Sem sentimento - Raphael Veiga.

12.2

ELLEN
Ambiente escuro, extremamente silencioso e apenas uma respiração ao meu lado. Raphael dormia tranquilamente, e eu sabia que ele precisava daquilo. Não conseguia adormecer de jeito nenhum, então me contentei em olhar pro teto. Queria muito mexer no celular, mas não queria que ele acordasse com a luz.
Mas foi impossível não mexer quando a tela se acendeu três vezes seguidas em cima do armário ao lado da cama. Quem é que tá me mandando esse tanto de mensagem agora? Deve ser meia-noite.
Decido pegar o celular e sair do quarto. Fecho a porta com cuidado e sigo para a sala, vendo que quem mandava uns áudios era o Scarpa.

"El, como o Veiga tá? Já liguei mil vezes e o cara não me atende... o telefone dele tá no mudo? Quis ir aí, mas no momento não tô podendo, precisei vir na casa da minha sobrinha porque ela tá doente... minha irmã não tinha como levar ela pro hospital sozinha... enfim."

"Ellen, me responde assim que ver? Ver não, né? Ouvir... O Zé que me disse que você tá com o Rapha, depois quero falar contigo sobre algo, tô curioso com umas paradas aí..."

Eu o entendia plenamente. Estava preocupada e olha que estava na mesma casa que o Veiga. Ainda bem que não demorei pra ver essas mensagens.

"Carpinha, ele tá dormindo desde às oito. Tá bem, sabe? Aquele bem... bem meio ruim? Sei lá. Eu trouxe sorvete pra ele, tá chateado, contrariado, pra te dizer a verdade. Aí ele não quis conversar tanto assim como de costume, só pediu pra eu deitar junto e dormiu. E melhoras pra sua sobrinha, viu? Fala que mandei um beijo."

"Pelo amor, sou curiosa, o que você tem pra falar?"

A resposta foi quase de imediato, só deu o tempo dele gravar o áudio mesmo.

"Ah, Graças a Deus! Espero que ele entenda melhor as coisas com o tempo, vou bater um papo assim que chegar em casa... pera, cê deitou com ele??? As coisas tão pra frente aí, hein... Mas enfim, obrigada por dar notícias e brincadeiras à parte..."

"Fica de boa, né nada demais..."

Dei uma risada baixa. Esse cara era uma comédia.

"Vira gente, Scarpa! Deitei do lado dele, afastada porque a cama é bem larga, não vem com besteira pro meu lado..."

"Eu vou infartar, juro!"

"Aguenta até depois! Beijão, vai dormir que já tá tarde menina"

"Banoite, Scarpinhaaa"

Finalizei a chuva de áudios e fui até a cozinha beber uma água. O que é que tem na noite que dá essa sede desgramada?

– Tá acordada ainda? - Ouvi a voz de Veiga, quase me assustei.

– Sim, vim beber uma água - Indiquei o copo. - e você pode andar assim por acaso?

– Ah, vim rápido, não tem problema - Disse passando por mim e abrindo a geladeira.

Ele estava andando devagar por conta da muleta. Mas resolvi ficar na minha. Raphael pegou um gatorade e abriu.

– Bora? - Chamou, bebendo um gole.

– Bora. Acordou do nada?

– É... - Não senti firmeza.

– Tá com dor? - Pensei que pudesse ser isso.

– Também. Mas é que sonhei com o jogo, mó ruim, sêloco!

– Caiu de novo? No sonho.

– Sim, e machuquei mais ainda.

– Caralho, como?