimos para casa. No caminho estava tudo tranquilo numa paz imensa, porém notei que havia um barulho estranho, passos na verdade. Olhei para trás e nada vi, mas quando voltei a olhar para frente Nolan estava parado igual um fantasma diante de mim;
--Ai, que susto. O que está fazendo aqui Nolan, sua casa é no outro quarteirão.
--Ah nada, só vim cumprimentar o novo esquisito da escola.
--Como é?
--Isso mesmo, você já deve ter reparado que muitos na sala deixaram de falar com você e o mongo do Gael. Quando você chegou todos queriam ser seus amigos, você podia ter entrado no grupo dos populares se quisesse, mas preferiu se juntar com o besta do Gael e agora com a esquisita da Naomi.
--Eles não são bestas nem esquisitos, são muito legais e fico muito feliz de tê-los como meus amigos. Muito melhor que estar próximo de alguém como você Nolan.
Ele arregalou os olhos e quando achei que ia embora, ele esgueirou os braços pra trás e com toda sua força de garoto de sete anos, me empurrou no chão. Lembro que estava de short naquele dia, ralei bastante a parte traseira da perna no asfalto. Depois disso começou a sangrar, pois havia britas de construção espalhadas pela rua, fiquei com dormência na perna e ele nem sequer se pôs a me ajudar;
--Isso é pra você aprender a me respeitar. Vai, pede ajuda pro besta e pra esquisita , cadê eles agora hã? Otário.
Daí saiu andando como se nada tivesse acontecido. Achei ridículo eu não ter conseguido nem mesmo me levantar, afinal o que era uma raladinha, mas quando virei a perna, as britas haviam feito um belo machucado, sem falar nos minúsculos cacos de vidro que estavam espalhados pelo chão e eu nem vi, só depois me toquei que naquela rua havia um bar bem de frente pra mim, o que esclareceu minha dúvida, certamente os cacos eram de alguma garrafa quebrada por algum bêbado.
Com muita luta me levantei me segurando para não chorar, mas conforme fui andando senti as lágrimas escorrendo. Na curva da rua, vi que ainda faltava um pouco para chegar em casa, mamãe devia estar aflita por conta de minha demora. Andando igual um velho manco, lá ia eu chorando em silêncio e sangrando, tudo que eu queria era que alguém aparecesse para me ajudar, mas como sempre tive uma estranha conexão com Deus, ele atendeu ao meu pedido. Era como uma luz ainda mais brilhante que o sol, veio vindo correndo na minha direção, de longe não reconheci quem era, só sabia que era alguém da escola por conta do uniforme. Conforme se aproximou pude distinguir quem era, Adryan.
Sem a menor sombra de dúvidas era o garoto mais lindo da sala na minha opinião, sei que a disputa era sempre entre o panaca do Nolan e o Jean, mas na minha visão Adryan era mais atraente que os dois, mesmo futuramente Jean ter se tomado meu amigo. Adryan possuía cabelos escuros, lisos e em forma de cogumelo. Seus olhos tinham uma cor de azul em tom cristalino, sempre que eu olhava para ele me lembrava de mim mesmo apenas por conta do meu nome, Cristal.
Ele se curvou para verificar o tom do ralado em minha perna e averiguou que haviam cacos pequenos cravados na minha perna causando ainda mais sangramento;
--Cristal como é que isso aconteceu? Você está bem?
--Tá doendo um pouco, mas estou bem. Por favor me ajuda a chegar em casa Adryan, não consigo andar sozinho desse jeito.
--Claro, vem se apoia no meu ombro.
Ele era sempre muito atencioso, me levou até em casa sem falar nada. Chegando lá me ajudou a inventar uma baita história para minha mãe, que resultou em que eu teria que ir de transporte para a escola e não poderia mais voltar andando com Gael e Naomi. Ele ficou comigo até ver que mamãe tinha desinfetado todo o ferimento e colocado ataduras. Ela ligou para os pais dele avisando que levaria ele de tarde para casa, o que deu a nós a oportunidade de nos conhecermos;
--Caramba, sua mãe sabe mesmo tratar ferimentos.
--Ela já fez estágio como enfermeira.
--Ah sim, isso explica. Porém não explica o fato de você ter caído.
--Foi só uma queda, mas vou ficar bem.
--Tem certeza que foi só isso?
--Porque está perguntando?
--Nada, só que acho meio estranho você ter apenas caído e ralado tanto a perna.
--Mas foi isso só, nada de mais agora que já tratei.
--Cristal eu sinto que você tá me mentindo, por alguma razão.
--O que? De onde você tirou isso?
--Porque desde que você chegou tenho reparado em você. Na apresentação semana passada, você esqueceu parte da sua fala e inventou.
--E o que isso tem a ver?
--Antes de inventar, você olhou para baixo e pensou no que dizer, depois que já havia pensado é que ergueu os olhos de novo para dizer. É exatamente isso que fez com sua mãe agora a pouco quando ela perguntou, ou seja, você mentiu. Não foi?
Eu odiava aquela mania que as pessoas tinham de reparar em mim. Eu tentava parecer o mais discreto possível, sem chamar atenção de ninguém, e mesmo assim um garoto teve tempo de reparar nos meus gestos e manias;
--Olha eu...
--Tudo bem, pode confiar em mim.
Ele disse isso pegando na minha mão e segurando entre as suas. Me deu calafrios, pois as mãos dele eram frias e seu olhar prendia muito as pessoas, mas com muito custo de vontade, tirei minha mão do contato com as dele;
--Eu fui empurrado Adryan.
--Por quem?
--Nolan.
--O que? Porque?
--Ele ficou bravo por eu ter preferido virar amigo do Gael e da Naomi ao invés de me enturmar com o grupinho de populares dele.
--E só por isso ele te empurrou?
--Sim.
--Nolan passou dos limites dessa vez.
--Dessa vez?
--Não é a primeira pessoa que ele machuca por conta de sua raiva estranha. Ele já fez a mesma coisa com outras pessoas da escola, que hoje ele considera como os esquisitos.
--Outros já foram vítimas dele?
--Sim, inclusive o seu amigo, Gael.
--Gael já apanhou do Nolan?
--Pelo que eu soube foi uma simples discussão, que resultou num empurrão que deixou o Gael com o braço enfaixado por um mês.
--Meu Deus, se ele souber o que Nolan fez comigo então ele vai surtar, por favor Adryan não diz nada pra ele.
--Eu não vou dizer não se preocupe, mas ele vai notar por si só, isso te garanto.
--Porque diz isso?
--Gael não é idiota Cristal, ele já passou por isso. Ele vai estranhar assim que você pisar na escola amanhã com a perna desse jeito.
--Droga e agora?
--Usa uma calça, assim pelo menos vai esconder, mas tenta não mancar.
--Tá bom, vou fazer ao máximo de esforço.
--Só não tanto, se não você não cicatriza sua ferida. Vou falar com sua mãe para ela me levar embora, mas amanhã te vejo na escola tá bom?
--Tá ótimo.
Ele colocou a mochila nas costas, se aproximou de mim e me deu um abraço muito confortante. Fiquei bem pensativo, realmente se o Gael soubesse disso seria a declaração de uma guerra. Uma guerra que certamente travaríamos por uma única razão, pelo simples fato de termos nos tornado amigos da garota inteligente, estranha e de natureza curiosa... Sim essa era ela, Naomi Williams.
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Teens 3☀️ Pôr do Sol
RomanceOs finais felizes sempre são lindos, mas essa história... Está longe de ter um final. Nossos personagens desafiadores continuam sua aventura insana, prestes a descobrir muitos e muitos mais segredos escondidos. Espurr está diante de perigos que que...