Capítulo 27 - It all fell down

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Noah Jacob Urrea
11 de julho
Nova York

Nosso cérebro tem um mecanismo para os casos de perigo. Chama-se mecanismo de fuga e luta. Essa resposta fisiológica prepara o nosso corpo para lutar ou fugir de uma ameaça. Aumento da sudação, aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial e dilatação das pupilas, a adrenalina correndo no sangue tudo isso para que sejamos capazes de sobreviver. É engraçado ver como dentro de nós há sempre uma chavinha pronta para ser rodada para que possamos desempenhar certas funções.

Noah sempre achou que essas questões eram bobagens, afinal, como poderíamos prever se estávamos em perigo ou não? Não faz sentido. Até que um dia fez. Ele se lembra exatamente o dia em que tudo fez sentido, a primeira vez que ele sentiu aquela descarga de adrenalina invadindo cada pedaço do seu corpo, as mãos suando e as pupilas nervosas dilatadas e frenéticas para acompanhar tudo que estava acontecendo. Na época, era excitante, divertido, ele se sentia como uma criança que tinha, pela primeira vez, sido bem sucedida em pegar um doce que tanto queria escondido dos seus pais. Ele ria, vibrava, colocava parte do corpo para fora da janela e gritava a plenos pulmões sentindo o vento bater no rosto, se sentindo tão energizado e livre como nunca antes.

Mas aquele era só um adolescente estúpido fazendo coisas estúpidas, sem ter noção das consequências que elas trariam. Do preço que ele pagaria.

Ali, sentado no banco de couro caro daquela SUV, com uma tensão no ar que era tangível, indo em direção ao perigo, ele se deixou devanear sobre tudo que o levou aquele momento. Talvez tivesse começado quando ele esbarrou em Joshua Beauchamp em uma noite escura em Boston... não, não, começou muito antes. Tudo começou há quase dez anos atrás no Rio de Janeiro. Começou quando ele, Any e Bailey, três crianças que queriam um pouco de emoção em suas vidas foram aonde não deveriam ter ido. Começou com um garoto de pele chocolate que tinha um sorriso lindo e um coração gentil apesar das coisas que fazia para sobreviver, o puxou pela mão e o beijou apaixonantemente. Começou quando seis jovens inescrupulosos decidiram assaltar uma lojinha, e então um banco. Começou quando o garoto lindo de pele chocolate morreu em seus braços porque ele tomou uma decisão impensada, quando sua melhor amiga fugiu às pressas do país para não ser presa, e o seu melhor amigo viu a garota que ele amava ser alvejada e todo seu futuro brilhante sumir diante de seus olhos.

A expressão assustada com olhos arregalados e sem vida dele ainda estava viva em sua memória.

Noah prometeu a si mesmo e aos seus pais que não se meteria mais em confusões, ele seguiu em frente mesmo com toda a culpa e arrependimento que pesava em seus ombros porque não havia mais nada que pudesse fazer. Mesmo quando seus pais o deixaram, ele continuou a seguir. Até que um dia o perigo o encontrou novamente, e nesse momento, sentado naquele carro, ele percebeu que tudo isso parou de ser emocionante. Era aterrorizante. Ele não era mais um adolescente idiota e inescrupuloso querendo sentir uma descarga de adrenalina, e ele não podia se dar ao luxo de pensar que era. Ali, naquele momento, Noah percebeu que não era mais uma questão de diversão, mas de sobrevivência.

Ele ergueu os olhos para o retrovisor e o seu olhar encontrou com o de Any sentada no banco do passageiro. Ela sorriu para ele, um sorriso tão extenso e feliz que contrastava totalmente com a tensão do momento. Como se eles estivessem indo apenas para um passeio. Noah desviou o olhar para Bailey ao seu lado, que estava distraído olhando a rua caótica pela janela fechada, e segurou sua mão, entrelaçando seus dedos nos dele. O filipino se virou lentamente e encarou as mãos unidas como uma só. Noah queria lembrá-lo que ele ainda estava ali por ele, que cuidaria dele, que o protegeria, que faria o possível para que os três ficassem bem.

Conforme se aproximavam do Empire State Building, a imponente estrutura se destacava contra o céu noturno, suas luzes brilhando como um farol de desespero. Josh desacelerou o carro até pararem na frente do edifício. Noah observou enquanto ele desligava o motor do carro com uma calma perturbadora, como se não estivesse com pressa nenhuma para entrar. Ou talvez ainda fosse o efeito das drogas em seu sistema que haviam o deixado um pouco lento. Seus olhos encontraram os azuis através do espelho; Josh o encarou por alguns instantes, o olhar intenso perfurando sua alma, mas não demorou muito mais, desviando-o para longe. Josh saiu do carro, e os outros três seguiram atrás dele, em silêncio.

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