CAPÍTULO 15: SE EU PUDESSE...☀️

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Eu estava apavorado, o que era aquele troço afinal? Minha cabeça só me fazia acreditar que era o fantasma de Lara Crakstone. Sua pele estava deformada de queimaduras e usava um manto preto em farrapos, seu rosto era quase todo escondido, exceto pelos olhos que mais pareciam dois faróis mostrando o caminho direto para um abismo infernal.
A criatura avançou na intenção de roubar minha mochila. Ela queria a peça, mas o porque um fantasma voltaria do além somente para impedir que eu levasse um dos pedaços de La Estrella? O porque eu não sabia, mas me pus a correr pela casa inteira para fugir daquela coisa. No entanto, ela me encurralou em um canto da parede e se aproximava lentamente mostrando uma navalha nas mãos, ao que indicava que ela queria me matar. Então, desesperado saquei a arma da bolsa e atirei em sua mão.
A navalha caiu no chão e se perdeu no piso, enquanto ela começou a gritar e ranger de dor por conta da ferida. No entanto sua voz mudou, não era mais a voz monstruosa ameaçadora , e sim uma voz feminina. Fiz que nada liguei e corri pra fora, pulei de volta pra dentro do Baú e me coloquei quietinho ao máximo, caso aquela coisa saísse da casa, não iria me pegar tão fácil.
Não é que eu tinha razão? Ela saiu escondendo a mão ferida, olhou em volta e em seguida desligou os lasers e correu corredor a fora. Algo me dizia que aquilo não era fantasma coisíssima nenhuma, pois como um “Fantasma” teria o controle dos lasers e pra quê? Se fosse mesmo um fantasma teria atravessado a parede ou n sequer teria se ferido com o tiro que lhe dei na mão. Saí do baú e corri para alcançar a coisa antes que sumisse. Vi o “Fantasma” indo  direção a área dos fósseis, rumo a uma saída de emergência que estava aberta, ou seja era por ali que ele havia entrado.
Ele passou como um raio pela porta e eu fui logo atrás. Quando me dei conta estávamos no terreno de trás do museu, e ele já estava correndo a uma distância longa de mim, mas como sempre fui ótimo com armadilhas improvisadas, peguei uma corda na bolsa e amarrei numa pedra média. Balancei ela no ar para pegar impulso e voa-la, acertei entre suas pernas envolvendo-as em um belo laço que o fez cair no chão.  Me aproximei cuidadosamente e a coisa se debatia no chão a fim de se soltar, então em um impulso louco eu voei em seu rosto para tentar averiguar minha suspeita. E sim, uma máscara saiu de seu rosto, mostrando que na verdade o tal “Fantasma”, não era ninguém mais e ninguém menos que Ângela, a novata da escola;
--Ângela? Mas o que significa isso?
--Eu que pergunto, você atirou em mim.
--Você queria me cortar com uma navalha, o que esperava? Afinal , o que faz aqui?
--Não é óbvio? Vim atrás do mesmo que você, o pedaço de La Estrella. 
--Mas porque você iria querer...

Parei e olhei bem para o rosto dela, e sim a minha primeira teoria sobre aquela garota também era verdade. Ângela fontes na verdade era outra pessoa que voltou do meu passado;
--Claro, seu nome não é Ângela coisíssima nenhuma. Como eu ainda pude ter dúvidas que era você por trás dessa garota, não é? Naomi Williams.
--Então você já sabia, porque não me confrontou logo?
--Eu apenas tinha uma leve suspeita, mas jamais podia imaginar que fosse você mesma. O que é que te trouxe até essa cidade afinal?
--O pedaço, ele me trouxe aqui.
--Mas como você sabia que ele estaria... Meu Deus, claro. Como não encaixei as peças antes, foi o G quem te falou da peça não foi?
--Você ficou bem mais esperto depois desses anos todos Cristalzinho. Sim, ele quem me disse e foi ele quem me mandou aqui.
--Porque ele te mandou aqui para pegar a peça se ele já tinha me pedido para fazer isso?
--O objetivo era eu pegar a peça antes de você.  Mas você foi mais rápido.
--Porque ele não me disse que você viria?
--Ainda não entendeu? Você não devia saber nunca quem eu era na verdade, e se eu vim sem ele te avisar foi porque era esse o foco.
--Isso está mais confuso ainda. Porque você quer o pedaço se eu já ia mandar pra ele?

