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•Fantasma•

Depois de passar a frequência no radinho e me comunicar com todos os caras pra ficarem na atenção sobre tudo, desci correndo pelos becos com a minha AK-47 na bandoleira, pelo menos não fui um bagulho de surpresa, até porque eu já imaginava que uma hora eles iriam querer bater de frente logo comigo, mas é como eu sempre digo e repito, pode tentar pô.

E o mais foda ainda é que esses pau no cu só quer invadir a noite, por isso os morador inocente acaba sendo atingido por essa hora a maioria estar voltando do trampo, e os cana sempre justifica as mortes inocentes como a porra de uma bala perdida, o cu deles, atiram pra pegar nos morador mermo, até em criança eles não tem piedade, o governo mente dizendo que quer o melhor pras favelas, porra nenhuma, o que eles mais queriam era acabar com todo mundo que é daqui, sendo do tráfico ou não, eles querem fazer a limpa e pronto pô, mas enquanto eu estiver no comando dessa porra, ninguém mexe aqui não.

Quanto mais eu penso nessa parada, meu ódio sobe cada vez mais, já perdi muito parcero que era trabalhador por causa de um caralho fardado por aí, eu cresci vendo morte, invasão e os caralho, via meu pai chegando e casa sangrando e todo ferido depois de uma invasão, eu não entendia porra nenhuma da situação, mas eu sabia que não era bom.

Também não fiquei culpando a polícia por isso, afinal nós também tá no erro, mas tem coisas que eu não aceito que vem deles, muita gente por aí defende dizendo que é a justiça e pá, mas cadê a justiça por matar as criança vindo da escola? Qual seria a próxima desculpa? Se no final a resposta é só porque era um menor favelado, isso quem é de fora não vê, por isso defende esses porra aí, não tem desculpa pra esse tipo de coisa, mas é só eles chegar na televisão falando bonito vestido com a porra de uma farda que todo mundo senta e aplaude, esquecendo da criança, família e o caralho a quatro.

Essas porra eu nunca vou entender, e é melhor assim, única coisa que me resta é lutar contra eles pra proteger minha favela, e é isso que eu faço sempre pô, não tem essa de porque eu sou o dono que vou ficar Dboa não, eu meto a cara e se um dia eu morrer, que seja lutando pela minha favela.

Destravo meu fuzil apontando a arma pra quem vem em minha direção, pelo escuro não vejo quem é, então espero um pouco escondido, vejo ser o JV então suspiro deixando o ar de tensão sair pelo ar que eu respiro.

JV: Principal tão segurando mas é melhor descer pra lá - confirmo e vou descendo o morro ao lado dele que também carrega sua arma nas costas, pelo menos até agora não vi nenhum morador nas ruas oque me deixa mais aliviado, eu prezo muito por eles, mas quem tá de fora sempre vai julgar nós pô, disso eu já tô ligado.

Cada vez mais perto de onde está acontecendo realmente o confronto pode-se ouvir os barulhos de tiro se intensificando, quando eles entram é sem hora de voltar, e pra falar a real eu já até me acostumei com eles, em paz eles nunca vão deixar, então ou tu acostuma ou morre, eu escolhi me acostumar e aprender sobre eles, o melhor jeito de derrotar um inimigo é pelo seu ponto fraco.

Chego na principal e passo por cima de alguns corpos mortos no chão, essa a pior cena que se pode ver, bagulho feião mermo, na minha visão nosso lado tá ganhando, mas contar a vitória antes da hora é a pior coisa a se fazer nesses momentos.

Posiciono a arma corretamente em minha mão e começo as rajada de tiro nos filho da puta que quer bater de frente comigo, nessas horas eu não ligo pra muita coisa, apenas no meu morro, sempre fumo um antes de vim pra trocação, mas hoje não, e o motivo é de fuder, tava em um caralho de ligação e esqueci de fumar.

Saindo daqui eu só quero paz, relaxar da melhor forma e curtir pra caralho, não preciso nem falar como, até porque as melhores coisas do mundo pra mim é fuder e fumar, melhor ainda é quando faz os dois ao mesmo tempo, aí sim é uma foda de verdade.

Vou avançando aos poucos, quem eu vejo eu atiro, não posso esperar muito pra mata se não eu quem morro, então o bagulho agora é sagacidade e atenção, o papo é esse, avanço vendo os fardado no chão que me tira um sorriso de lado, antes ele do que nós.

Vem dois na minha direção já atirando pra caralho, teve um tiro que eu até enxerguei achando que ia ser em mim, mas passou reto me tirando um longo suspiro, atiro no primeiro que achou que dava conta sozinho, ele só esquece que eu aprendi a atirar na prática, a melhor forma de aprender é no disispero, ondeou você aprende ou morre, e tamo aí até hoje, sou considerado um dos melhores atirador no mundo do tráfico, pelos meus tiros certeiros sou reconhecido, mas não gosto de me arriscar quando me chamam pra confrontos ajudando outro morro, afinal eu só daria minha cabeça pelo MEU morro.

Depois de algumas horas de trocação insana, já beirando pela madrugada, os canas recuarma por estarem em desvantagem contra nós, sempre é isso que acontecesse, mas mesmo assim eles insistem nisso.

Eu ia direto pra casa, mas resolvi ir na minha mãe ver ela e dizer que tô bem, tô ralado e todo sujo de sangue, porém não é meu, ainda bem que não.

Entro lá vendo ela ajoelhada em seu quarto orando, tenho certeza que por mim e sorrio de lado, se tem uma pessoa que eu dou a minha vida sem pensar duas vezes é ela, só não quero que ninguém saiba disso, se não vão usar contra mim.

-Mãe?- chamo sua atenção que ao ouvir minha voz levanta o rosto imediatamente me olhando e vem me abraçar.

Mãe: Meu filho, você tá bem? Não se machucou não?- ela pergunta eufórica e eu pesso pra que ela se acalme.

-Tô bem mãe, só tô sujo só, a senhora tá bem?

E foi assim que passei minha noite, tomei um banho gelado pra tirar essa sujeira de mim e fui dormir depois de um tempo com a minha mãe, eu preciso de momentos assim com ela.

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•Além Da MarraOnde histórias criam vida. Descubra agora