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•Lavínia•

Esfrego meus olhos assim que acordo, parece que um trator passou por cima de mim e é que eu nem se quer bebi, mas enfim, os meninos foram embora, na hora que o fantasma me acordou eu não raciocinei muito bem, aí tô lembrando agora que ele disse que já tava indo e eu só concordei. A Bia do meu lado roncando mais que tudo e eu pego meu celular na mão abrindo na câmera tirando uma foto bem zuada dela babando. A noite foi boa, me diverti e também distrai um pouco a mente que é uma das coisas que eu tenho que priorizar muito, minha saúde mental.

Não sou muito de falar pras pessoas essa história que foi mais um pesadelo na minha vida, mas eu tive depressão no nível extremo durante cinco meses, onde eu não comia direito muito menos saia de casa pra absolutamente nada, nada mesmo, minha vida era sem sentido e nada mais importava pra mim, era um verdadeiro foda-se pra todos ao meu redor e também pra mim, cheguei a ficar muito magra na época, eu não trabalhava e minha mãe mesmo estando mal com todas as coisas que tinham acontecido trabalhou muito pra sustentar eu e ela, por isso a amo com todas as minhas forças.

E não, eu não entrei em depressão por algum ex namorado ou algo do tipo, minha vida era a melhor do mundo até isso tudo acontecer justo na minha casa, na minha família, e com o meu pai, o qual eu amava tanto. Me lembro até hoje daquele dia...

•Flashback on•

Entro em casa toda feliz pra contar aos meus pais sobre minha nota máxima que eu tirei no Enem, eu estudei muito, muito mesmo pra poder ter um estudo bom e poder dar o melhor para meus pais.

Meu sonho sempre foi me tornar uma advogada criminalista, e meu pai também sempre me disse que minha personalidade é forte e que tenho potencial para isso. Eu tenho amor de verdade, uma advogada defendendo seu cliente, onde ela diz vários argumentos que não tem como contrariar, espero conseguir ser um dia...

Depois de chorar ao ver minha nota estampada naquele site, eu desço as escadas devagar ouvindo vozes estranhas, tento entender o que falam mas é em vão, pois os barulhos estão ficando cada vez mais altos e já está me deixando um pouco assustada, porém continuo meu caminho.

Vejo meu pai na porta de casa falando com alguém, aparentemente assustado, oque já me deixa em alerta, minha mãe aparece da cozinha com um semblante de preocupação. Meu coração já começa a bater mais forte, me deixando nervosa cada vez mais.

Me aproximo um pouco mais da porta indo chamar meu pai e saber oque está acontecendo aqui, que só eu não faço idéia, mas sou interrompida de ir até lá assim que escuto barulhos altos, na hora não consegui pensar direito, só vi os dois disparos que acertaram o peito do meu pai, ele cai no chão da sala e o cheiro forte de sangue impregna na casa inteira.

Perco a força das minhas pernas ao ver meu pai sendo morto na minha frente, sem ao menos uma despedida ou qualquer coisa que eu pudesse dizer um último "eu te amo", ou até tentar impedir essa tragédia.

Seu corpo estirado no chão e eu ao seu lado, sem reação a não ser chorar e chorar, minha mãe se encontra do mesmo estado que eu, mas nesse momento eu só senti meu mundo desabando, como se eu estivesse parada no meio do nada e o chão que eu pisasse tivesse caído totalmente, me fazendo cair no abismo. É literalmente assim que eu me sinto nesse momento...

•Flashback off•

Saio dos meus pensamentos tentando não lembrar mais disso, sempre que me lembro me dá uma angústia no peito e a vontade de chorar me invade.

Muitos me chamam de arrogante, fria, e outras coisas, mas nenhum deles sabe de tudo oque eu passei pra me tornar quem eu sou hoje. Eu passei no enem e aquele dia eu iria contar pra eles, mas prefiri guardar aquilo tudo pra mim e não falei a ninguém, pra todos eu não passei e também nunca tentei de novo, já que aquela profissão que eu tanto amava morreu junto com o meu pai aquele dia.

E quando eu digo que a Bia e o João Victor foram minha salvação eu não falo de momentos normais em que eles foram meus amigos, não, ele me salvaram quando eu estava trancada na porra de um quarto, sem querer pôr a cara na janela e nem comer, eles sim foram meus amigos e ficaram do meu lado a todo momento, foi por eles e pela minha mãe que eu não tirei a minha própria vida.

E eu já pensei muitas vezes em fazer isso, mas eu não podia deixar eles sozinhos no mundo, então mesmo sofrendo eu fiquei, mas já fiz sim uma tentativa, tomei muitos remédios de uma vez, e posso afirmar que eu só não morri por um milagre, pois era basicamente impossível sobreviver com o tanto de comprimido que eu havia ingerido em apenas uma hora.

Eu trocaria tudo que eu tenho hoje por apenas um segundo ao lado do meu pai, sei que muitos por aí não tiveram uma boa experiência com seus genitores, mas eu tive, e pra mim ele era e ainda é o melhor homem desse mundo inteiro, não sei como seria minha vida se isso não tivesse acontecido, talvez eu já estivesse formada ou acabando a faculdade de direito que eu sonhava em fazer.

Talvez eu me tornasse uma advogada realmente, mas isso tudo são apenas longos 'talvez' que eu não sei e nunca saberei se iriam acontecer em minha vida. Tudo pra mim se apagou e quem acendeu minha luz de volta estão comigo até hoje.

Por isso não largo meus nenénzinhos por nada nesse mundo, depois do meu pai, eles se tornaram um pedaço de mim mesma, a minha salvação pra toda turbulência que aconteceu na minha vida...

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Uma parte da História da Lavínia que vocês não sabiam.

•Além Da MarraOnde histórias criam vida. Descubra agora