Foi ai que comecei a raciocinar melhor. Se ela quisesse levar o pedaço pro G, teria me ajudado ao invés de se meter no caminho e tentar me matar;
--Você ia levar esse pedaço pra quem Naomi?
--Como pra quem? Pro Gael Óbvio.
--Não. Se fosse mesmo levar pra ele, ele teria me avisado sobre você. Fala a verdade, o que ia fazer com isso?
Ela parou por um minuto e suspirou profundamente;
--Já que quer tanto saber, era pro Doutor P.
--Como? Por acaso ficou louca? Não se lembra de tudo que ele nos fez por causa desse maldito tesouro que essa relíquia esconde?
--Mas é claro que eu me lembro. No entanto isso não importa mais pra mim, o que importa e meu bem estar e o da minha única família, minha irmã.
--O que seu bem estar e o da sua irmã mais velha tem haver com isso?
--Doutor P me procurou quando eu retornei a cidade a alguns dias. Ele fez uma proposta interessantemente boa para minha irmã e para mim. Minha irmã finalmente poderia abrir a boutique dos sonhos dela e eu teria muito dinheiro, apenas se ajudássemos ele a ter esse tesouro, pra isso ele se pôs a me perdoar por ter tentado impedir ele a uns anos junto a você.
--Está ajudando aquele crápula por dinheiro? O que você se tornou Naomi?
--Você não entenderia meus motivos, então por favor. Eu não quero te machucar, então me dê o pedaço.
--Ficou louca mesmo né, pois vamos resolver na loucura então, porque esse pedaço você não leva.
--Está me desafiando Cristal? Acha que é páreo pra mim?
--Você quem diga, será que é capaz de me vencer jovem trapaceira?
Ela me olhou com uma cara desafiadora. Ela não se importava mais com nada pelo que eu vi, estava disposta a levar a parte de qualquer jeito, mas isso eu não ia deixar, nem ferrando;
--Você me  força a fazer isso, então não me culpe se se ferir.
Ela tirou da cintura uma faca de punho médio, e com apenas uma mão se pôs a tentar lutar. No entanto, reconheço que lutou até melhor do que eu, mas não conseguiu me vencer. Começamos uma luta, ela avançava com a faca a ponto de realmente me cortar, mas eu me esquivava, foi assim por uns oito minutos. Achei que estava cansando ela, porém ela quem me atacou sem eu perceber. Quando me agachei pra desviar do golpe no pescoço, ela se abaixou rasteiramente e  me cortou a perna direita,  mesmo estando com uma bala dentro de uma das mãos. O corte foi profundo e o sangue começou a escorrer, mas eu nunca fui um bom perdedor, com a mesma perna cortada, levantei pra cima agilmente e golpeei seu queixo num chute destruidor. Ela caiu rolando no chão. Detestava usar violência, mas eu sabia me defender quando necessário, mesmo ainda me enchendo de raiva por ter acertado uma garota, ainda mais sendo ela uma amiga de infância. No entanto, ela não estava ligando pra isso, para ela ali era eu ou ela para sair vivo, e no caso... Não podia ser ela a sair viva.
Ela não tentou nem se levantar, apenas recuou pra longe no chão. Colocava a mão no queixo cuidadosamente, afinal o golpe que eu lhe dera deve ter machucado bastante, isso se não tivesse quebrado o maxilar. Me levantei com muito custo e olhei bem nos olhos dela;
--Isso é pra você ver que não sou tão fraco quanto você imaginava. Eu não queria te machucar, mas você não me deu opção.
--Ainda não acabou, vai ter troco Cristal, ah se vai.
--Afinal o que é que deu em você? Percebe o que acaba de acontecer aqui? Você tentou me matar com uma faca. Éramos amigos Naomi, o que foi que aconteceu?
--Tem razão... Nós éramos. E eu sinto muito Cristal, mas para ter o que eu tanto quero eu vou passar por cima de qualquer um, até mesmo de você se for preciso. Apesar de toda consideração e carinho que ainda tenho por você, não vou hesitar em te matar se for preciso.
--Pois bem, já que é assim que você quer, é assim que vai ser. Quando estiver recuperada do tiro que dei na sua mão e do chute no seu queixo, pode vir me procurar que nós terminamos essa luta... Estarei te aguardando ansiosamente Naomi Williams.
Saí mancando da perna o mais rápido que consegui. Andei, andei e andei, quando percebi estava numa via, em torno só havia matagal e árvores escuras pela noite. Havia um banco ali perto, me aproximei e me sentei tentando recompor as forças.  No entanto eu não podia ficar parado, tinha que seguir em frente se quisesse chegar vivo em casa.
Fui mancando rua a frente, até que comecei a ver casas. Era sem dúvida o bairro próximo a minha casa, mas ainda tinha chão. Fui andando perdendo cada vez mais minhas forças, estava para desistir ali mesmo e me render ao holocausto que estava minha situação. Porém vi um  ser humano sentado numa praça por onde eu passava, ao longe não vi quem era, mas ele pareceu me ver, e realmente me viu. Quando me dei conta ele estava vindo na minha direção, morri de medo de poder ser um assaltante, afinal já era tarde da noite. Minha visão estava embaçada, mas ainda assim consegui distinguir o rosto, ainda mais quando ouvi a voz dele;
--Espurr, está bem? O que está fazendo aqui? O que houve?

