CAPÍTULO 54

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CAROL GATTAZ ON

As consequências de um desastre natural são sempre as piores que se pode imaginar. Não tem conforto em hora de desespero, não tem palavras bonitas e muito menos a necessidade de uma batidinha nas costas e a frase "vai ficar tudo bem". Muitas vezes não fica, e o ser humano necessita de cair nessa realidade.

Gattaz: quantas horas já estamos aqui?

Brait: estamos indo pra 5 horas de cirurgia. -falou-

Gattaz: como estão os batimentos?

Brait: saturação em 85%, batimentos controlados.

Rosamaria: Carol já foram 4 bolsas de sangue. -falava contando as gases enquanto as tirava do peito da Júlia-

Apenas concordei com a cabeça sem expressar uma palavra sequer. Segui ali, com cautela, atenção e com uma pose de superior que eu não sei de onde tive forças para tirar. Os meus movimentos eram friamente calculados e eu não me importava nem um pouco se estava sob o olhar atento da Rosamaria e da Brait. Quando o relógio marcou 7 horas e 34 minutos de cirurgia, eu respirei fundo, estiquei minha coluna e larguei os instrumentos.

Gattaz: Podem fechar e levar direto pra UTI com monitoramento 24 horas. -falei friamente e retirei minhas luvas jogando em cima da bacia com os instrumentos-

Saí do centro cirúrgico com a vista já um pouco mais embaçada. Depois de tanta preocupação e luta para não perder a Júlia, eu me permiti sentir de fato, tudo aquilo que estava acontecendo. Quando eu abri a porta da sala de cirurgia para poder sair, encontrei Thaisa, Sheilla, Macris, Daroit e Léia sentadas no chão, algumas cochilando e outras em pé mexendo no celular. Automaticamente elas abriram os olhos e me encararam esperando que eu desse algum indício, alguma resposta para todas as dúvidas que estavam ali no momento. Mas, diferente de tudo o que planejei, o meu coração se sentiu em casa e seguro o suficiente para se permitir soltar toda a sua angústia. Dei dois passos para o lado em busca do ar que estava me faltando. A angústia foi alcançando minha garganta e o choro que já estava guardado a algum tempo foi dando lugar a um imenso desespero. Encostada na parede, fui deslizando perdendo as forças das pernas e quando já estava no chão esperando apenas o meu momento de me afundar naquele piso gelado, afundei meu rosto entre minhas pernas e chorei tudo o que jamais pensei em chorar na vida. Thaisa se agachou em minha frente enquanto mantinha uma mão em meu joelho e a outra em meus braços fazendo um carinho de conforto. Um pouco mais de 5 minutos naquele desespero emocional, me sentindo completamente vulnerável e exposta, Daroit surgiu com um copo de água na minha frente.

Léia: você precisa descansar um pouco, você está em pé há mais de 8 horas. -colocou uma toalha molhada em meu pescoço enquanto eu soluçava de chorar-

Thaisa: Caroline, olha pra mim, sei que você não tá legal, mas você precisa se reerguer. -eu bati a cabeça com força na parede enquanto chorava-

Sheilla: EI -gritou- quer ir pra uma sala de cirurgia comigo por traumatismo craniano? -a porta da sala de cirurgia abriu e Rosamaria saiu lá de dentro-

Thaisa: ela não tem condições de permanecer aqui. -falou com a Rosa que concordou- Leva ela pra casa.

As meninas conversavam entre si e minha cabeça zumbia como se não houvesse absolutamente nada dentro dela. Eu via as pessoas passar e me encarar procurando saber como eu havia chegado naquele estado catatônico.

Gattaz: eu vou pegar meu carro e vou pra Rio preto. -falei me levantando-

Macris: você não vai pra Rio preto coisa nenhuma. -me segurou e me fez sentar novamente no chão- Você é perturbada se acha que vamos deixar você pegar a direção do carro. Tu não vai dirigir nem pra ir pra sua casa quem dirá pra ir pra Rio preto.

Give Water to the Wine - 2ª TEMPORADA Onde histórias criam vida. Descubra agora