𝑃𝑢𝑙𝑠𝑒𝑖𝑟𝑎

65 16 107
                                    

Retorço repetidamente o tecido do meu vestido entre os dedos enquanto busco as palavras certas para falar, mas não importa o quanto eu tente, nada vai limpar a mancha que existia no começo disso tudo.

— Você sabe que eu tinha um relacionamento com o Killian antes mesmo de sairmos do orfanato.

— Sim, você me disse.

— Bom, quando... — Pigarreio, limpando a garganta. — Quando ele saiu e prometeu que me esperaria, parecia que eu finalmente tinha para onde ir, além dos muros daquele lugar, entende? Eu tinha uma perspectiva, por mais complicada que pareça agora. Mas na época era tudo o que eu tinha para me agarrar.

— E imagino que ele só usou isso contra você.

— O Killian me falou que estava em um bom serviço, inclusive arrumou um estágio para mim, mas eu... Nikolay, eu juro que não sabia até o momento o que de fato ele fazia com as coisas que aprendia na empresa sobre tecnologia e tal. Eu juro!

— Melina, aonde você quer chegar com isso?

Esfrego a testa úmida com a palma da mão e solto o ar de forma entrecortada, por causa do choro entalado.

Me desespera saber que terei que contar isso para ele. Logo para ele. E logo neste momento.

— Nikolay, o Killian sempre foi o tipo de pessoa que achava que a vida devia algo a ele, que era uma injustiça tremenda que ele vivesse daquele modo, sendo que milhares de outros cretinos podiam usufruir de fortunas exorbitantes e vidas luxuosas. Ele tinha e tem genuíno ódio disso. Algo dentro dele nunca mediu esforços para acabar com tudo isso, e de repente esse algo assumiu o controle, completamente fomentado pela sua inteligência no que diz respeito à tecnologia.

— E...?

— E eu entrei nessa com ele.

Nikolay franziu o rosto instantaneamente e abanou a cabeça; confuso.

— Entrou? Mas...

— O Killian e eu já rodamos muitos países aplicando golpes e esvaziando contas. Ele... ele ficava com a parte burocrática, e eu tinha que, bom, eu... Eu conversava com os homens, entrava em suas vidas e praticamente abria as portas para que ele pudesse concluir as coisas.

Uma risada nervosa escapou de Nikolay e ele esfregou a nuca, afastando-se um pouco.

Fechei as mãos em punho ao redor do meu corpo, incapaz de mover um músculo sequer.

Desejei morrer ali mesmo. A vergonha me consumia.

— Nikolay, eu juro que...

— Você entrava na vida desses homens exatamente como entrou na minha? Era assim? Esse era o seu plano?

— Não! Quer dizer, no início, sim. Mas eu não fazia ideia de quem você era.

— Então você não sabia? Não soube nada até... até ontem? Ele te usou, foi isso? O Killian... ele...

— Se a sua dúvida era que se eu sabia sobre o golpe que ele queria aplicar na sua família, então sim, eu sabia. Eu soube desde o início, mas antes, antes de ele escolher vocês... E-eu... Nikolay, eu achava que era só mais um daqueles ricaços que ele...

Levo as mãos à cabeça quando ele exala com força pela boca e ri de novo, dessa vez transtornado, vestindo-se de gelo, como quando nos conhecemos.

Nikolay abanou as mãos como se desejasse apagar tudo, mas nós dois sabíamos que não era possível.

— Melina, eu sei que errei ao esconder sobre o meu tumor, e eu sei que fui um filho da puta com as pessoas que se preocupavam comigo, mas agora estou pagando feio por isso. Eu perdi a minha carreira, a confiança dos meus patrocinadores e posso afundar quem não tem nada a ver com isso. Mas... ainda assim, eu pensei que... que eu tinha algo. Algo de bom. Algo que me amava, que...

Prometa Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora