𝐷𝑜𝑖𝑠 𝐴𝑚𝑜𝑟𝑒𝑠

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Meu coração ainda funcionava em descompasso. Uma parte minha sempre achou que amaria apenas o Killian para o resto da vida. Nunca imaginei que outro alguém poderia ocupar um lugar tão grande dentro de mim.

Principalmente um alguém que sequer deveria estar na minha vida, e que entrou nela pelos motivos errados.

Como era possível amar duas pessoas? Ou melhor, como era possível existir dois amores tão grandes e opostos dividindo a mesma pessoa?

Um me puxava para a margem; o outro me mantinha a deriva, lutando para nadar e não afogar de vez.

— No que tanto está pensando?

Virei a cabeça e observei Killian deitado ao meu lado.

Estava quase amanhecendo e as palavras de Nikolay ecoavam na minha mente. Ele estaria me esperando em poucas horas.

— Acordado tão cedo...

— Tive um sonho ruim.

— Você não é do tipo que tem pesadelos.

Ele sorriu e se virou de frente para mim, olhando-me por baixo dos cílios escuros.

— Esses últimos dias foram insanos, Melina. Acho que quanto mais perto estou de conseguir o que quero, mais isso mexe comigo.

— É tão importante assim para você pegar a grana dos Ivanov?

— É muito dinheiro. Mais do que já sonhamos em ter algum dia.

— E isso te cega...

— Não estou cego. Só estou decidido a ter o que tanto almejei.

Levantei a mão e toquei em sua bochecha. Ele fechou os olhos e sorriu. Às vezes eu tinha esse impulso de checar se ele existia mesmo. Em alguns momentos cheguei a cogitar que tudo tivesse sido loucura da minha cabeça.

Mas não foi.

Nada do que Killian fez comigo foi só um devaneio.

Foi tão real quanto as costelas quebradas e o pulso machucado. Tão real quanto as brigas e os xingamentos. Tão real quanto o estupro.

Afastei a mão e me levantei de supetão; enjoada.

— O que foi, gata?

Empurrei os lençóis com força e joguei as pernas para fora da cama.

Cambaleei um pouco antes de conseguir me firmar no chão. A minha visão não estava completamente focada e havia um rebuliço acontecendo dentro do meu peito; tremores que iam enraizando pelos meus braços e pernas.

Fechei os olhos e depois os abri.

Era só a glicose, provavelmente. Eu nem me lembrava da última vez em que tomei a insulina. Esqueci totalmente disso.

Esqueci de mim.

Isso era rotineiro. E só agora percebo.

Eu jamais me esqueceria de algo sobre o Killian. Nunca o deixei sem algum medicamento, caso fosse necessário, e eu cuidava de cada coisinha que ele precisasse; contudo, quando as coisas invertiam, eu fracassava no meu próprio cuidado.

— Killian...

— Melina, o que foi?

Apontei com o dedo trêmulo para o pote transparente que eu havia surrupiado do escritório de Nikolay. Estava cheio de balas de morango.

— Eu preciso de algo doce.

Desabei sentada na cama no mesmo momento em que Killian pulou para o chão, agarrando o pote com rapidez.

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