Logicamente, eu não disse ao Ben quem eram os cinco jovens da história e nem me autocitei nela. Ele ficou muito intrigado e meio curioso para saber como eu sabia daquela história, mas eu consegui desviar o assunto focando no acontecimento daquela noite. Ali deitados, eu me aconchegava ainda mais nos braços dele;
--Ben, posso pedir uma coisa?
--O que quiser.
--Fica aqui hoje, seu carinho me faz muito bem.
--Ficar perto de você, acelera meu coração de uma maneira incrível... Claro que eu fico, esperei muito tempo por isso.
--Desculpa ter te feito esperar tanto tempo Ben, eu só achei que... Bom eu tinha esperanças que...
--Que desse certo com o Cristian. Eu sei bem disso e como é sentir isso, mas eu te garanto que não vai se arrepender de estar me dando essa chance.
--Sei que não vou. Escuta, sua mãe ainda conversa com a minha?
--As vezes ela vai na casa da sua mãe para fofocarem juntas. Porém toda vez ela volta dizendo como a sua mãe anda triste quando fala de você.
--Entendo.
--Você ainda não a perdoou?
--Não, mas não guardo mágoas, ela fez o que achou correto fazer, o que me importa é que estou vivo, vivendo com amigos incríveis e com uma nova família.
Ele ficou pensativo e do nada ficou rindo pelo canto da boca;
--O que foi?
--Imaginei agente... Como uma família.
Fiquei sem palavras. Ele era tão fofo, tão amoroso, tão tudo e olhe que estávamos no primeiro dia de um possível relacionamento, pensei que ele agiria com alegria, só não pensei que ele seria exatamente como um... Namorado pra mim;
--Escuta, vou ficar essa noite aqui com você, mas de manhã bem cedo tenho que ir para casa. Minha mãe vai entrar cedo no hospital e meu irmão quer minha ajuda com um trabalho.
--Tudo bem, já é ótimo você passar a noite aqui sendo meu aconchego.
Ele me olhou com um sorriso lindo, que eu tinha vontade de nunca parar de olhar. Seus olhos eram como o céu estrelado, sempre que se olhava via um brilho especial lá no fundo deles, como se estivesse contente a todo tempo... Ou quando ficava com raiva, seus olhos ficavam simplesmente negros como uma nebulosa.
Ele colocou uma música em seu fone e ficamos ouvindo abraçados, aconchegados como dois passarinhos prestes a dormir. Era uma música linda, estava em inglês, mas a voz da cantora, letra em si... Maravilhosa a música inteira. Eu podia ouvir ele sussurrando a letra baixinho, sinal que ele gostava tanto que sabia de có;
--But you make me wanna act like a girl Paint my nails and wear high heels Yes, you make me so nervous that I just can't hold your hand
You make me glow But I cover up, won't let it show So I'm putting my defenses up 'Cause I don't wanna fall in love If I ever did that, I think I'd have a heart attack I think I'd have a heart attack I think I'd have a heart attack
A voz dele cantando era maravilhosa, apesar de ser baixa, era como um canto melancólico que prendia qualquer par de ouvidos. Ainda mais cantando Heart Attack, era esse o nome da música. De tanto me concentrar em apenas escutar ele sussurrando a música, acabei pegando no sono.
Novamente estava em um lugar estranho. Era um jardim, um jardim cheio de árvores de cerejeira e macieira, aparentemente estavam na primavera, pois suas pétalas estavam belas e algumas até chegavam a cair de tão cheias e carregadas que as árvores estavam. Além das árvores, era como se o lugar não tivesse fim, exceto pelos seres que começaram aparecer. Três estranhos começaram a sair de dentro de três árvores, a minha frente, onde aos poucos foram assumindo formas humanas, formas familiares... A primeira assumiu a forma do Cristian, a segunda a forma do Benjamin e a terceira a forma do Edward.
Eles me observavam, cada um com um olhar diferente. Ben me olhava com um sorriso, uma expressão muito doce estampada em seu rosto. Já Edward, eu notava que algo estava errado, no meu sonho ele chorava, chorava de medo de alguém. Por fim, Cris me olhava com um olhar de ódio, raiva, rancor, tristeza, ranço, repúdio ou coisa assim.
Seus olhos claros me julgavam, mas ao mesmo tempo ele me estendia a mão, no entanto Bem também estendera a dele e Edward também. Os três esperando qual deles eu iria escolher. Sendo sincero, esse sonho foi lunático, Edward não sentia nada por mim na vida real, e Cristian me odiava por pura besteira, o que eu achei que jamais aconteceria, eu me afastar dele sendo ele meu melhor amigo da vida toda. De repente, tudo começou a sumir, eles começaram a evaporar como se um vento os tivesse soprado. Aos poucos o lugar inteiro começou a praticamente desintegrar, foi só ai que eu me toquei que era sonho e despertei procurando pelos braços manhosos de Ben, que nada encontrei.
