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•Lavínia•

maratona 1/3 •

Eu sinceramente preciso de um dia de descanso, mas isso é impossível quando se tem uma amiga igual a Beatriz, ela não pode me ver quietinha em casa que já procura alguma coisa pra gente ir. Não é que eu não goste, até porque sempre que ela chama eu vou né.

Nós temos como se fosse um acordo em que sempre que a outra chama pra sair, tem que ir, e se negar quando você pedir e chamar ela, a pessoa tem o direito de negar também, e assim sempre fizemos, e como eu praticamente não sei fazer mais nada sozinha sempre vou com ela pra ela também não poder negar ir comigo quando eu chamar.

O rolê da vez é em uma boate muito frequentada, os ingressos são caríssimos e como a Beatriz conseguiu eu não faço a mínima ideia, juro mesmo, ela consegue um monte de coisa que eu não sei a procedência e pra falar a verdade nem procuro saber, mas tenho uma certa noção.

Passei o dia um pouco depressiva até, tudo apenas por ter me lembrado de toda merda que eu passei, e meu interior só pedir vingança a quem fez isso, é foda você presenciar tudo que eu presenciei, muita das vezes eu me cobro pra caralho, me acho insuficiente e que eu só atrapalho os outros, a minha mente e a de qualquer um é a nossa pior inimiga.

Eu sempre gostei de mim mesma, me amava e a autoestima principalmente sempre foi lá em cima, tudo na minha vida e em mim era perfeito, mas é como diz na frase que mexe profundamente comigo " Não era uma insegurança até falarem".

Quando começaram a falar merda sobre mim na escola, eu comecei a me achar uma feia, que ninguém nunca ia gostar de mim e o nível de comparação com as outras meninas foi gigante, gigante mesmo.

Hoje em dia eu escolho eu mesma antes de qualquer pessoa, nós somos os mais importantes, e nem deveria ter a chance de alguma opção, eu demorei muito pra aprender, mas aprendi no final, hoje em dia os marmanjos que falavam de mim e me colocavam pra baixo não viraram nada na vida além de bandidos perrapados, e é daí que eu vejo como o mundo dá voltas.

Pode demorar, mas uma hora a conta bate na sua porta de uma forma que você não espere, na vida do meu pai foi exatamente assim, mas infelizmente eu não sabia dessa conta tão grave que ele teria pra ser morto daquela forma, sem chance de falar um adeus.

Tem vezes que eu me pego pensando, será que meu pai morreu por algum motivo ou apenas mataram? Já cheguei a perguntar para minha mãe, mas é em vão, ela sempre nega e na minha cabeça martela se sou apenas eu que não sei da verdade.

É foda você saber que todos sabem de algo menos você, mas eu aprendi a lidar com isso, eu aprendi a lidar com muita coisa na minha vida, não porque eu quis, mas porque eu precisei.

[...]

-Tá bom Beatriz- falo pela última vez.

Beatriz:Eu quero a saia branca com o top rosa, traz aqui.- ela pede na ligação e eu nego.

-Vou nada, venha buscar ou mande alguém, vou começar me arrumar agora mulher.

Beatriz: Caramba, chamei o João mas ele não viu, espera aí que eu acho alguém aqui.

-Tá, manda buzinar que eu vou deixar separado aqui.- desligo a chamada e vou procurar a roupa que ela quer.

Não gosto muito de pegar roupa emprestada, até pq sou muito desastrada e pra mim derramar algo ou sujar/quebrar a roupa são apenas dois pulinhos, então evito, mas empresto dboa, mas pra pessoas selecionadas, óbvio.

Já vou me adiantando e entro no box do meu banheiro, entro aos poucos d'baixo da água gelada molhando meus cachos por completo. Pego o shampoo da embalagem roxa da marca Eudora e coloco uma quantia em minha mão, espalhando o produto em cada metade do cabelo vendo a espuma logo se formar.

Eu não sei se é verdade, mas já ouvi falar que se o cabelo não espuma é porquê não lavou direito então se não espuma sempre passo o shampoo mais uma vez. Depois de enxaguar venho com a máscara da mesma linha passando em cada parte do cabelo e deixo agir por apenas 15 minutinhos.

Retiro tudo do cabelo e pra finalizar passo o condicionar deixando também poucos minutos e enxáguo terminando de lavar esse cabelo que me dá tanto trabalho.

Depois do banho ter finalmente sido completo, saio enrolada e vou até meu guarda-roupa vestindo uma lingerie linda preta, posso dizer que é minha favorita, enrolo a toalha no cabelo enquanto visto a lingerie e escuto a buzina lá fora, imagino ser pra buscar a roupa que a Bia quer emprestado.

Enrolo a toalha no meu corpo só pra ir entregar rapidinho então acho que não tem problema, abro a porta da sala vendo quem está na moto para buscar a porra da roupa e xingo a Beatriz de todas as formas na minha mente, ela parece me odiar porque não é possível.

Fantasma: JV pediu pra mim vim buscar um bagulho aí preta.- confirmo com a cabeça sem falar nada e estendo a bolsa com as roupas pra ele que pega e me olha de cima abaixo me analisando.

Eu sou difícil de ter vergonha, mas assim fica impossível né. Saio de perto dele rapidinho depois de entregar as roupas enquanto ele ainda me encara me fazendo engolir em seco pela sensação que apenas só olhar dele me causa.

-Para de me olhar assim... - falo e ele continua me fazendo desviar o olhar do seu.

Fantasma:Assim como pô? Te olho normal.

-Você sabe muito bem, mas agora licença que eu tenho que me arrumar- falo já me preparando pra entrar.

Fantasma: Hum, vai sair é?- ele pergunta já querendo saber demais e eu só confirmo com a cabeça entrando em casa.

Respiro fundo e subo as escadas indo me apressar, pego meu celular tirando do carregador e mando um áudio esculacho a Beatriz, eu juro que eu vou descontar tudo que ela tá fazendo pra mim, não sei que obsessão é essa que ela tem de mim com esse menino, sério mesmo.

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•Além Da MarraOnde histórias criam vida. Descubra agora