Sim, era o Cristian. O destino trouxe ele diretamente até mim quando eu mais precisei de ajuda;
--Vo... Você.
Não lembro de mais nada, tudo simplesmente ficou escuro. No entanto eu sabia, sabia que estava nos braços dele... E nada me faria mal.
Acordei meio aéreo. Minha cabeça estava doendo um pouco e ao meu redor as coisas giravam, só foram se ajustando conforme eu ia abrindo melhor os olhos. Estava tentando desvendar onde eu estava, o lugar era familiar, era um quarto. Um quarto de cortinas verdes, a cama era de casal e bem espaçosa, havia um Puff verde no canto perto da porta e várias outras coisas que eu ainda achava familiar mas não lembrava ao certo. Só que quando me inclinei para me sentar na cama, meu cotovelo esbarrou em um porta retrato. Levantei as pressas e peguei rapidamente do chão, quando olhei a foto tudo se encaixou. Ainda mais quando a porta abriu e ele me viu em pé, foi ai que minha perna falhou e eu senti uma dor horrível nela.
Ele se apressou e me levantou do chão com os dois braços, me colocando na cama de volta. Seu olhar era de preocupado e nervoso... E sim, era o quarto do Cristian. Ele me embrulhou com seu edredom, também verde e recolheu o porta retrato do chão, a foto nele, me emocionou bastante, era uma foto minha e da Álice. Ele pegou e colocou de volta no criado mudo, voltando a olhar pra mim;
--Como se sente?
--Bem, só uma dorzinha estranha na perna.
--Normal, estava com um corte bem feio, o que houve? Como se machucou?
--Eu, bom não vem ao caso.
--Lógico que vem. Te achei na rua ferido, se tava sangrando tanto que eu pensei que você fosse morrer.
--Por um corte na perna?
--Já ouviu falar em hemorragia? 
--Eu estou bem, não era necessário me trazer pra sua casa.
--Obviamente se preferia estar na casa do seu namorado, mas não ia dar tempo. Tive que te trazer e te tratar logo, antes que fosse tarde.
--Que namorado?

Ele se calou e ficou encarando a parede profundamente. Ergueu os olhos e me fitou;
--Já sei que está com o Benjamin.
--Quem te falou isso?
--Não importa.
--Claro que importa, quem falou fez de crueldade somente para deixar você ainda mais chateado comigo.
--O que me chateou não foi o fato de estar com ele, e sim por você estar distante.
--Distante como? Foi você quem se afastou de mim por conta de um boato que nem era  verdade.
--Você falou na minha cara que não me devia explicações e que eu era o errado por não dizer que Eva e eu nos conhecíamos.
--Não me zanguei por isso, fiquei mal pelo fato de esconder que estava namorando e nem sequer me contou nada.
--Eu não estava junto com ela naquele tempo, ela era somente uma amiga que me escutava quando eu precisava desabafar, aliviar a cabeça.
--Ah sua maneira de aliviar a cabeça e bem diferente não é? 
--O que pode reclamar? Está com o Benjamin e não se atreveu a me dizer.
--Como eu diria? Você nem olhava na minha cara... E porque eu diria, o motivo é justamente você... É melhor acabar esse assunto, chega.
--O motivo sou eu? Eu sou o motivo de você estar com o Benjamin? Que sentido isso faz?

