Capítulo 17 - I'm out of here

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Noah Jacob Urrea
23 de junho
Nova York

No raiar do dia, com o sol entrando pelas cortinas de linho brancas, Noah abre os olhos e mira o lustre de cristal tilintando graças ao vento suave que adentrava o quarto. Flashes da última noite invadiam sua mente, fazendo lágrimas queimam como ácido em seus olhos esverdeados, corroendo a frágil mente enquanto ele tentava  entender o que havia acontecido na noite anterior. Em que momento tudo tinha dado tão errado em sua vida? O eco dos sussurros ainda ressoava em seus ouvidos, como um lamento eterno ecoando nos recantos mais sombrios de sua mente dilacerada. Cada toque indesejado, cada arrastada de lábios sobre a sua pele, o cheiro do perfume desconhecido incrustado em sua pele, é uma ferida aberta, uma lembrança cruel do que poderia ter sido arrancado se Josh não tivesse aparecido. 

Josh... oh, Deus!

O homem que apareceu em sua vida de forma tão inesperada quanto quando alguém aponta uma arma carregada para você no meio da rua. Aquele homem de olhos tão gelados e sombrios e sorriso maldoso e sarcástico que o fez sentir como era estar vivo novamente, como era sentir de novo a adrenalina correndo em suas veias e toda a emoção que isso trazia. O homem que o fazia sentir tanta raiva mas também tanta paixão e tanto desejo, o homem que o incendiava de dentro para fora. 

Ele mal conseguia manter os olhos abertos na noite passada, mas ele podia jurar que quando Josh entrou naquele quarto, seus olhos queimavam de um jeito que ele nunca tinha visto antes. Os olhos estavam cheios de horror e uma sombra macabra dançava naquele azul gélido. Era assustador. 

Noah despertou dos seus devaneios ao ouvir uma batida na porta. Os olhos arregalaram de medo e o coração se desesperou dentro do peito.

— Noah? 

A voz grave de Josh foi ouvida do outro lado da madeira. Noah fechou os olhos, aliviado. O que é totalmente irônico considerando que Josh é a última pessoa no mundo na qual ele deveria confiar ou ficar aliviado ao ver, mas, depois da noite passada, ele merece mais do que um voto de confiança de sua parte. 

Ainda assim, ele não fez nenhum movimento para se levantar e ir até ele.

— Espero que você esteja acordado, caso contrário esta conversa será bem constrangedora. — Ele retorquiu com humor. Quase dava para ver o sorriso zombateiro. — Tem dois soldados, um de cada lado da sua porta com ordens de não falar, não olhar, e não deixar ninguém entrar no seu quarto em hipótese alguma — disse calmamente. — Vou deixar uma sacola com roupas na frente da porta, pode pegar quando quiser. Quando você estiver pronto para sair, e se estiver com fome, eles te levarão ao restaurante do hotel para você almoçar. Eu estarei te esperando na recepção.

Noah respirou fundo, sentindo o peso de cada batida do coração ecoar em sua mente tumultuada. A voz de Josh, embora carregada da zombaria habitual no começo, trouxe uma sensação de familiaridade que ele não esperava, e uma sensação diferente de tudo que ele já tinha sentido. Talvez fosse a fragilidade na qual ele se encontrava agora, mas era bom sentir que tinha alguém se importando em cuidar dele. 

Com um esforço doloroso, ele se ergueu da cama, os músculos protestando contra o movimento. Cada passo era uma batalha contra o pânico que o consumiam por dentro, mas ele se recusou a ceder ao desespero que o ameaçava engolir. Ao se aproximar da porta, Noah sentiu uma onda de ansiedade ao vislumbrar as sombras dos soldados postados do lado de fora. Ele engoliu em seco, tentando disfarçar o tremor que ameaçava dominar seu corpo, e estendeu a mão trêmula para girar a maçaneta, abrir apenas uma fresta para pegar a sacola de roupas deixada por Josh e fechar novamente. 

As roupas eram de uma marca cara, e de acordo com a notinha foram compradas esta manhã. Ele olhou com nojo para as próprias roupas que ainda estavam em seu corpo. A camisa estava rasgada em alguns pontos, havia algumas manchas pequenas de sangue, e pareciam estranhas e desconfortáveis em sua pele. Ele precisava desesperadamente de um banho.

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