Abri os olhos e vi tudo claro no meu quarto, já era dia, mas algo estava errado, Ben havia sumido. Peguei meu telefone que estava em cima do criado mudo, já carregado e apontava o horário de 8:34da manhã. Eu dormira tanto que nem vi a hora em que Benjamin se levantou, deve ter ido na encolha para não me acordar. Tomei um belo banho, me vesti e desci para tomar café.
Na sala não havia ninguém, fui até a cozinha e em cima da bancada havia um bilhete, escrito por João.
Oi Espurr, bom dia! Espero que tenha dormido bem, Benjamin saiu as seis e meia para ir para casa e eu vim fazer umas compras e resolver uns assuntos, seu pai preparou um belo bolo de trigo e o deixou no forno já cortado em fatias, até as 13:00 estarei em casa. Se cuida e me liga se precisar...
João.
Ele tinha um cuidado impressionante comigo, aliás com tudo, nem sei o que seria de mim sem o João para agir como um verdadeiro irmão. Abri o forno e retirei a vasilha do bolo, ele estava com uma cara ótima, abri a geladeira e peguei um suco natural sabor maçã e uva.
Me pus a olhar pela janela da cozinha enquanto eu comia, vi as nuvens se movendo no céu e o belo som das músicas que eu colocara no celular. Estava bem tranquilo até que ouvi um barulho no portão, e logo em seguida a porta da sala se abrindo com um belo esforço para não ranger ou fazer qualquer tipo de barulho. Me escorei na brecha do corredor da cozinha até a sala para espiar com o canto do olho, Edward entrava com uma mala, o que eu achei bem suspeito. Sai subindo rapidamente escada acima, pois ele ia subir também, me escondi debaixo da cama do quarto dele, que por sinal cheirava a canela, perfume da natura e cheiro de shampoo. Encolhido debaixo da cama, vi quando ele entrou sorrateiramente no quarto e fechou a porta silenciosamente, daí colocou a mala em cima da cama e ficou andando de um lado pra outra, pensando eu diria. Quando eu ia sair para pegá-lo de surpresa, seu celular tocou;
--O que você quer agora? Não vou morar com você, não insista e desaparece da minha vida.
Pensei que não ia conseguir escutar a conversa, mas o telefone estava no viva voz;
--Você ainda é de menor, eu mando em você.
--Você não pode me obrigar.
--Claro que posso, você é meu filho e deve fazer o que eu mando.
Era realmente uma briga entre ele e o pai dele, o tal pai que literalmente abandonou ele;
--Eu já disse que não vou, e boa sorte com sai nova vida.
Depois disso ele desligou o telefone e começou a esbravejar andando pelo quarto. Bem lentamente fui saindo de baixo da cama e me levantando, ele viu quando fiquei de pé por completo e pude ver sua cara de espanto e ao mesmo tempo com várias lágrimas presas aos olhos, loucas para sair e aliviar a dor que ele devia estar sentindo por dentro. Nem me importei em exigir uma explicação, ele não estava bem e isso era evidente, tudo que fiz foi me aproximar e abraçar ele. Achei que ele detestaria isso, mas ele começou a chorar enquanto me abraçava.
Algo estava muito errado, o pai de Edward voltar assim do nada, todo preocupado em ter o filho morando com ele de novo depois de praticamente tê-lo abandonado, no entanto eu não disse nada, somente deixei ele se acalmar. Descemos até o andar de baixo para que ele lavasse o rosto e eu tomasse meu café enquanto ele me contava o que estava havendo. Tirei dois pedaços do bolo , um pra mim e outro para ele, nos sentamos na bancada da cozinha e me pus a entender o porquê dele estar daquele jeito;
--O que é que está havendo Edward? Porque estava discutindo daquele jeito com seu pai?
--Espurr , me desculpe... É que ele sempre me deixa nervoso.
--Entendo, mas nervoso com o que exatamente dessa vez?
--Ele... Ele está voltando Espurr, está voltando pra cidade e quer me obrigar a morar com ele, o meu meio irmão e minha madrasta.
--Mas isso não é bom? Você ter uma família novamente?
--Espurr, ele nunca foi presente na minha vida, eu te disse isso. Sem contar que ele não pode me forçar.
--Tecnicamente ele pode, você ainda é de menor e ele ainda é seu pai.
--Um pai que eu não vou querer estar perto jamais. Ele não é e deixou de ser a muito tempo como uma família pra mim.
