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VEIGA.
Cansado de olhar pra aquele teto, eu liguei a TV da sala na intenção de me distrair. Mas nada parecia resolver. Minha mãe passou uma semana aqui comigo, ela e o meu pai na verdade, e o Gabe ficou dois dias. Confesso que estava sendo mais fácil com eles por perto, mas eu realmente precisava ficar sozinho.
Faz algumas horas que tô aqui deitado, mas não posso me levantar porque fiz a cirurgia tem apenas quarenta e oito horas, e estou começando a sentir a básica necessidade de ir ao banheiro e simplesmente não consigo.
Fala se não é uma merda essa situação? Eu já rezei, já agradeci por não ter sido pior, mas no fundo o meu coração dói.
Quem faz o que ama entende isso. É como se cortassem suas asas por um tempo, como se nunca mais fosse a mesma coisa. E não é. Eu tenho medo disso, pavor. Mas eu não consigo me ver falando em voz alta sobre. Sabe por quê? Porque parece que os medos aumentam de proporção, parece que a probabilidade cresce e é mais fácil de acontecer.
E convenhamos, eu não quero mostrar pra ninguém que no fim das contas isso mexeu comigo. Se eu tô sofrendo não quer dizer que precisam sofrer comigo.
Saio dessa confusão mental porque tem alguém batendo na porta que eu sei que está destrancada.

– Veiga!

Espero o próximo grito pra confirmar quem é.

– Raphael!

Era a dona Ellen.

– Pode entrar!

A sala não era longe da porta então ela escutou plenamente e entrou no meu apê. Tinha um sorriso no rosto, os cabelos úmidos, uma roupa de moletom e uma sacola em seu braço.

– Que surpresa boa!

Quando eu disse isso, ela sorriu mais ainda.

– Que bom te ver - Ela disse e se aproximou. - trouxe sorvete. Você gosta?

– Todo acamado gosta de sorvete.

– Ei! - Ela riu. - você não é acamado.

– E eu estou o que nesse momento?

– Tá... tá acamado. Mas existe diferença entre repouso e gente que é acamada pra sempre.

– Você tem um ponto - Admiti. - mas agora passa pra cá o que realmente interessa.

– Toma, comilão.

– Eu?

– Você, Raphael! Não me recordo um dia em que saímos que eu não te vi arrumando algo pra beliscar, nem que fosse uma batata.

Soltei uma risada sincera, mas resolvi retrucar só pra ver até onde ela iria.

– Quer dizer que repara tanto em mim assim? - Questionei pegando do sorvete.

– Você se acha, né?

– Bom, você que está dizendo... uau! Isso é ótimo!

– Eu falo apenas a verdade e também compro sorvetes de qualidade.

– Você disse que eu me acho. Então você mente. Mas sim, sua escolha de sorvete é impecável.

– Impecável igual sua casa, né? - Ellen comentou se levantando e andando pela sala. - Uau. Isso aqui é mais arrumado que meu quarto quando eu faço faxina.

– Que exagero!

– Não, não é - Deu risada. - você deve quase infartar por não conseguir arrumar por agora.

– Eu tenho quase infartado por não consegui várias coisas!

Ellen voltou seus olhos pra mim nesse momento e deu um breve sorriso sem jeito.

– Me desculpa.

Quando ela disse isso, entrei em dúvida.

– Pelo quê?

Sem sentimento - Raphael Veiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora