𝐵𝑎𝑙𝑎 𝑑𝑒 𝑀𝑜𝑟𝑎𝑛𝑔𝑜

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𝑁𝑖𝑘𝑜𝑙𝑎𝑦

Algumas pessoas vivem querendo espiar atrás das cortinas, outras não se aguentam e vão lá e fazem isso; empurram a cortina, apuram a visão e observam com surpresa a realidade por trás daquilo que lutou tanto para ficar escondido.

Comigo foi assim. Ainda muito novo eu vi por trás das cortinas. Ou melhor, por trás da porta do quarto dos pais. Espiei o que apenas as paredes viam e entendi que nem sempre é bom ser atrevido. Contudo, eu não me arrependo de ter tirado a máscara do meu pai.

Aquela foi a última vez que ele bateu na minha mãe.

E foi a última vez também que eu o vi como pai, como herói, como um exemplo. Só era uma pena que diferente de mim, minha mãe o tenha perdoado.

Por isso, enquanto abraço Melina mesmo sabendo que é um erro, não consigo acreditar em suas palavras.
Eu não sou burro; eu já vi o olhar da vítima de um monstro abusador. E era aquele olhar que surgia no rosto de Melina quando falava do tal namorado.

— Não. — Ela balbucia com dureza, desvencilhando-se de mim. — Isso não está certo.

Deixo que ela escapula dos meus braços e tomo distância.

— Há mais coisas aqui que não são certas, Melina.

— Você está julgando sem nem saber das coisas direito. — A sua famigerada armadura se ergue e eu me reconheço naquilo. É o que mais venho fazendo. — Por favor, Nikolay, vamos nos manter em nossos devidos lugares. Então, não se meta no meu namoro.

Eu queria ficar irritado com seu tom enervado e a empáfia que simula para me convencer de sua força, mas não consigo. Porém, tampouco acho que poderei mudar algo com insistência. Além do mais, a garota está claramente cega; só não sei se é pelo medo ou amor.

— A escolha é sua. — Falei e apontei para o corredor. — Vamos, eu não posso me atrasar para a fisioterapia.

Melina assentiu rapidamente e passou na minha frente, enxugando as lágrimas com a manga do casaco.

Encarei suas costas enquanto a seguia e me perguntei se deveria mesmo mantê-la ao meu lado. Talvez estar perto de mim a prejudique ainda mais. Contudo, também não posso deixá-la sozinha. Não enquanto eu não souber direito dessa história.

𝑀𝑒𝑙𝑖𝑛𝑎

Eu me sentia meio entorpecida sentada no banco de trás do carro de Nikolay. Não me atrevi a olhá-lo e me concentrei nas mensagens que Killian estava me enviando freneticamente. Ele parecia acelerado, talvez nervoso, e se declarava a cada linha que mandava, agradecendo também os cuidados na noite anterior.

Acho que nunca o vi tão apaixonado. Me dói agora perceber que desabei nos braços do meu chefe. Sempre guardei minhas fraquezas e lágrimas para chorar nos braços do meu namorado e jamais consegui demonstrar esse tipo de coisa para outra pessoa. E me assustava o fato de como foi fácil simplesmente me consolar com Nikolay. Fácil e bom.

A cada vez mais me convenço de que não me reconheço. Algo está errado. Eu sou um puta de um problema que só piora. Sempre foi assim e pelo visto sempre será.

Ao invés de considerar o pedido de casamento do meu namorado e retribuir seu amor, eu caio nos braços de outro?
E ainda dei margem para Nikolay ver Killian como vilão.

Ele não merece isso.

— Volto rápido, senhor. — A voz de Conrad, o motorista, me trouxe de volta.

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