--Sei como deve estar se sentindo, mas ainda não entendi o porque de você entrar escondido com aquela mala.
--Me desculpa, eu fui buscar o que faltava das minhas coisas na casa da minha tia, ia entrando escondido para que vocês não percebessem. Espurr de verdade, eu não quero ter que viver com aquele homem, ele não se importou com a dor da minha mãe, não se importou no quanto eu sofri quando a perdi, pelo contrário, ele me largou aqui sozinho e foi refazer a vida dele.
Ao dizer isso, lágrimas voltaram a escorrer pelo canto de seus olhos. Sabia que ao estar me dizendo tudo aquilo, ele também estava recordando tudo que viveu. Me levantei, dei a volta na bancada e o abracei de novo, aquela dor devia estar sendo insuportável pra ele;
--Tudo bem calma, não chora. Não precisa ir se não quiser, aqui sempre vai ter um lugar pra você, afinal somos sua família agora também.
--Obrigado por me apoiar e me entender Espurr, de verdade obrigado.
Ele suspirava tentando segurar as lágrimas, mas evidentemente por sua respiração ofegante, eu notei;
--Sempre estarei aqui, pro que você precisar, somos irmãos agora e sempre vai ter a mim e ao João pra cuidar de você.
--Seu coração deve ser o mais amoroso que já vi na vida, depois de tanto nos odiarmos, agora somos parte da mesma família.
Rimos enquanto ele secava as lágrimas. Eu não queria vê-lo mal de jeito nenhum, por mais que tenhamos tido nossos desentendimentos no passado, Edward tinha se tornado importante pra mim e eu não iria deixá-lo em um momento difícil como aquele. Terminamos de comer e eu deixei os pratos lavados, subimos e ajudei ele a desfazer a mala e a arrumar tudo. Para espairecer, decidimos passear juntos na beira do lago e ver o pôr do sol.
Nos arrumamos, almoçamos a comida deliciosa que papai havia deixado e saímos andando e conversando igual dois melhores amigos, a única diferença é que ele gostava de passar o braço em volta de mim enquanto andávamos. Nesse aspecto realmente reconheço que quem visse poderia pensar que somos um casal. Porém naquele dia não me importei com isso, só andei junto dele e rimos muito de coisas aleatórias. Quando avistamos o lago, vimos que havia um rosto conhecido por lá, Miles. Nos aproximamos, quando nos viu acenou e fomos até ele;
--Oi Miles, como vai?
--Vou bem e vocês? (Miles)
--Ótimos. O que está fazendo? (Edward)
--Estou pescando, querem pescar? (Miles)
--Olha eu não sei pescar não.(risada)
--É fácil Espurr, eu quero sim Miles, tem alguma vara sobrando? (Edward)
--Tenho uma sobrando sim, vamos até o carro do meu tio pegar. (Miles)
--Beleza, Espurr se importa de ficar aqui uns minutos? Não vamos demorar. (Edward)
--Sem problemas, vai lá. Eu espero aqui.
Eles saíram andando um pouco mais acima, então me sentei numa pedra que havia ao pé da árvore e fiquei observando a beleza da água. Mal podia esperar para estar diante do enorme rio de águas cristalinas perto da fazenda de vovó. Essa viagem seria tudo que eu precisava para limpar a mente e tirar as dúvidas que me percorriam.
Pensei tão longe, que nem vi que alguém havia chegado e estava me observando;
--Oie?
--Ah, oi... Quem é você?
--Desculpa, te assustei?
--Não, é que eu estava pensando meio longe.
--Ah sim, bom... Prazer, meu nome é Otávio, desculpe o incômodo.
--Não, tudo bem. Prazer, eu sou o Espurr.
--Espurr... Espurr... Espera, Espurr da escola do Centro?
--Sim, você estuda lá?
--Bom, entrei semana passada, mas já ouvi alguns rumores da escola e dos alunos de lá e bom, digamos que seu nome chegou aos meus ouvidos.
--E pela sua cara já até sei que não foi boa coisa que escutou de mim.
--Olha... Não sou de falar mal das pessoas, mas o que chegou em mim era que você era uma pessoa esnobe e que gosta de chamar atenção, passando por cima de todo mundo.
--Caraca, dessa vez se superaram na invenção.
--Desculpa se te ofendi em dizer isso.
--Relaxa, você apenas disse o que te disseram de mim.
--Mas eu não julgo, se você diz não ser verdade...
--Não, se tem uma coisa que eu não sou é esnobe , agora na parte de pisar, só piso em quem merece ser pisado.
--Nossa, bela fala. Você gosta de mangá?
--Já li alguns, porque?
--Ah nada, é que eu gosto bastante e essa frase pareceu bem de efeito.
