𝐷𝑎𝑛ç𝑎

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Killian está sentado na beirada da cama me olhando.

Vejo seu reflexo pelo espelho enquanto termino de pôr os brincos. Às vezes tenho o ímpeto de mandá-lo sair do quarto, mas nada disso combinaria com o que venho tentando fazer. Não posso simplesmente chutar o balde agora.

O dia havia sido produtivo o suficiente para me deixar confiante.

Passei boa parte da manhã e da tarde sozinha, pondo meus pensamentos e planos em ordem. Não era confiável anotar nada, então criei um palácio mental para acomodar cada um dos meus passos, associando o que eu precisava fazer aos cômodos de um palacete.

Eu tinha aprendido essa técnica em uma das muitas horas que passei na internet tentando descobrir formas de lidar com a ansiedade que não me abandonava.

A técnica consistia em criar um espaço na mente e "mobiliá-lo" com aquilo que desejava se lembrar.
Algumas pessoas usam para estudar, outras, para recoletar dados de algo que por algum motivo poderia ficar perdido com o tempo.

É como guardar cada pedaço de algo em uma parte de determinado lugar; então depois você vai lá e o pega para si, com cada um de seus detalhes intactos.

Essa era a minha caderneta mental. Um sistema que Killian não podia mais invadir.

— Você ficou linda.

Afasto-me do espelho e dou uma olhada no look completo.

O vestido havia mesmo ficado ótimo. Era justo e longo; na parte da frente soava bastante discreto com um decote ligeiramente quadrado, mas as costas se abriam numa fenda profunda, que ia até a base da coluna.

Corri a mão pelo tecido sedoso e ajustei um pouco as alças fininhas, deixando-as mais firmes.

Meus cabelos estavam completamente alisados e penteados para trás, porque optei por usar uma maquiagem forte nos olhos.

Já fazia bastante tempo que eu não me arrumava para mim. Do jeito que eu queria.

Isso era tão estranhamente reconfortante.

— Precisamos ir para não nos atrasarmos.

— Já nem sei mais se eu quero mesmo sair desse quarto. — A risada com a qual completou a frase me fez sentir um calafrio.

Killian ficou de pé e contornou o meu corpo com os braços, mas eu deslizei para fora de suas mãos, fingindo estar concentrada em escolher uma bolsa.

Ele pigarreou e foi até o espelho, endireitando a gravata.

Seu estilo all black de fato combinava com o meu, mas havia algo em Killian que o deixava com um ar de quem estava indo a uma festa da realeza. Talvez fosse a pompa imposta por sua postura impecável, ou a sagacidade em seus olhos esverdeados.

De todo modo, ele destoava de mim como se fôssemos água e vinho. Ou água e óleo, já que jamais poderiam se misturar.

— O fato de a festa ser no jardim da empresa chega a me deixar eufórico. Pensa só: estarei a um passo dos computadores, do cérebro daquele lugar.

— Não acho que teremos acesso à empresa em si.

— Bom, vai ter tanta gente que não podemos desconsiderar. — Ele mostrou rapidamente o pen-drive que estava preso por um cordão de ouro na parte de dentro de seu terno.

— Eu não me lembro de ter te devolvido o pen-drive que levei aquele dia para a mansão.

— E não devolveu. Mas eu tinha o programa neste também. Por precaução.

Prometa Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora