Nikolay tinha menos roupas do que eu poderia imaginar para alguém com o poder aquisitivo dele. Fiquei realmente espantada com os poucos conjuntos de moletons, as camisas, calças e algumas peças sociais que ficavam deliberadamente penduradas em uns cabides no canto do roupeiro.
Arrumei tudo antes até que ele acabasse o banho e me perguntei se ele tinha um closet secreto, porque um homem que frequenta tantos eventos não deve se dar ao luxo de repetir roupas. Se bem que... só de olhar para o quarto dele já dá para notar que o cara vive como se estivesse numa eterna despedida.
Sem rastros, sem identidade. Um Príncipe de Gelo de uma Terra de Ninguém, rumo a Lugar Nenhum.
De repente aquiesci, apoiando-me à sua mesinha.
Passei os olhos pelos livros largados ali e percebi que eram todos russos. Não entendi bulhufas, mas reparei que as capas eram lindas. Fiquei bem tentada a pegar algum, mas acabei desistindo quando notei que havia uma gaita apoiada em cima de um pequeno aparador de vidro, por trás dos exemplares.
O pequeno objeto não era tão leve então o segurei com cuidado após retirá-lo de seu lugar. Virei de um lado para o outro e vi o metal cromado refletir a claridade que entrava pela janela. Era uma gaita linda e elegante.
Estreitei os olhos para ler o que havia gravado nela, mas logo murchei totalmente, porque a porcaria estava em russo.
Que inferno!
— Você é uma criatura muito intrometida.
Virei tão rápido que a gaita quase escapuliu da minha mão, mas por sorte consegui evitar maiores problemas.
— Eu só estava olhando.
— Você estava tocando. E eu não gosto que toquem no que é meu sem a minha permissão. Portanto, devolva-a ao lugar e vá à cozinha buscar meus suplementos. Estou com pressa.
Estreitei os olhos e bufei por entre os lábios entreabertos. Nikolay se abaixou para pegar a roupa que eu havia deixado em cima da cama e depois fez menção a voltar para o banheiro, porém, não me aguentei.
— Eu não sou sua empregada pessoal.
Ele parou abruptamente e se virou devagar. A sobrancelha arqueada como se me desafiasse.
— O que disse?
— Falei que não sou sua empregada pessoal. Sou sua assistente. E arrumar seu guarda-roupa também não estava nas descrições do meu cargo, muito menos ficar carregando sua bolsa enorme e pesada. E se quer os suplementos, então o senhor tem que ir pegá-los. Meu serviço é ajudá-lo com seus compromissos. E isso que está me submetendo desde ontem é um abuso da sua parte! — Meus lábios estavam tremendo quando acabei de falar, mas eu não me arrependia de uma virgula sequer do que disse.
— Bom, a porta da rua é a serventia da casa. Eu não a estou obrigando a ficar com o emprego.
Ri porque estava incrédula demais pra me segurar.
— É isso, não é? O senhor testa os limites dos seus funcionários e os submete aos seus mandos e desmandos sem nem dizer um obrigado sequer. — Guinchei exasperada. — É por isso que ninguém dura. O senhor é mal-educado, mimado e muito, muito folgado. E isso sinceramente ninguém aguenta. Agora eu os entendo.
Só percebi que estava com o dedo apontado em riste para ele e que havia me aproximando da muralha que era seu corpo quando Nikolay empurrou minha mão para o lado, abrindo caminho para que seus olhos glaciais encontrassem os meus.
Posso quase garantir que a pele negra do meu rosto está se tornando vermelha por causa da raiva, mas ainda assim, continuo com o queixo empinando, encarando-o.
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Prometa Para Mim
RomansUm patinador de gelo conhecido por seu péssimo gênio está precisando de uma assistente pessoal e essa vaga cai como uma luva para a golpista mais sorrateira do país, a bela Melina Clarke. Só que o que Melina não sabia era que conseguiria algo muito...