𝐴 𝐿𝑒𝑡𝑟𝑎 𝑀

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Uma chuva pesada caía quando levantei da cama. Era madrugada de segunda-feira e o meu celular havia vibrado com a chegada de uma mensagem de Nikolay.

Fiquei relendo as poucas palavras que ele mandou enquanto andava pelo apartamento.

Killian estava dormindo profundamente graças ao medicamento que o médico receitou para as dores de cabeça.
E sinceramente achei isso muito bom, porque assim eu poderia organizar os meus pensamentos devidamente.

Não estava sendo nada fácil lidar com tantas coisas ao mesmo tempo.

"Vi que visualizou a mensagem. Porque está acordada, feiticeira?Você deveria descansar."

Afundo os dentes no lábio inferior e me sento perto da janela da sala.

A chuva escorre pelo vidro ininterruptamente e traz consigo uma tranquilidade absurda. Fico hipnotizada observando aquilo até que decido responder.

"Não consigo dormir. Mas e você, não deveria ter embarcado já?"

A resposta veio quase que imediatamente.

"Acabaram de me chamar. Estou indo."

Os três pontinhos ficaram piscando embaixo do nome dele por vários segundos e eu imaginei o que tanto Nikolay tinha para dizer, contudo, a mensagem que chegou foi breve:

"Descanse, Mel."

Soltei o ar devagar, tomada por uma frustração esquisita.

Mandei um emoji, mas a internet já havia sido desconectada.

— O que estou fazendo, meu Deus?! — Balbuciei para mim mesma, apoiando a testa no vidro gelado da janela, tentando entender em que momento eu comecei a perder o controle dos meus sentimentos.

O resto da segunda-feira foi como se tivéssemos voltado no tempo.

Killian ficou a maior parte do tempo concentrado em aprimorar o programa para hackear o sistema do computador de Maxim; e eu me dediquei à comida e a uma faxina das grandes, mesmo que a moça da limpeza tivesse feito um ótimo trabalho no dia anterior.

Acho que no fundo eu só não conseguia ficar parada.

Depois de esterilizar a sala e a cozinha, fui para o nosso quarto e retirei todas as roupas do armário. Até mesmo as malas e as caixas que foram se acumulando com documentos falsos e passaportes se tornaram vítimas do meu desespero por ocupação.

Coloquei uma música nos fones de ouvido e enquanto Lana Del Rey cantava melancolicamente Sad Girl, eu ia emborcando as caixas e separando as papeladas, lendo e relendo os nomes que criávamos para as situações que nos metíamos.

Pergunto-me se nessa coisa de trocar de nomes, acabamos perdendo um pouco de nós mesmos.

Provável que sim.

Apanhei os passaportes e separei, depois foi a vez das identidades e outros documentos. A maioria não serviria mais, então rasguei. Joguei tudo no chão e chutei para o lado, anotando mentalmente que seria melhor queimá-los depois.

Sacudi o corpo lentamente no ritmo da música enquanto lia as anotações que costumávamos fazer sobre as vítimas.
E era impressionante como Killian nunca deixava passar nada.

Suspirei pesadamente e peguei a última caixa. Na verdade, era um pequeno baú que se abriu quando puxei, derrubando alguns cadernos e folhas.

Praguejei e me agachei, juntando tudo.

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