Eu simplesmente não sabia o que estava havendo, eu mal havia conhecido o garoto e já estávamos iniciando um belo papo. Ele tinha os cabelos escuros e com ondas meio embaraçadas e meio lisas ao mesmo tempo, com um estilo bem cara de nerd. Estava usando uma calça verde escura , uma blusa branca polo com um colete listrado por cima e com um tênis adidas cor marrom claro. Seus óculos passavam muito a vibe de que ele era um garoto estudioso e bem certinho, seus olhos tinham a cor de um castanho bem amadeirado e ao mesmo tempo misturado com um verde florestal, pelo fato dele ter estado de frente ao sol consegui ver bem;
--Eu vou indo, pois tenho que ir pra casa revisar uma matéria pra prova de manhã e... Inclusive você estudou?
--Nossa, verdade essa semana já é de provas não é?
--Sim, os cronogramas já foram distribuídos a um tempinho, você não estudou?
--Estudei sim, só não sei quais provas tem amanhã pra minha turma, mas vou ver quando chegar em casa.
--Tá bom então, até depois se agente se trombar lá pela escola.
--Até... Ei, fica um pouco para ver a pesca, assim é bom que você descobre como eu realmente sou.
--Bom eu ainda tenho que revisar umas coisas sabe e...
--Ah, só um pouco vai.
--Tá bom, um pouco acho que não dá problema.
Enquanto ele se acomodava, vi os dois voltando com a vara reserva na mão. De longe já vi a expressão estranha se formando na cara de Edward;
--Que bom que voltaram, esse aqui é o Otávio, Otávio eles são Edward e Miles. Os dois também são do colégio.
--Ah claro, já vi o Edward no dia que cheguei na escola.(Otávio)
--Você é novo lá na escola? (Miles)
--Sou, entrei semana passada, meu nome é Otávio. (Otávio)
--Legal, eu sou o Edward. (Edward)
--Eu o convidei para ver vocês pescando, tudo bem?
--Claro. (Miles)
--Sem nenhum problema. (Edward)
Eles prepararam os anzóis, colocaram as iscas e as lançaram no lago;
--Escute Otávio, por algum acaso foi uma pessoa em específico que te disse coisas de mim ou você ouviu no geral da escola?
--Bom, eu costumo ficar sozinho no intervalo, mas na quinta, uma garota que também é novata no colégio , me chamou para passar o intervalo com ela e uns amigos que havia feito, e foi nesse grupo que eu soube de você.
--Quem estava nesse grupo?
--A garota novata que se tornou minha amiga, Sandra o nome dela. Os outros pelo que pude entender, já estudam lá a um bom tempo. Uma garota que parecia bem popular, Tiffany e ao lado dela outra garota muito bonita que todos pareciam babar em cima , Isis. Um cara que ao que se dava a entender, era o namorado da Tiffany, Andrés. Uma garota chamada Callie e um cara chamado Esteban.
--Ah, só podia ser mesmo.
--O que estão falando do Esteban? Ouvi o nome dele. (Edward)
--Otávio está me contando quem foram os integrantes do grupinho, onde disseram que eu sou esnobe e que sou uma pessoa amostrada que ama pisar nos outros.
--Quem falou isso? (Edward)
Dava para ver a raiva se formando nas feições de Edward;
--Foram umas garotas, Tiffany, Ísis, e Callie, e uns caras lá, Andrés e Esteban. (Otávio)
--Andrés, metido a futebolista. Não gosto desse cara e o Esteban está ficando cada vez pior. (Edward)
--Ele nunca prestou Edward, não é agora que iria mudar. No entanto, e a garota que estava grudada com você?
--Ah, Sandra? Não, ela não disse nada. Somos novatos e apenas estamos nos enturmando. (Otávio)
--Esses caras não valem nada, se quiser colar com nosso grupo, fica a vontade, será bem vindo, não é Espurr? (Edward)
--Claro.
--Obrigado, vou chamar a Sandra e ver se ela quer ir também. (Otávio)
--Beleza.
Ficamos jogando conversa fora enquanto Edward e Miles pescavam. De tanto papearmos, não vimos a hora passar e quando notamos, o pôr do sol estava a nossa frente com todo seu esplendor. Era lindo ver aquela cena, o sol sumindo no meio das águas, na linha do horizonte, o que me fez lembrar de momentos incríveis antigos, momentos esses... Que vivi com o Cristian.
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Teens 3☀️ Pôr do Sol
RomantikOs finais felizes sempre são lindos, mas essa história... Está longe de ter um final. Nossos personagens desafiadores continuam sua aventura insana, prestes a descobrir muitos e muitos mais segredos escondidos. Espurr está diante de perigos que que...