Era lá, naquele exato momento, no próprio quarto dele... Que eu disse o que sentia;
--Será que é tão difícil de perceber? Eu nunca gostei da Eva, mesmo quando você disse que ela era só uma “amiga”, eu tentava me manter ao máximo perto de você, gostava quando estávamos sozinhos... E mesmo assim não se deu conta do que eu sentia e ainda sinto.
--O que quer dizer? Você ficava mais perto de mim por sermos melhores amigos, e você não gostava da Eva porque...
--Porque gosto de você satisfeito? Essa é a verdade.
Segurei seu rosto com as duas mãos e olhei no fundo dos olhos verdes e penetrantes dele que mais pareciam uma lagoa repleta de vitórias-régias;
--É isso mesmo que ouviu. Cristian Salvaterra eu amo você, e isso é a coisa que eu mais tenho certeza no mundo.
--Espurr... Pode por favor repetir isso que acabou de dizer por favor?
--Eu amo você Cristian.
Quando pensei que ele surtaria com aquela loucura que eu acabara de dizer, na verdade lágrimas começaram a cair de seus olhos, e ao mesmo tempo ele sorria;
--Porque está chorando?
--Você não sabe, o quanto eu esperei para poder ouvir isso da sua boca.
--Sabia que eu gostava de você?
--Não... Na verdade era mais uma vontade que você dissesse, e agora ela se realizou.
--Porque tinha vontade de me ouvir dizendo que te amo?
--Porque... Eu também te amo Espurr, eu amo você também.
Pronto. Meu mundo todo estremeceu naquele instante, meu melhor amigo por quem me apaixonei, também estava apaixonado por mim... Que loucura meu Deus;
--Você... Você me ama?
--Amo, amo mais do que qualquer outra coisa nessa vida. Desde que tínhamos cinco anos, eu sempre amei você.

Bem nessa hora eu que comecei a chorar de emoção, minhas lágrimas eram como o soro da felicidade, de tão feliz que eu estava por dentro. O garoto que eu gostava, gostava de mim também. Ele começou a aproximar seu rosto do meu;
--Não. Cris não por favor.
--Porque não? Você disse que gosta de mim, acabamos de nos declarar um pro outro Espurr.
--É , acabamos. Mas não podemos fazer isso, eu não posso fazer isso com o Benjamin e nem você com a Eva. Por mais que eu não goste dela, ela merece respeito pelo menos, já o Ben... Não poderia suportar magoá-lo.
--Espurr, isso não precisa ser um problema, eu rompo com a Eva agora mesmo se necessário, contanto que você e eu fiquemos juntos.
--Não dá Cristian, eu não posso magoar assim o Ben, ele é um ótimo rapaz e tem feito de tudo para me fazer feliz, não vou fazer algo tão baixo com ele.

Ele se aproximou ainda mais de mim, a poucos centímetros de mim;
--Eu sei que ele não merece sofrer... Mas eu e você já sofremos demais por gostar um do outro. Gostei de você em segredo até hoje e me calei para não afetar a sua vida, para não afetar nossa amizade, pois achei que você não me corresponderia e até poderia perder sua amizade... Te perder. Isso eu não suportaria, te perder seria a morte para mim. Eu nunca tive devidamente uma “família”, mas você sempre estava lá, nos dias que eu acordava a noite tendo pesadelos com apenas quatro anos de idade, você estava lá. Não posso te deixar de novo, esses dias afastados de você foi uma completa tortura para mim, só pensando em você e... Na maldita possibilidade de você estar com outro que não sou eu.
--Acha que também não sinto em ter que negar que gosto de você? Mas não podemos, você perderia a Eva e eu... Perderia o Ben. Por mais que seja você a pessoa que eu ame, eu não posso destruir os sentimentos dele quando foi justamente ele quem curou os meus. E sim, eu também não posso deixar você de novo, minha vida não tem sentido sem você nela, mas temos que aceitar as escolhas que fizemos Cristian.
--De maneira nenhuma, eu me recuso. Se você não quiser falar com o Ben para não magoar ele, pode deixar que eu falo. Porque  eu não vou poder ficar sem você e muito menos te ver nos braços dele.
--Não, você não vai falar. Eu o procurei para tentarmos algo justamente porque eu queria esquecer você e porque ele também gosta de mim, então eu sinto muito Cris, mas eu não posso romper com ele.
--Vai negar essa oportunidade que estamos tendo de ficarmos juntos?  Espurr por favor pense...
--Eu pensei, pensei em nós claro... Mas principalmente neles. No entanto guarde bem na sua mente, eu amo você Cristian e mesmo que não fiquemos juntos, eu te amo.

Ele puxou meu rosto e me beijou. Sim, Cristian e eu nos beijamos pela primeira vez no quarto dele, na cama dele e comigo com a perna machucada. Eu tentei resistir, mas parei assim que assimilei que estava beijando o garoto que eu amava. Nos beijamos tão amorosamente, podia sentir nossos sentimentos presentes naquele beijo. No entanto, enquanto nos beijávamos, a porta se abriu, pensei ser a nana, mas na verdade... Era a Eva.

Teens 3☀️ Pôr do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora